Premiê francês descarta taxa de luz em meio a ameaça de voto de desconfiança da extrema-direita
Por Sudip Kar-Gupta e Leigh Thomas
PARIS (Reuters) - O primeiro-ministro da França, Michel Barnier, abandonou nesta quinta-feira o projeto de elevar os impostos sobre a eletricidade no orçamento de 2025, cedendo às ameaças da extrema-direita de derrubar o governo caso ele não aliviasse o fardo fiscal sobre as classes trabalhadoras.
O partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN), contudo, alertou que a mudança não é suficiente para evitar um voto de desconfiança já na próxima semana.
O governo de Barnier esperava arrecadar cerca de 3 bilhões de euros com o aumento da taxa sobre a luz, que havia sido reduzida a quase zero durante a crise energética dos últimos dois anos. A medida fazia parte de um esforço mais amplo para tapar um enorme rombo nas contas públicas, com 60 bilhões de euros em aumentos de impostos e cortes de gastos.
Mas a oposição generalizada aos planos orçamentários na esquerda e na extrema-direita deixou o primeiro-ministro e o governo do presidente francês, Emmanuel Macron, em situação de só ter o que perder: moderar as ambições fiscais do orçamento e ameaçar a estabilidade financeira da França ou enfrentar um voto de desconfiança.
Os investidores estão nervosos. Um grande movimento de venda levou os títulos do governo francês na quarta-feira ao seu maior prêmio de risco em relação aos alemães desde a crise da dívida da zona do euro, em 2012, antes de se recuperarem um pouco nesta quinta-feira.
"A Reunião Nacional acaba de vencer ao obter de Michel Barnier o cancelamento do imposto de 3 bilhões de euros sobre a eletricidade", escreveu o presidente do partido, Jordan Bardella, na rede social X. "Mas não podemos parar por aí. Outras linhas vermelhas permanecem."
Nos últimos dias, a legenda reiterou quais eram as "linhas vermelhas" do orçamento de Marine Le Pen, incluindo os planos do governo de atrasar a indexação das aposentadorias à inflação e a reformulação das contribuições previdenciárias das empresas.
O ministro das Finanças, Antoine Armand, havia dito que o governo estava pronto para fazer "concessões calculadas", alertando que a não aprovação do orçamento poderia causar uma tempestade nos mercados financeiros.
O governo de minoria de Barnier pode não sobreviver além da próxima semana, quando provavelmente será forçado, na segunda-feira, a usar um poder constitucional especial -- conhecido como artigo 49.3 -- para aprovar o orçamento da previdência social sem uma votação parlamentar, devido à falta de apoio.
Isso já traria por si só uma moção de desconfiança. "Hoje é quinta-feira. (O primeiro-ministro) tem até segunda-feira", afirmou a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, ao jornal Le Monde.
A opinião pública está dividida sobre o futuro de Barnier. Cerca de 53% dos franceses querem a sua queda, segundo uma pesquisa Ifop-Fiducial feita para a Sud Radio e publicada nesta quinta-feira. No entanto, uma sondagem Elabe para a BFM TV, na quarta-feira, mostrou que mais da metade dos entrevistados acredita que um voto de desconfiança para destituir o governo deve ser evitado.
Le Pen e o RN defenderam o seu direito de derrubar o governo. O bloco esquerdista também sinalizou que tem planos de destituir a administração Barnier.
Em entrevista nesta quinta-feira, o ex-presidente François Hollande, atualmente um parlamentar do Partido Socialista, afirmou que votaria para derrubar o governo se Barnier usasse o artigo 49.3.