O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não precisa somente mudar o seu discurso após a morte do estudante de medicina baleado pela PM, mas deve adotar outra atitude em relação à segurança pública, opinou o colunista Josias de Souza no UOL News desta sexta-feira (22).
Após a morte de Marco Aurélio por um tiro durante uma abordagem policial na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, Tarcísio publicou uma nota no X lamentando a morte do jovem, dizendo que "essa não é a conduta que a polícia deve ter", além de declarar que a Polícia Militar é "a mais preparada do país e está nas ruas para proteger".
É bom que o governador agora, diante de um caso que tem visibilidade, um jovem de classe média, cujos pais são bem postos na sociedade paulistana, são dois médicos, é bom que o governador mude o seu comportamento, mas ele precisa, não só na declaração, é preciso que o comportamento dele mude nas atitudes.
Se ocorrer uma investigação séria da Corregedoria, é preciso que a polícia dê os meios. Nós vamos chegar à conclusão de que o procedimento foi inadequado e ali houve uma execução mesmo. Agora, é notório que houve uma mudança na qualidade do serviço policial em São Paulo, desde que o Tarcísio de Freitas assumiu. E foi uma mudança para pior, infelizmente. E a deterioração aparece nas estatísticas, aparece a olho nu.
O governador acabou amarrando uma bola de ferro no próprio tornozelo quando defendeu intransigentemente o aparato policial de São Paulo. Nada é mais suspeito do que alguma coisa que está acima de qualquer suspeita.
O governador deu declarações muito inapropriadas quando a comissão foi se queixar no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas da deterioração do serviço de polícia em São Paulo. O governador disse: 'Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, onde seja, que eu não tô nem aí'. Esse não tô nem aí do Tarcísio soou, de fato, como aquela frase do Bolsonaro. 'E daí? Eu lamento, quer que eu faça o quê? Mas não sou Messias, não faço milagre'. Assim o Bolsonaro se referiu lá atrás às vítimas da Covid, não é?
Não é comportamento de um gestor público. E depois o governador deu sucessivas declarações que deixaram muito claro que ele aprovava de forma incondicional o trabalho da polícia.
Com isso ele estimulou os maus policiais a arregaçarem as mangas. E aí nós estamos vendo, vimos lá no litoral, na Baixada Santista, os cadáveres surgiram as pencas no rastro da ação policial. As evidências de que houve excessos também surgiram em catadupas, as denúncias vieram à corregedoria documentadas.
Josias de Souza, colunista
Josias: Tática de Bolsonaro de negar crime e terceirizar não cola mais
Jair Bolsonaro recorre à conhecida estratégia de negar seu envolvimento na trama golpista e terceirizar a culpa pelos crimes cometidos, mas esta tática não funciona mais, disse o colunista Josias de Souza no UOL News desta sexta (22).
Ontem, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e mais 36 pessoas sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O ex-presidente afirmou em entrevista à revista Veja que nunca discutiu qualquer estratégia para matar autoridades. Segundo a PF, militares próximos ao governo dele elaboraram um plano para assassinar Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
A defesa do Bolsonaro passa por dois pilares. O primeiro é a terceirização da culpa e o segundo, a vitimização.
Bolsonaro opera sempre da mesma maneira. Sempre que o acusam de algum crime, ele nega; quando surgem as provas, terceiriza as responsabilidades. Ele nunca é responsável por nada, por coisa nenhuma.
Ocorre que agora, tanto a vitimização quanto a terceirização de responsabilidades tornaram-se estratégias gastas. Bolsonaro agora tem diante dele um inquérito com mais de 800 páginas, que resultou no indiciamento dele e de outras 36 pessoas. E há nessas mais de 800 páginas uma profusão de evidências que vinculam o Bolsonaro a essa criminalidade golpista.
Então, esse lero-lero do 'eu não tenho nada a ver com isso' não cola diante das evidências que lá estão. Ele precisará arrumar algo que se pareça com uma defesa crível. A vitimização perdeu o sentido e o nexo.
Josias de Souza, colunista do UOL
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