Países em desenvolvimento veem acordo climático da COP29 de US$300 bi como insuficiente
BAKU (Reuters) - Os países presentes na cúpula da COP29 em Baku adotaram neste domingo (noite de sábado, 23, em Brasília) uma meta financeira global de US$ 300 bilhões por ano (cerca de R$ 1,3 trilhão) para ajudar as nações mais pobres a lidar com os impactos das mudanças climáticas, um acordo que seus destinatários pretendidos criticaram como lamentavelmente insuficiente.
O acordo, fechado na prorrogação na conferência de duas semanas na capital do Azerbaijão, tinha como objetivo dar impulso aos esforços internacionais para conter o aquecimento global em um ano destinado a ser o mais quente já registrado.
Alguns delegados aplaudiram de pé o acordo no plenário da COP29. Outros criticaram duramente as nações ricas por não fazerem mais e criticaram o anfitrião do Azerbaijão por apressadamente aprovar o plano contencioso.
"Lamento dizer que este documento não passa de uma ilusão de ótica", disse o representante da delegação indiana Chandni Raina na sessão de encerramento da cúpula, minutos após o acordo ter sido assinado. "Isto, em nossa opinião, não abordará a enormidade do desafio que todos enfrentamos. Portanto, nos opomos à adoção deste documento."
O chefe do clima das Nações Unidas, Simon Stiell, reconheceu as negociações difíceis que levaram ao acordo, mas saudou o resultado como uma apólice de seguro para a humanidade contra o aquecimento global.
"Foi uma jornada difícil, mas entregamos um acordo", disse Stiell. "Este acordo manterá o boom da energia limpa crescendo e protegerá bilhões de vidas.
"Mas, como qualquer apólice de seguro, ela só funciona se os prêmios forem pagos integralmente e em dia."
O acordo forneceria US$ 300 bilhões anualmente até 2035, reforçando o compromisso anterior dos países ricos de fornecer US$ 100 bilhõe por ano em financiamento climático até 2020. Essa meta anterior foi cumprida com dois anos de atraso, em 2022, e expira em 2025.
O acordo também estabelece as bases para a cúpula do clima do ano que vem, a ser realizada na floresta amazônica do Brasil, onde os países deverão mapear a próxima década de ação climática.
A cúpula foi ao cerne do debate sobre a responsabilidade financeira dos países industrializados ? cujo uso histórico de combustíveis fósseis causou a maior parte das emissões de gases de efeito estufa ? para compensar outros pelos danos cada vez maiores causados pelas mudanças climáticas.
Também expôs divisões entre governos ricos limitados por orçamentos internos apertados e nações em desenvolvimento sofrendo com os custos de tempestades, inundações e secas.
As negociações deveriam terminar na sexta-feira (22), mas foram para a prorrogação, pois representantes de quase 200 países lutaram para chegar a um consenso. As negociações foram interrompidas no sábado, pois alguns países em desenvolvimento e nações insulares se afastaram frustrados.
"Estamos saindo com uma pequena parcela do financiamento que os países vulneráveis ao clima precisam urgentemente. Não é nem de longe o suficiente, mas é um começo", disse Tina Stege, enviada climática das Ilhas Marshall.
As nações têm buscado financiamento para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais - além dos quais podem ocorrer impactos climáticos catastróficos.
O mundo está atualmente a caminho de um aquecimento de até 3,1°C até o final deste século, de acordo com relatório da ONU, com as emissões globais de gases de efeito estufa e o uso de combustíveis fósseis continuando a aumentar.
O acordo deste domingo não conseguiu estabelecer etapas detalhadas sobre como os países vão agir em relação à promessa da cúpula climática da ONU do ano passado de fazer a transição dos combustíveis fósseis e triplicar a capacidade de energia renovável nesta década. Alguns negociadores disseram que a Arábia Saudita tentou bloquear tal plano durante as negociações.
"Definitivamente, é um desafio obter maior ambição quando você negocia com os sauditas", disse o conselheiro climático dos EUA, John Podesta.
Nenhuma autoridade saudita comentou imediatamente.
(Reportagem de Kate Abnett e Valerie Volcovici; Redação de William James e Richard Valdmanis)