Topo
Notícias

Pacote fiscal gera frustração e pode elevar juros, dizem analistas

do UOL

Do UOL, em São Paulo

28/11/2024 12h58

O possível efeito positivo das medidas de ajuste fiscal foi anulado pelo anúncio conjunto da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, segundo analistas de mercado ouvidos pelo UOL. Com isso, o dólar superou a marca dos R$ 6 nesta quinta-feira (28). As medidas foram anunciadas na quarta (27) em pronunciamento do ministro Fernando Haddad e detalhadas nesta manhã.

Anúncio conjunto gerou frustração

A forma como o anúncio foi feito gerou frustração no mercado. A avaliação de analistas é de que as medidas de corte anunciadas não foram ruins. Mas a forma como o anúncio foi feito, em conjunto com a proposta de isenção de imposto de renda, gerou uma reação negativa no mercado, avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Gerou frustração. Não pelas medidas, mas a maneira pela qual o governo comunicou, somada ao atraso no anúncio, provocou uma completa aversão a risco. A impressão que dá que eles não entenderam nada.
Matheus Spiess analista da Empiricus

Ganho de bem-estar no mercado foi perdido com o anúncio conjunto de isenção de Imposto de Renda. Para João Pedro Leme, analista de contas públicas da Tendências Consultoria, "todo ganho de bem-estar foi jogado no lixo pelo timing para falar de isenção de Imposto de Renda". "É importante aumentar a progressividade do imposto, mas o tema poderia ser trazido em melhor momento", diz.

Dólar e juros futuros subiram. Com as incertezas geradas pelo anúncio da isenção, o dólar superou os R$ 6 nesta quinta-feira e os juros futuros (contratos que definem a taxa de juros esperada no futuro) tiveram um salto, chegando perto dos 14% ao ano. Antes do anúncio, a expectativa era de que as medidas de corte de gastos pudessem aliviar o câmbio e as expectativas em relação aos juros.

Possível aumento dos juros

Efeito pode ser de uma alta ainda maior nos juros. Com isso, Spiess avalia que pode-se esperar mais aumento dos juros, em um momento de transição na presidência do Banco Central. Em janeiro, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo, assume o comando da autoridade monetária.

Anúncio evidencia conflito entre a área econômica e a ala política do governo. Para Leme, da Tendências, a forma como o anúncio foi feito evidencia um embate entre a ala econômica, representada por Haddad, e a ala política, representada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.

Isso é natural da política, e a defesa da pauta do Rui Costa não é ilegítima. Mas a gente não pode fingir que não tem um efeito prático. E o efeito é que o governo apresenta um pacote de medidas e o mercado já fica calculando quando ele vai precisar apresentar medidas complementares.
João Pedro Leme, analista de contas públicas da Tendências Consultoria

O que o mercado achou das medidas?

As medidas de corte de gastos são positivas, mas há dúvidas se serão efetivamente cumpridas. Uma dúvida é se elas trarão o corte necessário até 2026, avalia Leme. "As medidas têm o espírito correto, mas não são muito estruturais. E, aquelas que são, não trazem a economia quando necessário", diz.

Alguns pontos não terão efeito significativo no curto prazo. Leme argumenta também que medidas como a que mexe na aposentadoria dos militares não terão efeito imediato. Uma das medidas propostas é a definição de idade mínima de 55 anos para aposentadoria de militares. "A economia gerada vai se materializar muito no futuro, quando essas regras forem prevalentes", diz.

Gastos com saúde e educação ficaram de fora. Os gastos com saúde e educação não entraram nas medidas de corte de gastos, o que frustrou o mercado, ainda que já se soubesse que havia poucas chances desses gastos serem afetados, diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. "Ficou uma percepção de que as linhas de gastos que precisam ser endereçadas e têm evolução definida em lei não estão no pacote", diz.

Medidas precisam passar pelo Congresso sem grandes alterações. Um dos pontos de atenção para analistas é que as propostas precisam ser aprovadas pelo Congresso de forma rápida e sem grandes mudanças, a fim de gerar a economia desejada.

Haverá dificuldade em aprovar medidas para compensar a isenção do Imposto de Renda. O Congresso deve se sentir pressionado em aprovar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, uma vez que essa é uma medida popular, avalia Borsoi. A dificuldade será aprovar as medidas propostas para compensar a perda de arrecadação, dentre elas a taxação de quem ganha mais de R$ 50 mil e a tributação de dividendos.

Notícias