Mappin, Mesbla, Arapuã: Por que grandes lojas quebraram tanto no Brasil?
Há uma série de grandes lojas que ainda estão na lembrança dos brasileiros que viveram no século 20. Atualmente, crises como a das Americanas, em 2023, ou a repercussão do caso Carrefour, nesta semana, fazem lembrar de megalojas brasileiras que quebraram, especialmente nos anos 1990 e no começo dos anos 2000.
Por que tantas lojas gigantes quebram?
Os problemas de ontem e hoje das gigantes do varejo são parecidos: má administração e a concorrência com empresas especializadas, diz Roberto Kanter, economista do Centro de Excelência em Varejo da FGV.
O varejo olha para muita coisa: fluxo de caixa, estoque, atendimento ao cliente. Essa combinação muitas vezes não dá o resultado necessário.
Roberto Kanter, economista da FGV, ao UOL, em 2023
Em linhas gerais, foi o que aconteceu com as megalojas abaixo.
Mappin
Fundado em 1913, em São Paulo, o Mappin foi uma das primeiras redes de varejo a oferecer crediário no país.
Nos anos 1990, a empresa cresceu mais que o esperado, o que produziu descontrole contábil interno.
Em 1995, a rede anunciou que tinha uma dívida de quase R$ 20 milhões.
Em 1996, o Mappin foi vendido por R$ 26 milhões para o empresário Ricardo Mansur.
Mansur tentou transformar o Mappin em uma rede de franquias, com a previsão de abertura de 40 lojas em todo o Brasil.
A estratégia não deu certo e, em 1999, antes de falir, o Mappin tinha uma dívida de R$ 1,2 bilhão.
Mesbla
Filial de uma loja de departamentos francesa, chegou ao Brasil em 1912.
Vendia praticamente tudo: móveis, roupas, utensílios domésticos e até perucas.
Essa variedade permitiu à Mesbla destaque entre as concorrentes por oito décadas.
Os problemas começaram com o surgimento de empresas especializadas em um setor, como tecnologia ou móveis, e do aumento no número de shopping centers.
O fim da empresa veio com uma aposta que se provou errada: para lidar com a hiperinflação, a empresa estocava mercadorias em excesso, antecipando-se a um possível aumento de preços.
Com o Plano Real, a inflação foi estancada e trouxe prejuízos irreparáveis para a companhia.
A Mesbla chegou a ser comprada também por Ricardo Mansur, mas decretou falência em 1999.
Ultralar
A empresa foi fundada em 1956 como um braço da Ultragaz, que até hoje vende gás de cozinha em botijões.
As lojas Ultralar nasceram com o propósito de aproximar os brasileiros dessa tecnologia, vendendo fogões a gás e incentivando o consumo do então produto inovador.
O crescimento foi tanto que, em 1974, abriu seu primeiro hipermercado, o Ultracenter Ultralar.
Na década de 1990, o grupo começou a fechar empresas que não tinham relação com o negócio principal (distribuição de gás e petroquímica).
Com isso, a marca foi vendida para o Grupo Susa Vendex e, anos depois, vendida novamente para o empresário Paulo dos Santos.
No final dos anos 1990, a empresa começou a enfrentar a concorrência de lojas especializadas e não conseguiu se modernizar.
Sem espaço no mercado, a empresa encerrou suas atividades no começo dos anos 2000 e teve seus pontos de venda comprados pelas Casas Bahia.
Arapuã
As Lojas Arapuã foram uma das maiores redes de varejo do país, com mais de 220 lojas espalhadas pelo Brasil e com crescimento até meados dos anos 1980.
A empresa, no entanto, sofria com a alta inadimplência de vendas a prazo. Com isso, as dívidas chegaram a ultrapassar o valor de R$ 1 bilhão, principalmente junto a fornecedores.
Em 1998, as Lojas Arapuã pediram concordata e se comprometeram a pagar as dívidas em até dois anos.
A partir do acordo, tentou sair do vermelho, aumentando o leque de produtos vendidos, que até então era composto basicamente por eletrodomésticos.
Passou a vender relógios, utensílios domésticos, brinquedos, móveis e eletroeletrônicos.
Mesmo com as mudanças, demissões de funcionários e terceirização de serviços, não conseguiu encontrar seu equilíbrio fiscal.
Judicialmente, a briga era para evitar uma falência, já que seus credores passaram a processar a companhia tentando recuperar o prejuízo.
Em 2020, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou mais um pedido de recuperação judicial e decretou, pela segunda vez, a falência da companhia.