O que Bolsonaro e Lula fizeram publicamente no dia em que golpe seria dado
O relatório da Polícia Federal aponta que a consumação do golpe de Estado estava prevista para ocorrer no dia 15 de dezembro de 2022. Neste mesmo dia, ocorreria o assassinato do presidente Lula (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
De acordo com o relatório, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito". Ele nega a existência do plano.
O que Bolsonaro fez naquela data
Dia de reuniões. O então presidente teve três reuniões em 15 de dezembro de 2022, segundo sua agenda arquivada pela Biblioteca da Presidência da República.
Ministros e senador reunidos. Entre 8h30 e 10h30 da manhã, ele se encontrou com Célio Faria Júnior, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência. O senador Carlos Portinho (PL - RJ), então chefe do governo no Senado, estava presente. Das 11h30 às 12h, Bolsonaro esteve com o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite. Já das 16h às 16h30, com Renato de Lima França, subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria Geral da Presidência.
Bolsonaro não saiu de casa naquele dia, conforme sua agenda. Todos os compromissos oficiais aconteceram no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente, de acordo com os dados públicos de sua agenda.
Caminhão de mudança foi visto no Alvorada. Também no dia 15, caminhões de mudança chegaram ao palácio e foram flagrados por equipes de TV retirando objetos da residência oficial, no que seria a preparação para Bolsonaro deixar o cargo.
E onde estava Lula?
Petista teve ato público. Lula fez sua tradicional participação no Natal dos Catadores, no centro de São Paulo, junto a lideranças do PT como o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ex-senadora Marta Suplicy. Aos presentes, o então presidente eleito criticou Bolsonaro por ter vetado um projeto de lei que proibia o uso de materiais ou estruturas para afastar pessoas em situação de rua de locais públicos, inspirada pelo trabalho assistencial do padre Júlio Lancellotti.
Dia do presidente eleito de celebrações. Após o Natal, Lula seguiu para um churrasco do Instituto Lula na zona sul da cidade.
O dia de Alckmin e Moraes
Então vice-presidente eleito estava em Brasília. Alckmin ficou na capital federal enquanto Lula discursava em São Paulo. Ele marcou presença no evento Pacto pela Aprendizagem, em que prometeu R$ 12 bilhões da PEC da Transição para o orçamento do Ministério da Educação.
Moraes foi monitorado, segundo a PF. Os chamados "kids pretos", militares treinados para ações de sabotagem, insurgência popular e "operações de guerra irregular", monitoravam o ministro do STF, com agentes próximos à sua casa e ao STF. De acordo com a corporação, o plano para matá-lo foi abortado devido à negativa do Exército de aderir à tentativa de golpe.
Ministro do STF estava na corte naquele dia. Moraes participava no STF de uma votação sobre o orçamento secreto. O julgamento foi suspenso quando o placar estava em 5 a 4 — o ministro já havia votado, e os militares suspeitos monitoravam a sessão por reportagens na imprensa.
Combate a atos golpistas. Também no mesmo dia, o ministro autorizou uma megaoperação em oito estados contra atos antidemocráticos, com mandados de prisão e de busca e apreensão e outras medidas. Na época, bolsonaristas protestavam em frente a quartéis pedindo intervenção militar.
Preparações para a posse em andamento. O Senado divulgou naquele dia o roteiro da cerimônia de posse de Lula e Alckmin no Congresso, marcada para 1º de janeiro de 2023.