Recentemente vendi um dos meus carros, que marcava cerca de 99.650 quilômetros no odômetro. Na negociação com o comprador, um seguidor que mora em cidade a mais de 400 km de distância da minha, me ofereci para levar o carro - assim faria uma última e prazerosa viagem com ele.
Quando faltavam poucos quilômetros para chegar, o odômetro atingiu a marca dos 99.999 km. Sabe o que aconteceu após isso? Nada além de o odômetro virar para os 100 mil km.
Segui viagem sem nenhuma surpresa, como barulhos estranhos, peças se soltando ou com alguma explosão que muitos acreditam acontecer com carros muito rodados. O relato foi real, inclusive registrei esse momento.
Sim, relatei uma obviedade, mas o mercado de usados não enxerga de maneira tão objetiva nessas horas. Existe um receio muito grande de carros com alta quilometragem, principalmente quando passam dos 100 mil km, uma marca que parece dividir os automóveis bons dos ruins.
Para quem procura um usado, o receio de encontrar um veículo com quilometragem acima dessa 'temida' marca é tão forte que frequentemente ignora outros critérios importantes, julgando a qualidade do carro apenas pelo número no odômetro.
Esse preconceito leva alguns vendedores, sejam indivíduos ou concessionárias, a adulterarem a quilometragem dos veículos, tornando-os mais atraentes para compradores desprevenidos. Ninguém gosta de ser enganado, mas essa prática persiste devido à falta de informação e à ideia equivocada de que carros muito rodados são problemáticos.
Como especialista, vejo diariamente que donos cuidadosos conseguem manter seus veículos em ótimo estado, independentemente da quilometragem.
Mesmo assim, muitos carros com alta quilometragem continuam encalhados em plataformas de venda. A maioria dos compradores sequer consideram avaliar esses veículos. Entretanto, garanto que é possível fazer bons negócios com carros mais rodados.
Aqui vão alguns pontos que devem ser considerados para quem está disposto a comprar um carro usado com quilometragem mais alta.
Quilometragem média esperada: a primeira coisa que você precisa saber é que o brasileiro roda em média cerca de 15 mil km por ano. Sendo assim, fica fácil calcular uma quilometragem aceitável para a idade de cada carro. No caso de um com oito anos de uso, ele deve ter algo em torno de 120 mil km para ser considerado dentro da média.
Histórico de manutenção: é fundamental que um carro mais rodado tenha registro das manutenções. Nesse exemplo de um carro com 120 mil km, é desejável que tenha passado por manutenções mais pesadas, como revisões em freios e suspensão, além de componentes de desgaste do motor, como velas e correias, e também substituição de fluído de câmbio automático.
Nem sempre os donos fazem isso, portanto não dá para acreditar apenas no quer for dito por eles, é preciso comprovar com registros das oficinas que fizeram os serviços.
Teste de rodagem: o teste de rodagem, ou test-drive, vai revelar se o carro é realmente bom, independentemente de quanto tenha rodado. Se bem mantido pelo dono, um carro com alta quilometragem também vai ser silencioso, sem folgas ou falhas. Mas é preciso fazer para saber, e percebo que muitos compradores tem receio de pedir isso para o vendedor.
Preço justo: é esperado que um carro menos rodado vai valer mais que outro com maior quilometragem, se considerarmos que ambos estão nas mesmas condições de conservação. Sendo assim, uma das vantagens é poder barganhar mais na negociação.
Ainda usando o exemplo de um carro com 120 mil km, imaginando que esteja em ótimo estado de conservação e manutenção, tem tudo para valer o valor de mercado. Quanto mais detalhes forem revelados, como por exemplo um jogo de pneus que precisa ser trocado, mais poder de barganha o comprador vai ter.
Fato é que o vendedor com um carro desse sabe que o interesse é menor, portanto é prudente que esteja aberto para negociar.
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