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Como a China supostamente contribui para a crise mortal do fentanil

28/11/2024 05h40

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor tarifas sobre as importações chinesas em resposta ao suposto papel de Pequim na epidemia mortal de fentanil que afeta a sociedade americana.

Há muitos anos, Washington acusa Pequim de fazer vista grossa ao tráfico dos opioides, que, segundo as autoridades americanas, causaram cerca de 70.000 mortes no ano passado. A China nega as acusações.

O que é o fentanil e de onde vem?

Os Estados Unidos enfrentam uma epidemia de mortes por overdose causadas pelo fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais potente que a heroína e muito mais fácil e barato de produzir.

A droga é atualmente a principal causa de morte entre pessoas de 18 a 45 anos, de acordo com as autoridades americanas.

A 'Drug Enforcement Administration' (DEA) afirma que a China é "a principal fonte de todas as substâncias relacionadas ao fentanil traficadas para os Estados Unidos".

Embora os serviços de investigação do Congresso tenham reconhecido este ano que as remessas diretas de fentanil da China foram interrompidas por controles mais rígidos impostos por Pequim em 2019, isso apenas alterou a cadeia de suprimentos.

Agora, segundo Washington, os precursores químicos estão sendo enviados da China para o México, onde são convertidos em fentanil e transportados para os Estados Unidos.

Muitos componentes são legais na China e têm uso médico legítimo como analgésicos, o que dificulta o combate ao fenômeno.

Em um primeiro momento, Pequim insistiu que "não há tráfico ilegal de fentanil entre a China e o México", mas agora prometeu combater o problema.

Em resposta às ameaças de Trump de impor tarifas adicionais de 10% nesta semana, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que "a China é um dos países mais rigorosos do mundo" em relação às drogas.

Qual a ação dos Estados Unidos? 

O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez da luta contra o fentanil uma prioridade.

O Departamento de Justiça impôs sanções em outubro de 2023 contra uma série de indivíduos e entidades na China acusados de serem a "fonte de suprimento" para muitos cartéis mexicanos, traficantes de drogas americanos, vendedores da 'dark web' e lavadores de criptomoedas.

O grupo, que inclui empresas com sede em Wuhan ou Hong Kong, é suspeito de enviar 900 quilos de "precursores de fentanil e metanfetamina apreendidos" nos EUA e no México. 

"Sabemos que a cadeia de suprimento global de fentanil, que mata americanos, geralmente começa com empresas químicas na China", disse recentemente o procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland. 

A China criticou as sanções, que chamou de parte de uma campanha de Washington contra o país.

Qual o acordo entre China e EUA?

O diálogo entre a China e EUA sobre drogas foi interrompido em meio à deterioração das relações, com disputas sobre comércio, direitos humanos e o status de Taiwan.

Mas após uma reunião de cúpula entre os presidentes Biden e Xi Jinping em San Francisco, em novembro do ano passado, Washington e Pequim concordaram em retomar as discussões.

No verão passado, uma força-tarefa antidrogas de Washington e Pequim anunciou que aumentaria a regulamentação de três precursores do fentanil.

Mas ainda não se sabe se as medidas mais recentes prejudicarão completamente o comércio de drogas, que o Departamento de Justiça advertiu que está "se adaptando às restrições".

Especialistas afirmam que os produtores podem desenvolver novas variantes de precursores sintéticos mais rapidamente do que as autoridades chinesas podem identificá-los e adicioná-los à lista de substâncias controladas.

Vanda Felbab-Brown, especialista em crime organizado da Brookings Institution, acredita que Pequim deveria adotar uma postura mais rígida contra as empresas chinesas envolvidas nessa atividade.

"Não estamos nem perto de fortes acusações e processos judiciais no setor de lavagem de dinheiro ou no tráfico de precursores para os cartéis mexicanos", disse ela.

As tarifas funcionarão?

Tudo indica que Trump adotará uma postura dura contra a China quando assumir a presidência em janeiro, especialmente porque ele escolheu vários críticos de Pequim para cargos importantes em seu governo.

Mas não está claro se as tarifas provocarão outras ações por parte da China.

O Ministério das Relações Exteriores respondeu ao anúncio de Trump com a declaração de que o país está disposto a "continuar a cooperação com os Estados Unidos contra os narcóticos".

Mas também alertou que Washington "não deve considerar a boa vontade da China como algo garantido".

O problema é agravado pelas redes de lavagem de dinheiro que sustentam o tráfico e cujo controle, segundo analistas, exige maior coordenação entre Washington e Pequim.

"As organizações internacionais de tráfico de drogas estão cada vez mais recorrendo a grupos criminosos chineses especializados para obter serviços de lavagem de dinheiro rápidos, baratos e seguros", observou Zongyuan Zoe Liu em um relatório recente para o 'Council on Foreign Relations'.

Mas "obter o apoio de Pequim para interromper o fluxo de fentanil e seus precursores químicos é um primeiro passo importante para resolver o problema", acrescentou.

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© Agence France-Presse

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