Indiciado, Bolsonaro tem pouca chance de ir à posse de Trump, diz professor
Indiciado pela Polícia Federal no inquérito sobre tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem poucas chances de conseguir uma autorização especial para deixar o país, afirmou Gustavo Sampaio, professor de direito da UFF (Universidade Federal Fluminense), no UOL News de sábado (23).
Bolsonaro, que teve o passaporte retido pela Polícia Federal, afirmou ontem que comparecerá à posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos em 2025.
Não sei se trata como fato ou se no íntimo ele sabe que isso que ele diz acaba tendo uma conotação política para gerar a atração do seu eleitorado, do seu público fiel. Aquele público bolsonarista que nunca se desvia, jamais se desviará do seu líder, que é Jair Bolsonaro. Eu creio mais nessa possibilidade.
Porque Jair Bolsonaro sabe da carga processual que existe contra ele nos tribunais. A questão é que até essa semana acontecer, eu acreditava mais na possibilidade dele ter em seu favor uma autorização para uma viagem aos Estados Unidos para comparecer à solenidade de posse do presidente Donald Trump.
Gustavo Sampaio, professor de direito da UFF
Para Sampaio, após o indiciamento, a probabilidade de Bolsonaro conseguir uma autorização especial para viajar para os EUA é pequena. Ainda segundo o professor, uma eventual saída clandestina poderia gerar ainda mais consequências ao ex-presidente.
Depois dessa última quarta-feira, com esse indiciamento, indiciamento por três crimes gravíssimos, incluindo de abolição violenta do Estado de Direito, de tentativa de golpe de Estado, eu creio que agora, diante de toda essa desconfiança, associando-se também a um inquérito já concluído sobre a falsificação dos cartões de vacina e outros inquéritos, eu acredito que a chance do ex-presidente Jair Bolsonaro ter em seu favor uma autorização especial para comparecer aos Estados Unidos diminuiu muito.
Agora, é claro: o Brasil é um país de 8.511.000 km², mais de 17 mil quilômetros de fronteira terrestre. Se ele sair clandestinamente, aí estaremos falando de um fato ilícito. Eu espero que isso não aconteça. Eu espero que ele tenha consciência de que a autoridade da decisão judicial tem que ser observada. Até porque, se isso acontecesse, isso traria consequências processuais contra ele.
Se sair do país sem autorização, a situação dele vai ficar, aqui dentro do Brasil, ainda pior.
Gustavo Sampaio, professor de direito da UFF
Golpe dentro do golpe é tradição militar muito clara, diz historiador
O "golpe dentro do golpe", citado pelo general Walter Braga Netto em publicação em seu perfil no X (antigo Twitter), já é uma tradição militar muito clara, afirmou Francisco Carlos Teixeira, historiador e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), no UOL News de sábado (23).
Para exemplificar, o historiador citou dois episódios ocorridos durante a ditadura militar no Brasil (1964 - 1985).
Eu lembraria ao general Braga Netto que o 'golpe dentro do golpe' não é exatamente um esforço de imaginação criativa, porque os próprios militares fizeram isso quando Costa e Silva, o general, emparedou Castello Branco para manter o sistema autoritário e, em seguida, na sua doença, os militares afastaram o vice-presidente Pedro Aleixo e deram posse a uma junta militar.
E em seguida, quando o general Sylvio Frota tentou derrubar o presidente Geisel por discordar da abertura política. Então, o golpe dentro do golpe é uma tradição militar muito clara.
Francisco Carlos Teixeira, historiador e professor da UFRJ
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