Bolsonaro sobre plano para matar Lula: 'Não cola, não se pune opinião'
Jair Bolsonaro (PL) criticou as investigações da Polícia Federal que revelaram um plano para matar o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo o ex-presidente, a descoberta da PF "não cola".
O que aconteceu
Bolsonaro afirmou nesta segunda (25) que não se pode punir o que chamou de "crime de opinião". "Essa história de assassinato de autoridades, no meu entender, foi jogado. Não cola isso daí. Não sou jurista, quando começa um crime ou termina. No meu entender, nada foi iniciado. Não podemos começar agora a querer punir um crime de opinião", afirmou o ex-presidente durante entrevista a jornalistas no aeroporto de Brasília, ao desembarcar de Alagoas.
Fala de Bolsonaro foi na mesma linha de declaração do filho, Flávio Bolsonaro. Ao comentar o plano na semana passada, o senador afirmou que "pensar em matar alguém não é crime". O ministro do STF Gilmar Mendes, rebateu Flávio e argumentou que o estágio dos planos descoberto pela PF aponta para "plano de execução, e não mera cogitação".
Ex-presidente admitiu que estudou possibilidade de decretar estado de sítio, mas negou tentativa de golpe. "Golpe de Estado é uma coisa séria. (...) Tem que tá envolvido todas as Forças Armadas senão não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando", rechaçou Bolsonaro. Ele afirmou que analisou todas as possibilidades que existem na Constituição para "resolver o problema' e que as descartou quando "não teve como resolver".
É como o Temer disse hoje: golpe de Estado tem que ter a participação de todas as Forças Armadas, senão não é golpe de Estado. Ninguém dá golpe de Estado em um domingo, em Brasília, com pessoas que estavam aí com bíblias debaixo do braço e bandeira do Brasil na mão, nem usando estilingue.
Da minha parte, nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse pedir golpe pra mim, ia falar, tá, e o 'after day'? E o dia seguinte, como é que fica? Como fica o mundo perante a nós? (...) A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário.
Todas as medidas dentro das quatro linhas da Constituição eu estudei. Procurei saber se tinha alguma forma dentro da Constituição. Não teve como resolver? Descartou-se
Eu posso ser preso agora, ao sair daqui (do aeroporto)
Jair Bolsonaro
Bolsonaro volta a atacar oMoraes
O ex-presidente afirmou que as investigações contra ele estão sendo conduzidas de maneira "leviana" e que o processo é alterado "o tempo todo". "A mesma pessoa faz tudo e, no final, vota para condenar quem quer que seja", criticou ele em relação a Alexandre de Moraes. Bolsonaro também repetiu acusações de que a Justiça Eleitoral beneficiou Lula nas eleições de 2022.
Indiciado pela terceira vez neste ano, Bolsonaro chegou a Brasília nesta noite para articular sua defesa. Ele estava em São Miguel dos Milagres (AL), onde passou a semana hospedado em uma pousada de luxo na praia do Toque. O nome do ex-presidente está no centro da investigação da PF levou ao indiciamento dele e de outras 36 pessoas, a maioria militares, suspeitos de tentar dar um golpe de Estado.
Na volta ao DF, Bolsonaro participará de reuniões marcadas com integrantes do PL e vereadores eleitos. Ex-presidente aproveitou a semana de folga para analisar as notícias, segundo informaram aliados.
Relatório da PF será encaminhado à PGR
Moraes deve encaminhar relatório à PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta terça. A PF precisa ainda precisa ouvir um militar no inquérito. O tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo, "kid preto" do Exército, está preso no Rio. Ele deve ser indiciado após o depoimento à Polícia Federal e entrar em um relatório complementar, a ser enviado ao STF.
Agora caberá à PGR analisar o caso e decidir se denunciará os indiciados. A PF concluiu a investigação e apresentou relatório final de cerca de 800 páginas ao STF na última quinta-feira (21).
Pela primeira vez, um ex-presidente eleito no período democrático é indiciado como responsável por tramar contra a democracia. Somente com uma eventual denúncia da PGR é que o STF pode começar a julgar Bolsonaro pelos crimes apontados pela PF. A expectativa é que o caso seja julgado no ano que vem para evitar "contaminar" as eleições de 2026.
Bolsonaro pode pegar 28 anos de cadeia se condenado à pena máxima por todos os crimes. O ex-presidente foi indiciado por suspeita de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. A reportagem tentou contato com a defesa de Braga Netto e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mas nãom teve resposta.