Dólar dispara com reação do mercado a pacote fiscal e reforma do IR
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar saltava frente ao real nesta quinta-feira, chegando a ultrapassar o nível de 5,98 reais, com o mercado reagindo ao anúncio na véspera do pacote de medidas de contenção de gastos pelo governo, que veio acompanhando de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
Às 9h45, o dólar à vista subia 0,83%, a 5,9629 reais na venda. Na máxima, a moeda norte-americana chegou a 5,9835 reais.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,05%, a 5,956 reais na venda.
O movimento de desvalorização da moeda brasileira nesta sessão era uma extensão das perdas da véspera, quando o dólar à vista fechou o dia com alta de 1,80%, aos 5,9141 reais, a maior cotação nominal de fechamento desde que o real começou a circular, em julho de 1994.
Investidores reagiam negativamente ao anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na véspera, que inclui um pacote de contenção de gastos, com impacto de 71,9 bilhões de reais nos dois próximos anos, e um inesperado projeto de reforma do IR, que expande a faixa de isenção para quem ganha até 5 mil reais no mês.
Segundo analistas do mercado, que aguardavam com nervosismo a divulgação das medidas fiscais, uma vez que haviam sido prometidas para depois do segundo turno das eleições municipais, o anúncio das medidas junto da reforma do IR levantava dúvidas sobre o compromisso do governo com o equilíbrio das contas.
"Os mercados provavelmente receberiam de braços abertos esse valor significativo, mas a surpreendente medida de isentar os salários até 5 mil deve conter o otimismo. É difícil interpretar o anúncio de outra forma que não como uma tentativa de recuperar o apoio popular após a notável perda de fôlego da esquerda", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Segundo Haddad, a compensação para o aumento da faixa de isenção do IR, uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, virá pelo aumento da taxação para quem ganha acima de 50 mil reais por mês e pela limitação da isenção por razões de saúde a quem ganha até 20 mil reais.
Na curva de juros brasileira, as taxas de DI mostravam altas sólidas, em particular para os contratos de longo prazo, com investidores elevando os prêmios de risco do país.
"Dada a demora, o adiamento para a divulgação desse pacote de medidas havia elevado a expectativa dos investidores a respeito do que o governo poderia trazer à mesa, e digamos que o comunicado do governo acaba frustrando essas expectativas", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Com isso, o real ia na contramão de seus pares emergentes, que mostravam ganhos ante o dólar ou perdas marginais, com o noticiário doméstico prevalecendo nas decisões dos investidores brasileiros.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,10%, a 106,220.
O foco no exterior continua sendo a expectativa pelo novo governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cujas promessas de tarifas têm gerado temores de uma guerra comercial com a Europa e a China, o que tem favorecido o dólar.
No início da semana, Trump prometeu implementar tarifas de 25% sobre todos os produtos de México e Canadá, além de uma tarifa adicional sobre os produtos chineses.
(Edição de Camila Moreira)