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Massacre de Paraisópolis completa 5 anos, e protesto cobra punição de PMs

do UOL

Do UOL, em São Paulo

01/12/2024 17h58Atualizada em 01/12/2024 19h05

"Como esses policiais encurralam pessoas em uma viela, os asfixiam, matam nove jovens e ficam impunes?", questiona Maria Cristina Quirino, mãe do adolescente Denys Henrique, morto aos 16 anos em 1° de dezembro de 2019 no que ficou conhecido como "Massacre de Paraisópolis". Ela foi uma das organizadoras do ato realizado neste domingo (1º) em memória do filho e de outras oito pessoas entre 14 e 23 anos assassinadas durante o baile funk da DZ7, no bairro da periferia de São Paulo, há cinco anos.

Doze policiais militares viraram réus por homicídio doloso eventual (quando se assume o risco de matar). Eles respondem em liberdade e, até agora, nenhum deles foi ouvido. A previsão é que isso aconteça em 2025. Caso a Justiça decida que há indícios do crime, os réus vão a júri popular.

"Cruzo com os assassinos do meu filho em todas as audiências. Eles com uniforme da polícia. Sequer foram afastados. Toda vez que falo disso, passo mal", diz a dona de casa Evanira Aparecida da Silva, 56, mãe de Eduardo Silva, 21. "Sinto que se houvesse uma punição, minha dor diminuiria. Mas não tenho esperança."

Local do ato foi barrado pela polícia

A reportagem acompanhou a manifestação que ocorreu nas imediações do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado no bairro do Morumbi.

mãe - Camila Brandalise/UOL - Camila Brandalise/UOL
Mãe de Denys Henrique, um dos jovens mortos no massacre, Maria Cristina questiona letalidade das ações policiais
Imagem: Camila Brandalise/UOL

O plano inicial da organização era realizar o ato em frente à entrada do palácio, mas a Polícia Militar fechou a avenida que dava acesso ao local. O UOL procurou a assessoria da PM sobre o bloqueio e aguarda resposta. O espaço segue aberto para posicionamento.

Mesmo com a via fechada, mães, pais, amigos e familiares que falaram ao microfone durante a tarde do domingo cobraram a responsabilidade do governo do Estado, além da punição dos policiais.

"A polícia mata porque está autorizada a matar por quem está lá dentro", diz Carla Magalhães, 45, apontando para o prédio que também é moradia do governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A outra mão, tremendo, segurava o microfone.

Em diversos momentos, familiares paravam seus discursos para chorar. Mesmo depois de encerrar a fala, continuavam tremendo, e eram amparados por outros presentes.

'A gente não queria estar aqui hoje'

A manifestação pelo massacre reuniu familiares e amigos de vítimas da polícia em outras situações.

A enfermeira Deusa Cordeiro, 58, era uma delas. O filho, Thiago, foi morto com quatro tiros a 500 metros da porta de casa. "Alegam que ele quebrou o vidro do carro pra roubar, mas fizeram vídeo dele apanhando. Ele tomou tiro nas nádegas."

Deusa - Camila Brandalise/UOL - Camila Brandalise/UOL
Vestindo camisa com foto do filho, Deusa Cordeiro cobrou justiça para Thiago
Imagem: Camila Brandalise/UOL

O número de mortos pela PM paulista cresceu 78% neste ano. Entre janeiro e agosto de 2024, 441 pessoas foram assassinadas no estado por agentes das forças de segurança em serviço nos primeiros, contra 247 no ano passado no mesmo intervalo. Os números são de levantamento do Instituto Sou da Paz divulgado em outubro.

Quando as vítimas são pessoas negras, o aumento foi de 83%. Os números indicam, ainda, que dois entre três assassinados pela corporação são negros.

"A gente não queria estar aqui hoje. Queria estar em casa com a minha família, mas não. E o que temos como resposta? Audiências. A gente está vivendo da maneira mais angustiante possível", disse a doméstica Adriana Regina dos Santos, 52, mãe de Dennys Guilherme. "Não quero vingança. Quero justiça."

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Adriana Regina dos Santos (com microfone na mão), mãe de Denys Guilherme, diz que não quer vingança: "Quero justiça"
Imagem: Camila Brandalise/UOL

Na sexta-feira, foi lançado o site www.os9queperdemos.com.br. Lá, há detalhes do caso de Paraisópolis e é possível fazer denúncias de violência policial.

Outro lado

A defesa dos PMs que se tornaram réus por envolvimento no massacre afirma que "não há evidência direta ou indireta" de culpa. Em nota, o advogado Fernando Capano, que representa oito dos réus do caso, afirmou que "as mortes daqueles jovens ocorreram apesar da ação policial e não em razão dela". Ele alegou que os agentes estavam "no exercício de controle e dispersão de grande distúrbio" na ocasião.

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