Taxas de juros disparam com temor sobre efeito fiscal e inflacionário da proposta de IR
Os juros futuros dispararam nesta quarta-feira, 27, em reação à proposta de isenção de imposto de renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil, a ser a apresentada pelo governo juntamente com o pacote de corte de gastos que será anunciado nesta noite. Há temor sobre possíveis impactos fiscais e inflacionários da medida.
A taxa do DI para janeiro de 2026 encerrou em 13,50%, de 13,28% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 saltou de 13,32% para 13,62%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,45% (de 13,07%) e a do DI para janeiro de 2031 subiu de 12,92% para 13,29%.
"A volatilidade toma conta dos mercados e não há ajuste fiscal que dê conta de apaziguar os receios com o futuro", resumiu o economista André Perfeito.
As taxa seguem rodando nos maiores níveis desde o fim de 2022. Começaram o dia perto da estabilidade e ganharam ritmo de alta ao longo da manhã, acompanhando a pressão do dólar e com o desconforto pela falta de sinalização sobre o anúncio do pacote. O avanço se dava na contramão do recuo dos rendimentos dos Treasuries, por sua vez influenciados por dados econômicos nos EUA divulgados pela manhã.
No meio da tarde, o mercado azedou de vez com informações ainda extraoficiais de que o governo pretende soltar junto com o anúncio do pacote também a medida sobre o IR. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará pronunciamento hoje às 20h30 e, segundo apurou o Broadcast, deve anunciar a isenção de do IR para quem ganha até R$ 5 mil e comunicar ponto a ponto quais são as medidas de ajuste fiscal.
Promessa de campanha de Lula, a proposta para o IR não é nova, mas caiu mal pelo timing e pelos impactos que pode ter para o cenários fiscal e inflacionário. "Além de ser medida que vai na contramão do ajuste fiscal, ainda é expansionista do ponto de vista do consumo. Como a propensão marginal a consumir é maior quanto menor a renda, haverá efeito de aumento do consumo ainda que haja compensação via aumento da tributação da alta renda e/ou dividendos", afirma Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners.
Ele explicou que o viés inflacionário afetou mais os vencimentos de curto prazo e a percepção negativa quanto ao compromisso de ajuste fiscal, mais os longos. "Foi um strike na curva toda", disse.
Segundo apurou o Estadão, Haddad vinha tentando dissuadir Lula de adotar a medida neste momento, por entender que merece uma discussão à parte, que envolveria a reforma tributária relacionada à renda. O esforço para convencer o presidente de que não seria bem recebida neste momento envolveu até o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que foi ao Planalto explicar a reação que o mercado poderia ter com a medida.
A equipe econômica apresentará uma medida para compensar a renúncia fiscal do aumento da faixa de isenção do IR: a tributação dos super-ricos com uma alíquota mínima sobre todas as fontes de renda.
O diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia, afirma que, na leitura do mercado, ao colocar a medida agora o governo indica falta de prioridade com a questão dos gastos e estar mais preocupado com a eleição. "Lula parece estar conversando com o mercado e ao mesmo tempo com o eleitor. Mas não acredito que esta medida vai passar. É popular demais para o Congresso endossar", afirmou.
Outra questão que pesa nos DIs é o efeito inflacionário do câmbio, que vem resistindo acima de R$ 5,80 e hoje superou R$ 5,90. "Já temos impacto do dólar nesta crise das proteínas", afirma Saadia, referindo-se ao choque de oferta das carnes. O dólar alto acaba deslocando as vendas para o mercado externo, num ambiente interno de forte demanda que acaba desabastecido.
A precificação de Selic na curva a termo teve forte ajuste, mas num dia de nervosismo como o de hoje nem tudo é aposta firme, com boa dose de prêmio de risco incorporado. Feita a ponderação, para o Copom de dezembro os DIs projetavam no fim da tarde alta de 76 pontos e para as reuniões de janeiro de março, de 85 e 82 pontos, ou seja, já mostrando alguma chance de aceleração do ritmo para 100 pontos. Para a Selic terminal, a curva aponta nível de 14,29%.