Confederação Israelita ignora Bolsonaro e acena a outros líderes de direita
O líder da Conib (Confederação Israelita do Brasil), Claudio Lottenberg, declarou apoio a governadores de direita na eleição presidencial de 2026.
O que aconteceu
Lottenberg deu a declaração durante jantar no clube Hebraica na noite deste sábado (23). O evento contou com a presença dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil -GO) e Claudio Castro (PL-RJ). Lottenberg abriu o evento cumprimentando os políticos presentes, entre eles, Gilberto Kassab (PSD), a quem se referiu como "um dos maiores mestres da política".
Jantar teve presença de diversos políticos de direita. Além dos govenadores, participaram o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). O ministro do STF André Mendonça também estava entre os convidados.
Lottenberg criticou posições do Brasil na guerra entre Israel e Palestina. Sem citar o presidente Lula (PT), disse que não convidou o atual mandatário, mas que sabia que o próximo presidente estaria entre os presentes e foi muito aplaudido.
Perguntaram, Gilberto [Kassab], se eu havia convidado o presidente para estar presente [no jantar]. Quando vejo aqui o governador Claudio [Castro], o governador Tarcísio [de Freitas], o governador [Ronaldo] Caiado, esses governadores que nos telefonam, nos prestigiam. Posso dizer o seguinte: eu não convidei o atual presidente, mas o futuro presidente do Brasil está nessa sala
Claudio Lottenberg, presidente da Conib
Declarações de Lottenberg animaram público. Em 2022, a Conib publicou um manifesto dizendo que é "democrática" e "plural", e que não apoia candidatos oficialmente.
Caiado, Castro, Mendonça e Tarcísio discursaram no jantar. Nenhum deles aproveitou o palco para defender ou citar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi indiciado pela PF no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado e se encontra inelegível até 2030.
Mendonça foi indicado ao STF por Bolsonaro. Tarcísio e Castro são aliados do ex-presidente. Caiado apoiou o governo de Bolsonaro, mas eles romperam neste ano —ele pretende disputar as presidenciais de 2026.
Caiado foi o único que deu declarações à imprensa sobre Bolsonaro. "E daí?", disse, referindo-se ao indiciamento do ex-presidente. "Só tenho uma certeza: eu serei candidato", disse ao UOL. No palco, encerrou o discurso num tom mais conciliador: "Vamos nos unir para vencer essas eleições".
Castro e Mendonça não se referiram diretamente às eleições. O governador e o ministro tangenciaram a política ao abordar o conflito Israel-Palestina. Castro se referiu a tempos de "bem contra o mal".
Tarcísio foi o discurso mais esperado. No fim da noite, o governador criticou o atentado do Hamas contra Israel de 2023: "Orquestrado por quem quer pregar o ódio e o terror. E aí fica muito claro qual é o lado correto da história". Também citou um confronto de narrativas e se referiu a correspondentes de guerra como "porta-vozes" do Hamas. Foi aplaudido de pé.
'E daí?'
Tarcísio já havia defendido o ex-presidente, referindo-se ao recente indiciamento como "narrativa". "Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas. É preciso ser muito responsável sobre acusações graves como essa", escreveu no X (ex-Twitter).
Caiado também já havia se referido às investigações como "factoides". "Está cansativo esse negócio de extrema para cá, extrema direita para lá. Ninguém está aguentando isso mais. Já cansou", afirmou o governador à colunista do UOL Andreza Matais.
Zambelli também minimizou o assunto no jantar. "Indiciamento nada mais é do que encontrar indícios, ou seja, ele [Bolsonaro] não é réu ainda. Eu mesma fui indiciada várias vezes, e foi comprovada minha inocência", disse ao UOL.
Não foram muitos os aliados de Bolsonaro que se pronunciaram até agora. A direita ficou "aturdida" com os acontecimentos desta semana, reportou a colunista do UOL Raquel Landim. Os que estão se manifestando minimizam a investigação da PF, tratando-a como "cortina de fumaça".