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PF: Coronéis mostraram saudosismo de 64 e criaram gabinete de ódio militar

O coronel Fabrício Bastos defendia golpe e mencionou que em 64 houve adesão Imagem: Reprodução X

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

27/11/2024 05h30

Mensagens trocadas entre dois coronéis do Exército demonstram saudosismo do golpe que levou os militares ao poder em 1964. Conversas que integram o relatório final da investigação da PFrevelam que ambos usaram as redes sociais numa campanha para hostilizar oficiais contrários ao golpe em 2022.

O que aconteceu

Conversa entre os coronéis começa com críticas à falta de apoio do Alto Comando do Exército à tentativa de ruptura democrática. "Duvido que em 64 esses esquerdistas tinham tanta liberdade de manobra quanto têm agora", escreveu o coronel Fabrício Bastos, integrante do Centro de Inteligência do Exército.

Na sequência, Bastos defendeu a prisão dos ministros do TSE e do STF. O oficial do Exército ainda reclamou da falta de iniciativa do então presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje apontado pela PF como líder da trama golpista. As mensagens foram enviadas em 16 de outubro de 2022, antes do segundo turno da corrida presidencial vencida por Lula (PT).

O também coronel Corrêa Netto respondeu que os generais não apoiavam um golpe. "Ele (Bolsonaro) não tem o ACE [Alto Comando do Exército] com ele". Assistente do Comando Militar do Sul, Corrêa Netto conhecia o posicionamento do alto escalão.

Em janeiro de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid também citou a ditadura militar. "Em 64, não precisou ninguém assinar nada", escreveu o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro em conversa com o tenente-coronel Sérgio Cavaleire.

Velho, já passou da hora do Bolsonaro (sic) fazer alguma coisa"; "Velho, o cara tem as FA [Forças Armadas] nas mãos e por que permite tudo isso?", Velho, manda prender todo mundo do TSE e STF.
Coronel Fabrício Bastos

Versão militar do gabinete do ódio

Após a vitória de Lula as mensagens se tornaram mais agressivas e extremistas, segundo a PF. Os dois coronéis começaram a atuar para difamar generais nas mais altas posições de comando que se manifestavam contrários à tentativa de golpe de Estado.

O coronel Corrêa Netto encaminhou a foto de cinco generais que se recusavam a apoiar a intervenção militar. O material foi recebido por Fabrício Bastos em 15 de novembro de 2022 e serviu de matéria-prima para ataques em redes sociais que tentavam desmoralizar os oficiais e aglutinar apoio ao golpe.

No dia seguinte, uma postagem no X (à época, Twitter) exibia as fotos dos cinco generais. A legenda dizia: "Dos 19 generais, estes 5 canalhas não aceitam a proposta do povo. Querem que Lularapio assuma". O texto terminava pedindo para mensagem ser compartilhada.

O relatório da PF identificou os militares citados pelos coronéis golpistas. Todos ocupavam cargo na cúpula do Exército:

  • General Richard Nunes, do Comando Militar do Nordeste;
  • General Valério Stumpf, chefe do Estado-maior do Exército;
  • General Andre Luís Novaes Miranda, do Comando Militar do Leste,
  • General Tomás Paiva, do Comando Militar do Sudeste e atual comandante do Exército;
  • General Guido Amin Naves, chefiava o Departamento de Ciência e Tecnologia da Força Terrestre;

As conversas entre os coronéis golpistas continuaram e a dupla fez campanha pela prisão de militares. O alvo eram três generais que defendiam o respeito ao resultado das urnas. "Thomaz, Richard e Stumpf tinham que ser exonerados, presos, sei lá, qualquer merda, antes do GFG (general Freire Gomes) passar o Comando EB (Exército Brasileiro)."

O coronel Bastos disse que sua "grande decepção" era o comandante do Exército. Ele afirmou que o general Freire Gomes poderia ser hostilizado se fosse ao shopping com a família. Quando prestou depoimento, o coronel relatou que não se recordava das mensagens difamatórias.

Bastos recebeu uma condecoração do presidente Lula (PT) em novembro do ano passado. A condecoração, oferecida pelo Ministério das Relações Exteriores, reconheceu o desempenho do militar durante eclosão da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, sendo considerado determinante para a execução da missão de repatriação de brasileiros.

Iindagado sobre o motivo de afirmar, em mensagem enviada ao coronel Bernardo Romão Correa Netto, que os generais do ACE seriam hostilizados em público, respondeu que não se lembra de ter feito tal afirmação.
Trecho do relatório da PF

Reunião golpista

O coronel Corrêa Netto se engajou na articulação de uma atos para desestabilizar o país. Ele descreveu o plano ao coronel Fabrício Bastos. "Resolvi tomar uma iniciativa e conto com o apoio do Nilton para isso. Reunir alguns FE (Forças Especiais) em funções chaves para termos uma conversa sobre como podemos influenciar nossos chefes."

Nilton Diniz Rodrigues era a pessoa citada e ocupava o posto de coronel. Na sequência, se tornou assistente do comandante do Exército. Ele foi promovido a general apesar de ter tramado pelo golpe.

Uma reunião com militares golpistas foi realizada m Brasília em 28 de novembro de 2022. O encontro deu origem a "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro".

O documento pregava o golpe e desejava desestabilizar o país. Ela foi publicada no contexto de acampamentos na frente dos quartéis, questionamento às urnas e Jair Bolsonaro, ainda presidente, ter saído de cena sem reconhecer a vitória de Lula.

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