Aos 10, MBL quer virar partido, crescer no Nordeste e ser direita moderada
Ao completar uma década de existência, o MBL (Movimento Brasil Livre) quer se firmar como a direita moderada, combatendo a extrema-direita bolsonarista, e busca expandir a influência para além de São Paulo.
"Chegamos a um nível de institucionalidade sólido e com presença forte no Nordeste", disse ao UOL o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), durante o 10º Congresso Nacional do movimento, neste sábado (23), em São Paulo.
O grupo está coletando assinaturas para o registro de um partido político —-que se chamará Missão—, pelo qual pretende lançar candidato a presidente nas eleições de 2026.
"Estamos prestes a ter um partido político, o que demonstra a nossa organização. Nem Bolsonaro conseguiu, estando na presidência", afirmou Kataguiri.
Terceira via
Uma das poucas lideranças do MBL que tem idade para a disputa presidencial é Amanda Vettorazzo, 36, recém-eleita vereadora de São Paulo pelo União Brasil —Kim Kataguiri, uma das estrelas do movimento, tem 28.
"Nos posicionamos como uma terceira via. Sendo de direita, já nos associam ao bolsonarismo, mas a gente não é", disse Vettorazzo ao UOL.
Mesmo criticando o bolsonarismo, Vettorazzo afirma que Tarcísio de Freitas, de São Paulo, aliado do ex-presidente, está "fazendo um ótimo governo".
Guto Zacarias, 25, deputado estadual (União-SP) e uma das lideranças do MBL, é vice-líder do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na Assembléia.
Para ele, o bolsonarismo "traiu as pautas da direita". Zacarias criticou as indicações de Jair Bolsonaro ao SFT (Supremo Tribunal Federal) e à PGR (Procuradoria Geral da República).
Ele é entusiasta de uma possível candidatura à presidência do ex-deputado estadual Arthur do Val, o "Mamãe Falei", cassado por quebra de decoro parlamentar em 2022 após vazamento de áudio em que afirmava que refugiadas ucranianas eram "fáceis" por ser "pobres".
"Arthur ainda é um dos grandes nomes do MBL e teve uma cassação injusta. Falou uma bobagem, mas a cassação foi um exagero", diz. Zacarias afirma que o MBL irá tentar reverter a perda dos direitos políticos do ex-deputado na Justiça.
Indiciamento
O MBL tem adotado tom moderado nos comentários ao indiciamento pela Polícia Federal do ex-presidente Jair Bolsonaro em inquérito sobre tentativa de golpe de Estado.
Os integrantes do movimento dizem que, como "conservadores", são contra tentativas de golpe.
"A própria antítese do conservadorismo é ser revolucionário, defender golpe de Estado, destruir as instituições herdadas das gerações passadas", disse Kim Kataguiri.
Porém, o discurso comum entre eles é de que são necessárias mais investigações para relacionar Bolsonaro ao plano de assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
"Sou um democrata. Fico abismado com um plano para matar um presidente, independente da minha opinião sobre ele. Mas as investigações devem amadurecer", disse ao UOL o deputado Guto Zacarias.
Onças
O 10º Congresso Nacional reuniu cerca de 2 mil simpatizantes da sigla, que pagaram entre R$ 396 (ingresso start) e R$ 3.496 (onça) para participar do evento.
Os detentores de bilhetes onça tiveram direito a cadeiras exclusivas nas primeiras fileiras para as palestras.
Os pagantes passaram o dia no Congresso, que começou às 9h e terminou às 22h. Havia espaços para vendas de refeições, cerveja — restrita aos que usavam pulseiras indicando ter 18 anos ou mais — e souvenirs do MBL, como canecas e camisetas.
O Congresso contou com a presença de vereadores eleitos por capitais do Nordeste —Natal e Salvador— e do fundador do movimento, Renan Passos, que atuou como apresentador das atrações.
Em vez do tom moderado das entrevistas, o discurso para os apoiadores foi provocador. Ao subir no palco, Guto Zacarias, que é negro, disse que queria uma saudação mais forte, ou iria acusar a plateia de "racismo ambiental" — uma piada com o termo utilizado pela ministra Anielle Franco ao comentar a tragédia das chuvas no Rio, em janeiro.
Prometeu também, como deputado, "foder" o MST, o Movimento Sem Terra —ele protocolou na Assembleia uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o movimento.