Oposição convoca protestos na Venezuela contra Maduro após apoio do G7
A tensão política voltou a crescer na Venezuela depois que os países do G7 expressaram apoio ao opositor Edmundo González, que se declara presidente eleito do país. A 45 dias da posse do futuro governo, a oposição convocou novos protestos contra o presidente Nicolás Maduro no próximo fim de semana.
Após meses de inércia, o embate político volta a ganhar força tanto entre opositores quanto chavistas, com a proximidade do 10 de janeiro, data da posse presidencial. Segundo a líder da oposição, Maria Corina Machado, será uma mobilização para a "liberação" do país.
O governo da Venezuela advertiu na terça-feira (26) que vai rever suas relações com os países do G7, depois que os chanceleres de Estados Unidos, Canadá, Itália, Alemanha, Reino Unido, Japão e França consideraram o opositor Edmundo González Urrutia vencedor das eleições de 28 de julho, nas quais o presidente Nicolás Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato, mas sem a apresentação dos resultados detalhados da apuração.
"O povo venezuelano tomou uma decisão clara nas urnas: votou por uma mudança democrática e apoiou Edmundo González Urrutia por uma maioria significativa, segundo os registros eleitorais disponíveis publicamente", manifestaram os chanceleres do G7, após uma reunião de dois dias na Itália.
A Venezuela rejeitou "categoricamente o pronunciamento" do G7, considerando "absurda" as afirmações do grupo. "Tentam, a partir do complexo colonialista e imperialista, preparar o terreno para não reconhecer as instituições e decisões do povo venezuelano", expressou o Ministério das Relações Exteriores. O país vai "revisar de forma integral sua relação com cada um dos governos que compõem esse grupo, porque o respeito à soberania nacional não é negociável", acrescenta o comunicado de Caracas.
Opositor desafia Maduro
González afirmou que "a Constituição venezuelana só permite um presidente. "Eu sou quem tomará posse em 10 de janeiro", afirmou. Desde setembro, o ex-diplomata que enfrentou Maduro nas urnas está asilado na Espanha, para onde fugiu após ser pressionado pelo governo chavista. No entanto, ele não deu detalhes sobre como entrará no país, nem como será a suposta celebração.
González afirmou que poderia dialogar com o governo para que o atual chefe de Estado declinasse do poder em prol da oposição. "Sempre há espaço para uma saída pacífica e negociada", afirmou o ex-diplomata a uma rádio colombiana.
Já Maria Corina Machado, que afirma estar escondida na Venezuela pelo risco a ser presa, pediu à população em uma mensagem de áudio para que todos fiquem atentos às próximas orientações para pressionar Maduro a abandonar o poder. Além do protesto no fim de semana, no sábado está programada uma vigília em Caracas para pedir a libertação das mais de 1.900 pessoas detidas durante os protestos pós-eleitorais. Apenas uma parte dos presos políticos foi solta.
Atas no Congresso brasileiro
Nesta terça-feira, parte das atas da votação de 28 de julho foram apresentadas no Congresso brasileiro. Maria Corina Machado escreveu no X que os documentos examinados pelos deputados e senadores brasileiros eram as atas "de verdade" dos resultados da votação. "Contamos com o povo do Brasil e com suas instituições democráticas para fazer valer a decisão soberana do povo venezuelano", escreveu a opositora na rede social.
No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se esquivou de reacender a crise diplomática com Caracas ao afirmar, em 11 de novembro, que a "Venezuela é um problema dos venezuelanos". Esta foi a maneira encontrada por Lula de apaziguar os ânimos com Maduro, após críticas bilaterais motivadas pela polêmica eleição presidencial e pelo veto brasileiro à entrada da Venezuela no Brics.
A pressão internacional sobre o governo Maduro vem aumentando desde a semana passada. Além dos Estados Unidos terem anunciado o reconhecimento de González como presidente eleito, também tramita no senado dos EUA uma proposta, chamada de Lei Bolívar, que complementa as atuais sanções para ampliar a proibição a negociações entre companhias americanas e pessoas ou empresas vinculadas à gestão de Maduro. Caso seja aprovada, a lei seria um forte golpe à economia do possível terceiro mandato do atual presidente venezuelano.
Contra-ataque com a lei Simón Bolívar
A Assembleia Nacional, de maioria chavista, discutiu na terça-feira, pela segunda vez, o projeto da Lei Simón Bolívar, que rebate a Lei Bolívar em tramitação nos EUA. Os deputados venezuelanos aprovaram apenas sete dos 18 artigos do projeto. As disposições restantes voltarão a ser discutidas e votadas na quinta-feira (28). O objetivo da contraofensiva judicial venezuelana é garantir os meios para indiciar políticos, autoridades ou civis que incentivem ou apoiem punições à Venezuela. Este novo aparato legal é mais uma forma de afastar ou desestimular críticos e opositores que questionam as ações do governo Maduro.
Logo após o anúncio de avaliação da Lei Bolívar no Senado americano, o Ministério Público venezuelano informou que Maria Corina Machado está sendo acusada de traição à pátria, de conspiração com países estrangeiros e associação criminosa.
Show x vigília
Já o ministro do Interior e da Justiça, Diosdado Cabello, afirmou que a União Europeia "carece de moral" para falar da Venezuela.
Cabello, que também é vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), disse haver uma ligação entre o suposto plano terrorista chamado "Não ao Natal" e a líder da oposição para gerar violência. A afirmação foi feita na última segunda-feira (25), quando ele garantiu que "não há forma nem maneira de que amargurem o Natal na Venezuela".
Para combater as manifestações da oposição no fim de semana, Cabello anunciou uma série de atividades culturais para o próximo sábado. Entre elas haverá shows do cantor popular Maelo Ruiz em duas comunidades de Caracas. Já a oposição programou um protesto e a vigília, em uma das principais praças de Caracas.
Embaixada sob cerco e sem energia
O cerco à Embaixada da Argentina em Caracas continuava na noite de terça-feira. O local também permanecia sem eletricidade. De acordo com o coordenador internacional da equipe de Maria Corina Machado, Pedro Urruchurtu, os fusíveis foram retirados do sistema elétrico da casa por ordem das forças de segurança estatais. O cerco começou no último fim de semana, horas após os Estados Unidos anunciarem o reconhecimento de González como presidente eleito.
A sede diplomática, onde desde março estão asiladas seis pessoas da equipe da líder da oposição, já havia passado por uma situação similar em setembro, algumas horas antes da fuga de González para a Espanha.
O local está sob custódia do governo brasileiro desde agosto, quando o corpo diplomático da Argentina e de outros cinco países foram expulsos da Venezuela por não terem reconhecido a vitória de Maduro na eleição, declarada pelo Conselho Nacional Eleitoral, mas sem a publicação das atas eletrônicas.