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Mappin, Mesbla, Arapuã: Por que grandes lojas quebraram tanto no Brasil?

Fachada do Mappin (Casa Anglo Brasileira S.A.), na praça Ramos, em SP - Paulo Giandália/Folhapress
Fachada do Mappin (Casa Anglo Brasileira S.A.), na praça Ramos, em SP Imagem: Paulo Giandália/Folhapress
do UOL

Juliana Soane

Colaboração para o UOL, de São Paulo

28/11/2024 05h30

Há uma série de grandes lojas que ainda estão na lembrança dos brasileiros que viveram no século 20. Atualmente, crises como a das Americanas, em 2023, ou a repercussão do caso Carrefour, nesta semana, fazem lembrar de megalojas brasileiras que quebraram, especialmente nos anos 1990 e no começo dos anos 2000.

Por que tantas lojas gigantes quebram?

Os problemas de ontem e hoje das gigantes do varejo são parecidos: má administração e a concorrência com empresas especializadas, diz Roberto Kanter, economista do Centro de Excelência em Varejo da FGV.

O varejo olha para muita coisa: fluxo de caixa, estoque, atendimento ao cliente. Essa combinação muitas vezes não dá o resultado necessário.
Roberto Kanter, economista da FGV, ao UOL, em 2023

Em linhas gerais, foi o que aconteceu com as megalojas abaixo.

Mappin

Fundado em 1913, em São Paulo, o Mappin foi uma das primeiras redes de varejo a oferecer crediário no país.

Nos anos 1990, a empresa cresceu mais que o esperado, o que produziu descontrole contábil interno.

Em 1995, a rede anunciou que tinha uma dívida de quase R$ 20 milhões.

Em 1996, o Mappin foi vendido por R$ 26 milhões para o empresário Ricardo Mansur.

Mansur tentou transformar o Mappin em uma rede de franquias, com a previsão de abertura de 40 lojas em todo o Brasil.

A estratégia não deu certo e, em 1999, antes de falir, o Mappin tinha uma dívida de R$ 1,2 bilhão.

Mesbla

Filial de uma loja de departamentos francesa, chegou ao Brasil em 1912.

Vendia praticamente tudo: móveis, roupas, utensílios domésticos e até perucas.

Essa variedade permitiu à Mesbla destaque entre as concorrentes por oito décadas.

Os problemas começaram com o surgimento de empresas especializadas em um setor, como tecnologia ou móveis, e do aumento no número de shopping centers.

O fim da empresa veio com uma aposta que se provou errada: para lidar com a hiperinflação, a empresa estocava mercadorias em excesso, antecipando-se a um possível aumento de preços.

Com o Plano Real, a inflação foi estancada e trouxe prejuízos irreparáveis para a companhia.

A Mesbla chegou a ser comprada também por Ricardo Mansur, mas decretou falência em 1999.

Ultralar

A empresa foi fundada em 1956 como um braço da Ultragaz, que até hoje vende gás de cozinha em botijões.

As lojas Ultralar nasceram com o propósito de aproximar os brasileiros dessa tecnologia, vendendo fogões a gás e incentivando o consumo do então produto inovador.

O crescimento foi tanto que, em 1974, abriu seu primeiro hipermercado, o Ultracenter Ultralar.

Na década de 1990, o grupo começou a fechar empresas que não tinham relação com o negócio principal (distribuição de gás e petroquímica).

Com isso, a marca foi vendida para o Grupo Susa Vendex e, anos depois, vendida novamente para o empresário Paulo dos Santos.

No final dos anos 1990, a empresa começou a enfrentar a concorrência de lojas especializadas e não conseguiu se modernizar.

Sem espaço no mercado, a empresa encerrou suas atividades no começo dos anos 2000 e teve seus pontos de venda comprados pelas Casas Bahia.

Arapuã

As Lojas Arapuã foram uma das maiores redes de varejo do país, com mais de 220 lojas espalhadas pelo Brasil e com crescimento até meados dos anos 1980.

A empresa, no entanto, sofria com a alta inadimplência de vendas a prazo. Com isso, as dívidas chegaram a ultrapassar o valor de R$ 1 bilhão, principalmente junto a fornecedores.

Em 1998, as Lojas Arapuã pediram concordata e se comprometeram a pagar as dívidas em até dois anos.

A partir do acordo, tentou sair do vermelho, aumentando o leque de produtos vendidos, que até então era composto basicamente por eletrodomésticos.

Passou a vender relógios, utensílios domésticos, brinquedos, móveis e eletroeletrônicos.

Mesmo com as mudanças, demissões de funcionários e terceirização de serviços, não conseguiu encontrar seu equilíbrio fiscal.

Judicialmente, a briga era para evitar uma falência, já que seus credores passaram a processar a companhia tentando recuperar o prejuízo.

Em 2020, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou mais um pedido de recuperação judicial e decretou, pela segunda vez, a falência da companhia.

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