Por que plano golpista deu errado? Quem é Juca? As perguntas sem respostas
A Polícia Federal encontrou um plano de golpe detalhado que visava matar o presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Embora o documento tenha informações específicas, como a data para a ação, alguns pontos seguem sem respostas. Veja abaixo três perguntas sem conclusões definitivas:
Por que o plano não foi colocado em prática?
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, avaliou que o plano "só não ocorreu por detalhe". Ele comentou a operação deflagrada pela PF ao conversar com a imprensa durante o G20.
Estamos falando de uma ação concreta, objetiva, que traz elementos novos, extremamente graves, sobre a participação de pessoas do núcleo de poder do governo [Jair] Bolsonaro no golpe que tentaram executar no Brasil, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente eleitos.
Paulo Pimenta
Outros elementos podem indicar por que houve falha, mas não há informações conclusivas sobre o motivo:
Desmobilização de última hora: Militares presos chegaram a se deslocar até a casa de Moraes em Brasília no dia 15 de dezembro, data planejada para executar o plano. Mas mensagens e registros de antenas de celular e deslocamento de carros indicam que eles desmobilizaram de última hora após a sessão do STF que estava ocorrendo no dia ser encerrada mais cedo.
Ausência de algumas decisões: trecho do documento golpista encontrado pela PF com o general Mário Fernandes diz que algumas possibilidades foram levantadas para a ação principal, mas "ainda são necessárias avaliações quanto aos locais viáveis, condições para execução (tiro à curta, média ou longa distância, emprego de munição e/ou artefato explosivo) (...) O nosso rec (sic) também está levantando as condições para tal L Aç (linha de ação, segundo a PF)".
Quem é Juca?
O documento usa os apelidos "Jeca" para se referir a Lula, "Joca" para se referir a Alckmin e "professora" para tratar de Moraes. Também menciona uma terceira pessoa identificada como "Juca", que seria alvo de ações após a eventual morte do presidente e do vice-presidente. Mas a PF ainda não conseguiu identificar quem seria Juca e nem a motivação para esse ataque.
Como Geraldo Alckmin seria morto?
Segundo a PF, o plano é explícito em considerar envenenamento e uso de artefatos explosivos para matar Lula e Moraes, mas não indica como seria a morte de Alckmin. "Para execução do presidente Lula, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", diz o plano golpista.
Já o plano para eliminar Moraes demandava meios mais pesados. O documento cita não só a possibilidade de envenenamento em evento oficial público, mas também o uso de "artefato explosivo".
O que se sabe sobre o caso
Os militares presos são: Hélio Ferreira Lima, Mario Fernandes, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo. Também foi detido Wladimir Matos Soares, policial federal.
O plano seria colocado em prática em dezembro de 2022. As investigações também detectaram que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) discutiu, após sua derrota nas eleições, uma minuta de decreto golpista com os comandantes das Forças Armadas, com o objetivo de tentar impedir a posse de Lula.
A investigação apontou que o documento do plano foi impresso pelo general Mário Fernandes. Segundo a PF, o material foi impresso no Palácio do Planalto, dias após a derrota Bolsonaro para Lula, nas eleições de 2022.
Material surpreendeu investigadores pelo nível de detalhamento, armamentos cogitados e cenários traçados. Chamado de "Punhal Verde Amarelo", o planejamento encontrado com o militar da reserva que atuou na Secretaria-Geral da Presidência durante a gestão Bolsonaro lista cenários para eliminar os alvos.
Suspeito esteve próximo a Lula. Um dos presos na operação fez a segurança de Lula antes da posse como presidente. Segundo a investigação, Wladimir Matos Soares passava informações sobre o dia a dia de Lula a pessoas próximas a Bolsonaro.
Plano previa um possível confronto com seguranças de Moraes. Segundo a PF, os militares já estavam monitorando os trajetos feitos pelo ministro e tinham levantado os armamentos necessários para sequestrar ou executar o ministro. O documento apreendido com o general Mario Fernandes falava em "danos colaterais passiveis e aceitáveis", que incluíam a morte de toda a equipe de segurança do ministro do STF.