'Delação foi estopim', diz namorada sobre morte de Vinícius Gritzbach
"Um verdadeiro filme de terror". Assim a namorada de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, descreveu a cena da morte do namorado em entrevista ao programa Domingo Espetacular na noite deste domingo (24).
Maria Helena Paiva Antunes, 29, estava com Vinicius quando ele foi morto a tiros de fuzil em um ataque no aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro.
Em entrevista ao programa Domingo Espetacular, ela disse acreditar que a morte esteja ligada à delação feita por Gritzbach contra policiais civis, relatada à Corregedoria oito dias antes do crime. "Se eu soubesse dessa deleção eu seria a primeira pessoa a dizer que a gente não deveria viajar, que não era momento de tirar férias", disse Maria Helena.
O que aconteceu
Para Maria Helena, delação estar relacionada ao assassinato. "Ele falava que não gostava de determinadas atitudes da polícia [civil]", disse a namorada de Vinicius. A Corregedoria ouviu Gritzbach após o MPSP (Ministério Público do Estado de São Paulo) compartilhar com a Polícia Civil trechos da delação em que nomes de agentes eram citados. Ele foi assassinado oito dias depois.
Traição dos seguranças. Ela também não exclui a possibilidade de ele ter sido traído por seus seguranças, policiais militares, mas diz que prefere acreditar na inocência deles "porque o Vinicius acreditava". Durante as filmagens feitas no aeroporto é possível ver os seguranças atrás de Vinicius quando ele é executado.
Tem gente falando que eu deveria ter morrido junto, que eu vou morrer, que minha reação na hora foi fria porque eu não fiquei ali junto ao corpo. Eu não tenho psicológico, eu fiquei desesperada, não sabia o que fazer.
Maria Helena Paiva Antunes
Namorada não sabe se joias seriam armadilha. "Como a viagem foi programada há cerca de um mês e meio, e ele mencionou as joias mais recentemente, não sei se isso já era algo planejado desde o início", disse Maria Helena. Vinícius transportava R$ 1 milhão em joias ao ser assassinado. As peças, incluindo pedras preciosas, colares, anéis e um Rolex, estavam em um porta-joias azul-claro, acompanhado de certificados de autenticidade.
A mala de joias pode ter facilitado a localização do empresário. Fontes próximas indicaram a possibilidade de um dispositivo de rastreamento no estojo, já que o carro dos atiradores estava posicionado estrategicamente. As joias foram entregues à polícia pela namorada de Vinicius.
Uma ligação antecedeu a entrega das joias. Um homem que devia dinheiro a Vinícius indicou um restaurante em São Miguel dos Milagres como ponto de encontro para a entrega das peças. Maria Helena, contudo, disse na entrevista ao Domingo Espetacular que não sabe quem entregou as joias ao namorado. Ela afirmou diversas vezes ao longo da entrevista que não sabia os nomes das pessoas com quem Viniícius lidava ou dos inimigos dele.
O valor da dívida envolvia cifras milionárias. Além das joias, o homem devia R$ 6 milhões a Vinícius e R$ 70 milhões a Cara Preta, morto em 2021, crime pelo qual Gritzbach foi acusado como mandante.
Quem é Maria Helena Paiva Antunes
Maria Paiva conheceu Gritzbach pelo Instagram. Em depoimento à polícia, a modelo afirmou que o relacionamento amoroso entre os dois começou pouco depois do primeiro contato virtual. Eles estavam juntos há cerca de um ano.
Ela não recebeu ameaças diretas. Maria contou que nunca foi ameaçada de morte, mas soube de queixas de Gritzbach sobre ameaças que recebia.
Em 2016, foi candidata a vereadora em Barbosa Ferraz, Paraná. Nascida no município, Maria concorreu pelo PMB (Partido da Mulher Brasileira) e obteve 16 votos, não conseguindo se eleger.
Com mais de 400 mil seguidores, é ativa nas redes sociais. Costuma publicar vídeos com dicas de maquiagem, moda e detalhes de sua rotina pessoal. No dia 17 de novembro, Maria publicou um vídeo no TikTok, mostrando momentos do casal e escrevendo que amaria o empresário "para sempre".
A polícia investiga sua saída apressada da cena do crime. Maria deixou o local em companhia do soldado Samuel Tillvitz da Luz, 29, um dos policiais militares da escolta de Gritzbach. Seu celular foi apreendido para apurar contatos antes e depois do ataque.
A saída de Maria Helena do aeroporto
Maria Paiva e Samuel Tillvitz retornaram ao aeroporto após os disparos. Segundo relato da namorada de Vinícius Gritzbach, o segurança entrou em um mercado por cinco minutos enquanto ela aguardava, antes de ambos voltarem para o lado de fora. O segurança contou que estava à frente de Vinícius e Maria quando o trio foi surpreendido pelos atiradores.
Tillvitz afirmou ter corrido assustado após ouvir os tiros. O segurança relatou que correu por 50 metros, foi até um barranco próximo e, depois, retornou ao terminal 2 do aeroporto. Após subir uma rampa, passar por uma escada rolante e chegar ao saguão, Tillvitz disse ter encontrado a namorada de Gritzbach na porta do terminal.
Os dois pegaram um táxi em direção à residência do empresário. Maria e Samuel seguiram para o Tatuapé, mas, no caminho, receberam uma ligação pedindo que fossem à casa de um amigo da família. Não há detalhes sobre o que foi discutido no local.
Entenda o caso
Gritzbach foi alvejado ao sair do saguão do aeroporto. O empresário desembarcava de uma viagem a Maceió com a namorada quando foi assassinado por dois homens encapuzados armados com fuzis.
Os atiradores fugiram em um Gol preto. Após o ataque, o veículo utilizado pelos criminosos foi abandonado nas proximidades do aeroporto, contendo munições de fuzil e um colete à prova de balas.
O empresário foi atingido por dez disparos. Quatro tiros acertaram o braço direito, dois o rosto, e os demais as costas, perna esquerda, tórax e região entre cintura e costela. Ele morreu no local.
A escolta de segurança era composta por quatro PMs. Contratados pelo empresário, os policiais usavam um veículo Volkswagen Amarok, que teve falha mecânica e foi deixado em um posto de combustível antes de acessar o desembarque.
Um motorista de aplicativo também foi vítima do ataque. Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi atingido por um tiro nas costas. Levado à UTI, não resistiu. A polícia afirma que ele não tinha ligação com o empresário.
O que a polícia está investigando
Polícia Federal e a Polícia Civil de São Paulo, por meio do DHPP, conduzem a apuração do homicídio.Câmeras de segurança flagraram os assassinos abandonando o Gol preto usado na fuga.
Seguranças são investigados por suposta negligência. Leandro Ortiz, Adolfo Oliveira Chagas, Jefferson Silva Marques de Sousa e Romarks César Ferreira de Lima faziam a escolta do empresário, mas a polícia suspeita que não tenham agido conforme esperado durante a emboscada.
Problema mecânico alterou o plano da escolta. O Volkswagen Amarok, originalmente destinado ao transporte do casal e bastante usado por ele, apresentou falhas, e os seguranças chegaram ao terminal em uma Trailblazer.
Celulares foram apreendidos para investigação. Os aparelhos do filho de Vinícius, de 11 anos, e de José Luiz Vilela Bittencourt, amigo do empresário, estão sob análise para apurar diálogos e contatos realizados.
Um suspeito teve a prisão decretada e está foragido. Kauê do Amaral Coelho, 29, foi identificado como o homem que avisou aos atiradores sobre a saída da vítima do terminal. Câmeras de segurança teriam o avistado no aeroporto no momento do ataque, acompanhando os movimentos de Gritzbach e alertando os executores.
Um segundo suspeito de envolvimento no crime também foi identificado. Trata-se de Matheus Augusto de Castro Mota. A prisão temporária dele teria sido decretada, mas a Secretaria Estadual da Segurança Pública não confirma essa informação e diz que todos os detalhes serão preservados para garantir a autonomia da investigação, que corre sob sigilo.
Quem é o Vinicius Gritzbach
Gritzbach vivia sob ameaças de morte e havia recompensa por sua execução. Ele era acusado de envolvimento na morte de um narcotraficante do PCC e de delatar policiais civis envolvidos em corrupção.
Áudios revelaram negociações para sua morte. Em abril, o empresário apresentou gravações ao Ministério Público mostrando a oferta de R$ 3 milhões para sua execução.
O empresário era réu por comandar assassinatos. Ele enfrentava acusações pela morte de dois criminosos, incluindo Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e seu motorista Antônio Corona Neto, o Sem Sangue. Noé Alves Schaum, acusado de ser o responsável pelas execuções, foi assassinado em 2022, com a cabeça decepada.
Gritzbach assinou um acordo de delação premiada em abril. O empresário comprometeu-se a fornecer informações sobre membros do PCC e esquemas de lavagem de dinheiro. Ele revelou propriedades compradas por narcotraficantes na zona leste de São Paulo e em Bertioga, registradas no nome de terceiros.
A segunda delação implicaria agentes da Polícia Civil. Segundo a promotoria, Gritzbach planejava apontar a ligação de policiais com o PCC. Uma semana antes de ser assassinado, ele acusou policiais de terem levado itens de sua casa e identificado um dos relógios em fotos publicadas nas redes sociais por um dos agentes. As imagens foram apagadas após a denúncia.