O relatório final da Polícia Federal que indiciou Jair Bolsonaro revela que o golpismo permeou todo o período de governo do ex-presidente, afirmou o colunista Josias de Souza no UOL News desta quarta (27).
O documento de 884 páginas da PF aponta que os discursos favoráveis a um golpe de Estado começaram a ser inflamados em 2019 e cita o recente atentado a bomba no STF (Supremo Tribunal Federal) para concluir que a retórica golpista continua "latente" na sociedade brasileira.
O relatório da PF deixa muito nítido e com evidências fartas que Bolsonaro presidiu um governo em estado permanente de golpismo. Desde que tomou posse, ele já vinha contestando o resultado das urnas, até mesmo as que lhe deram a vitória em 2018.
Ele fez dessa contestação do sistema eleitoral uma prática cotidiana. Isso foi levado às redes sociais por uma milícia digital. As afrontas do presidente às instituições se mantiveram ao longo de todo o governo do Bolsonaro, com ameaças dele ao Judiciário e questionamentos muito vigorosos a decisões judiciais.
Desde 2021 ele já estava antevendo a fabricação de um apocalipse que poderia levar a uma ruptura institucional. Ao mesmo tempo, ele desafiava a democracia e se preparava para a fuga. Isso foi evoluindo até chegar a 2022, quando foi efetivamente derrotado. Aí, o plano de golpe, que era por assim dizer envergonhado, tornou-se escancarado. Josias de Souza, colunista do UOL
As evidências abundantes e os elos sólidos entre os fatos, como mostra o relatório final da PF, deixam claro que Bolsonaro não só sabia de tudo o que estava acontecendo como exercia papel central nesta trama, analisou Josias.
É impressionante a quantidade de elementos e provas que a PF conseguiu reunir. Elas vão muito além da mera delação do Mauro Cid. A polícia realmente colecionou um conjunto de evidências que colocam Bolsonaro no epicentro do golpe.
Tudo passa a ter nexo. A PF conseguiu estabelecer os liames entre o questionamento das urnas, a ameaça às instituições, os ataques ao Judiciário, a formação da consciência coletiva que levou aos acampamentos de porta de quartel e dali para o 8 de janeiro. Estabeleceram-se vínculos entre todos estes episódios. Josias de Souza, colunista do UOL
Tales: Bolsonaro pensava em dar golpe desde início e tinha planos A, B e C
Jair Bolsonaro não só tinha em mente aplicar um golpe de Estado desde quando assumiu a Presidência da República como preparou planos A, B e C para afrontar a democracia, disse o colunista Tales Faria.
A PF está mostrando que Bolsonaro planeja dar um golpe desde o início do governo. Vale lembrar que, em 1999, naquela entrevista na qual disse ser a favor de uma guerra civil, o repórter lhe perguntou se seria favorável a um golpe de Estado. Ele disse que 'daria o golpe no primeiro dia'.
Bolsonaro não deu [o golpe de Estado] no primeiro dia porque não havia condições para isso, mas começou a prepará-lo. É isso o que a PF mostra. A partir do primeiro instante em que assumiu, tudo o que Bolsonaro fez foi nessa direção.
Primeiro foi a montagem do tal 'gabinete do ódio', que instaurou a política do ódio. Ela é muito importante por disseminar a possibilidade da violência, das armas, das mentiras e das fake news. Esse 'gabinete do ódio' é a grande herança que Bolsonaro deixou para o país. Tales Faria, colunista do UOL
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