Hospitais de Gaza podem parar de funcionar em 48h por falta de combustível
Os hospitais da Faixa de Gaza vão parar ou reduzir suas atividades dentro de 48 horas por falta de combustível, alertou nesta sexta-feira (22) o Ministério da Saúde do Hamas, no território palestino atingido por uma grave crise humanitária e onde o exército israelense realizou novos bombardeios.
As reações internacionais continuam a aumentar depois que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão na quinta-feira (21) para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, acusados de crimes contra a humanidade e crimes de guerra no conflito desencadeado em Gaza pelo ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino Hamas em solo israelense em 7 de outubro de 2023.
O Ministério da Saúde do Hamas na Faixa de Gaza, onde o movimento islâmico chegou ao poder em 2007, emitiu um "aviso urgente nesta sexta-feira de que todos os hospitais na Faixa de Gaza deixarão de funcionar ou reduzirão seus serviços em 48 horas devido à obstrução de Israel à entrada de combustível" no pequeno território sitiado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse estar "profundamente preocupada" com a situação de 80 pacientes, incluindo 8 em tratamento intensivo, e com a equipe do hospital Kamal Adwan, um dos dois únicos hospitais que funcionam parcialmente no norte de Gaza.
Um ataque de drones atingiu o estabelecimento no dia anterior, danificando o gerador e o tanque de água, acrescentou o chefe da Organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Por sua vez, a Defesa Civil relatou doze mortos e vários feridos em ataques israelenses no leste e no sul da cidade de Gaza.
Crianças inocentes
"Perdi toda a minha família, 10 pessoas, e só sobrou eu", disse Belal, em uma ala do hospital Al-Ahli, para onde algumas das vítimas foram levadas. "Havia (...) crianças inocentes. O que eles fizeram de errado?", disse outro homem, ao lado de um menino inconsciente em uma cama de hospital.
As autoridades israelenses alegaram ter "eliminado cinco terroristas do Hamas" durante um ataque na área de Beit Lahia (norte) na noite de quarta-feira.
O ataque deixou dezenas de mortos e desaparecidos, de acordo com fontes médicas palestinas.
De acordo com as autoridades israelenses, dois dos homens mortos foram responsáveis por "assassinatos e sequestros" no dia do ataque, em 7 de outubro de 2023.
Nova ofensiva israelense
Alegando querer impedir que os combatentes do Hamas reconstituíssem suas forças na área, o exército israelense lançou uma nova e grande ofensiva no norte do território palestino no início de outubro, que já causou mais de mil mortes, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
O ataque de 7 de outubro resultou na morte de 1.206 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, incluindo reféns mortos ou que morreram em cativeiro.
Naquele dia, 251 pessoas foram sequestradas, 97 das quais permanecem como reféns em Gaza, incluindo 34 declaradas mortas pelo exército.
A ofensiva aérea e depois terrestre lançada em Gaza em retaliação por Israel deixou pelo menos 44.056 pessoas mortas, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
A agência de coordenação humanitária da ONU (Ocha) disse na sexta-feira que "pelo menos 333 trabalhadores humanitários" foram mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra.
Após mais de um ano de conflito, o TPI enfureceu Israel ao emitir mandados de prisão sem precedentes para Netanyahu e Gallant na quinta-feira.
Desafio
Nesta sexta-feira (22), o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, um firme defensor do líder israelense, anunciou que pretendia convidar Netanyahu para ir à Hungria em "desafio".
O Irã, por sua vez, viu na decisão do TPI "a morte política do regime sionista". A França disse que tomou nota da decisão e o Reino Unido afirmou que "respeitaria suas obrigações legais".
O Hamas saudou o "importante passo em direção à justiça", sem mencionar o mandado de prisão anunciado simultaneamente pelo TPI para o chefe do braço armado do movimento. Israel anunciou neste verão que havia matado Mohammed Deif, considerado um dos mentores do 7 de outubro, mas o Hamas não confirmou sua morte.
Em 23 de setembro, o exército israelense também lançou uma campanha de ataques maciços no Líbano contra o Hezbollah pró-iraniano, que havia aberto uma frente para apoiar o Hamas após o 7 de outubro.
Novos bombardeios abalaram os subúrbios de Beirute, um reduto do movimento islâmico, na sexta-feira, após um pedido israelense de evacuação.
Cinco equipes de resgate afiliadas ao Hezbollah também foram mortas no sul do Líbano, onde o exército israelense vem realizando incursões terrestres contra os combatentes do Hezbollah desde 30 de setembro, de acordo com o Ministério da Saúde libanês.
Israel diz que quer manter o Hezbollah sob controle para permitir o retorno de cerca de 60.000 pessoas que vivem no norte do país e que foram desalojadas pelas trocas de tiros com o movimento libanês. No Líbano, dezenas de milhares de moradores também foram deslocados.
(Com AFP)