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Guerra cultural bolsonarista extrapola polarização, destaca professor

do UOL

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/11/2024 18h51

A guerra cultural defendida pelo bolsonarismo extrapola a polarização, que é a essência da política, e constrói uma radicalização redutiva, pontuou João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), na edição do UOL News deste domingo (24).

Não há nenhum problema em ser de direita, de centro, nenhum problema. Agora, a extrema direita, isso é bem revelador e mostra o caráter militarista da extrema direita brasileira. O bolsonarismo não é compreensível sem essa tradição militar. Eles sempre falaram em guerra cultural.

Porque o Exército, as Forças Armadas, elas não estão construídas para dialogar, para encontrar consensos entre diferenças, para conciliar alteridades. O Exército e as Forças Armadas têm como principal função a defesa da integridade territorial e sobretudo a neutralização do inimigo, seja externo ou interno. Neutralização é uma linguagem militar para eliminação.
João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj

Para o professor, a postura do movimento bolsonarista extrapola a polarização.

Não é um movimento polarizador. A polarização é a essência da política. Eu sou de esquerda, você é de direita, ocupamos polos diversos e precisamos, com argumentos, convencer o eleitorado. E ao chegar ao poder, não impomos 100% da nossa visão do mundo. Negociamos, fazemos concessões, dialogamos.

Mas se eu digo que o que eu defendo é guerra cultural, não é mais polarização. Esse é um grave erro que cometemos e naturalizamos. É uma radicalização que reduz o mundo à projeção de um espelho, reduz o diálogo ao eco da minha voz, isto é, tudo aquilo que é o outro vira inimigo interno que deve ser eliminado.
João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj

Ainda de acordo com João Cezar de Castro Rocha, quem mais perdeu com o bolsonarismo não foi a esquerda, mas a própria direita.

Então, isso é bem importante, porque um dos efeitos nem sempre destacados do bolsonarismo na vida política brasileira foi a destruição da direita. Destruição, entusiasmo e passar do ponto. Foi a redução da direita a um quase nada. Quem mais sofreu com o bolsonarismo no Brasil não foi a esquerda. O PT voltou ao poder. Quem mais sofreu com o bolsonarismo no país foi o campo político da direita e o campo político do centro.
João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj

Não podemos normalizar participação do Exército na política, diz professora

A participação do Exército na política não pode ser normalizada, destacou Tathiana Chicarino, professora da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), no UOL News deste domingo (24).

Por que os militares não têm que estar na política? A política e a democracia são algo que inventamos enquanto sociedade para que a gente pudesse lidar com os nossos conflitos, com as nossas diferenças, porque nós somos diferentes.

Quando a gente fala dos militares, o que é o elemento dos militares, das Forças Armadas ou do Exército? É a força, não é o diálogo. Portanto, o conflito é tratado nessa chave da força. De quem detém a arma. E aí, não há democracia possível.

Então, a gente precisa, sim, dizer. O Exército existe nos Estados, só que ele não pode, em hipótese nenhuma, participar da política. Nós não podemos normalizar. Algo que é muito parte da nossa história.
Tathiana Chicarino, professora da Fespsp

Assista ao comentário:

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h com apresentação de Fabíola Cidral e às 17h com Diego Sarza. O programa é sempre ao vivo.

Quando: De segunda a sexta, às 10h e 17h. Aos sábados às 11h e 17h, e aos domingos às 17h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL. O Canal UOL também está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.

Veja a íntegra do programa:

"Não é um movimento polarizador. A polarização é a essência da política. Eu sou de esquerda, você é de direita, ocupamos polos diversos e precisamos, com argumentos, convencer o eleitorado. E ao chegar ao poder, não impomos 100% da nossa visão do mundo. Negociamos, fazemos concessões, dialogamos."

"Mas se eu digo que o que eu defendo é guerra cultural, não é mais polarização, esse é um grave erro que nós cometemos e naturalizamos. É uma radicalização que reduz o mundo à projeção de um espelho, reduz o diálogo ao eco da minha voz, isto é, Bolsonaro, e tudo aquilo que é o outro vira inimigo interno que deve ser eliminado."

"Então, isso é bem importante, porque um dos efeitos nem sempre destacados do bolsonarismo na vida política brasileira foi a destruição da direita. Destruição, entusiasmo e passar do ponto. Foi a redução da direita a um quase nada. Quem mais sofreu com o bolsonarismo no Brasil não foi a esquerda. O PT voltou ao poder. Quem mais sofreu com o bolsonarismo no país foi o campo político da direita e o campo político do centro."
João Cezar de Castro Rocha, professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Também ao UOL News deste domingo, a professor Tathiana Chicarino alertou que o Exército não pode em hipótese alguma participar da política e nós não podemos mais normalizar essa situação.

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