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França teve papel decisivo no acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah no Líbano

27/11/2024 13h29

O presidente francês, Emmanuel Macron, saboreia uma rara vitória diplomática no Oriente Médio, após o anúncio do cessar-fogo entre Israel e o movimento islâmico libanês Hezbollah. Sob anonimato, diplomatas franceses revelaram bastidores das negociações. Tanto os Estados Unidos quanto Israel tentaram excluir a França das negociações, mas não conseguiram prescindir dos contatos que Paris tinha no Líbano e no Irã para concluir o compromisso.

Segundo o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noel Barrot, o cessar-fogo, que entrou em vigor nesta quarta-feira (27), "é fruto de um trabalho árduo, realizado ao longo de muitos meses". 

O acordo selado entre Israel e o Hezbollah, movimento islâmico apoiado pelo Irã, prevê o deslocamento de tropas do Exército regular libanês no sul do país, em uma extensa região que até agora era controlada pelos combatentes, apesar da presença de soldados da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil). Na avaliação do chanceler francês, a designação do Exército libanês para assumir a segurança na fronteira com Israel e o fortalecimento das forças armadas é um elemento essencial para a "recuperação do Estado libanês", explicou o ministro ao portal de notícias Franceinfo

O pacto concluído prevê que os Exércitos dos Estados Unidos e da França fornecerão apoio técnico ao Exército libanês. Os dois países irão aderir ao mecanismo tripartite criado após a guerra de 2006, que até agora reunia a força de paz da ONU (Unifil), Israel e o Líbano. O comando será americano, mas a França ganha papel de protagonismo. 

"É um retorno inesperado para a diplomacia francesa. O Líbano está restabelecendo o papel da França no Oriente Médio", resume à AFP Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos sobre o Mediterrâneo e o Mundo Árabe, em Genebra.

"Para a França, é um sucesso", concorda Agnès Levallois, vice-presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio, de Paris. Ela recorda que a mesma iniciativa havia sido apresentada ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em setembro, mas foi rejeitada no último minuto por Israel. Durante a Assembleia da ONU em Nova York, o presidente francês trabalhou em estreita parceria com os Estados Unidos para propor um plano de trégua viável, recorda Levallois, e encarou a recusa israelense "como um tapa na cara". As relações entre Netanyahu e Macron sempre foram tensas.

Apesar do fracasso pontual, os franceses continuaram ativamente envolvidos nas negociações, em comunicação com os americanos, sabendo que os israelenses "queriam excluir a França" do acerto final, sublinha uma fonte francesa próxima das discussões.

"Precisavam de nós", diz diplomata francês

Segundo várias fontes contatadas pela AFP, americanos e libaneses insistiram que a França permanecesse nas negociações, principalmente pelos contatos de Paris com o movimento xiita libanês e seu patrocinador, o Irã.

"Os americanos precisavam de nós para o Hezbollah", diz um diplomata francês. "Eles tentaram atuar (por conta própria), mas não funcionou, então os franceses trouxeram seu tradicional valor agregado", disse ele. A França, que tem perdido influência nos últimos anos no Oriente Médio, recupera assim o seu "lugar tradicional" entre os diferentes atores da região, observa essa fonte. "Deste ponto de vista, é uma vitória", acrescenta o diplomata.

Segundo o analista argelino Hasni Abidi, os libaneses "insistiram na presença da França porque não confiam nos americanos, que demonstraram o seu total alinhamento com a posição israelense".

Ao anunciar o acordo em Washington, o presidente Joe Biden agradeceu o apoio de Macron pelo seu envolvimento nas negociações. 

A entrada em vigor do cessar-fogo é oportuna para o presidente francês, que enfrenta o mais baixo índice de popularidade desde que chegou ao Palácio do Eliseu, em 2017. A dissolução da Assembleia Nacional, ordenada por Macron em junho, abriu uma crise política no país, porque o governo perdeu a maioria no Parlamento e não tem mais apoio para aprovar reformas. O chefe de Estado francês, que tem entre suas atribuições a política externa, buscava uma ocasião para restabelecer sua imagem internacional. 

Macron raramente foi recompensado pelas suas iniciativas diplomáticas, seja na Líbia, no Líbano ou na Ucrânia. O líder francês enfrentou duras críticas por ter continuado a dialogar com o presidente Vladimir Putin após o início da ofensiva russa, em fevereiro de 2022. No Líbano, ex-protetorado francês, Macron tenta em vão, desde 2020, resolver a crise institucional que paralisa o país, exercendo pressão sobre os seus líderes políticos.

"Missão delicada"

O anúncio do cessar-fogo, poucos dias antes de uma visita de Estado do presidente francês à Arábia Saudita, de 2 a 4 de dezembro, cai em boa hora. Macron poderá "tentar envolver os sauditas" a favor da estabilização do Líbano, principalmente por meio de apoio financeiro. O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, talvez "não tenha (necessariamente) este objetivo", observa Agnès Levallois.

A implementação concreta do cessar-fogo entre o Hezbollah e Israel exigirá tempo, mesmo com as garantias prestadas por Paris e Washington. Netanyahu já anunciou que Israel manterá "total liberdade de ação militar" no Líbano, "em acordo" com os Estados Unidos, e "responderá" se o Hezbollah violar a trégua.

Objetivamente, se houver um incidente, o Exército regular libanês não dispõe, por enquanto, de meios para impedir novos atritos entre a milícia xiita e as forças israelenses, observa Agnès Levallois.

Diante desses desafios, "a França enfrenta uma missão delicada: manter a sua independência e a sua linha de influência, conservando, ao mesmo tempo, a confiança de todas as partes interessadas", conclui Hasni Abidi.

Com AFP

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