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Hipótese de ação de navio chinês pode significar reviravolta no caso de cabos danificados no mar Báltico

21/11/2024 14h09

Dois cabos submarinos danificados e um barco chinês na mira da investigação. As autoridades dinamarquesas e suecas estão interessadas na trajetória do cargueiro Yi Peng 3, que navegava no Mar Báltico quando dois cabos submarinos foram danificados, na segunda-feira (18). 

"Podemos confirmar a presença do Yi Peng 3", garantiu o Ministério da Defesa dinamarquês na quarta-feira, 20 de novembro. O navio chinês deixou um porto russo perto de São Petersburgo, na segunda-feira, para chegar a Port Said, no Egito. Na quarta-feira, ele parecia estar imobilizado, pouco depois de deixar o estreito de Øresund, entre a ilha dinamarquesa da Zelândia e a Suécia.

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"As autoridades dinamarquesas devem estar ouvindo a tripulação para decidir o que fazer a seguir", observa Christian Bueger, especialista em segurança marítima da Universidade de Copenhagen.

Ministro da Defesa alemão tem pressa

De momento, nada incrimina formalmente o Yi Peng 3. "Sabemos simplesmente que os cabos submarinos de fibra óptica C-Lion1 [entre a Finlândia e a Alemanha] e BCS [entre a Suécia e a Lituânia] foram danificados, mas não se sabe por quem, nem por quê", resume Christian Bueger.

A trajetória do cargueiro Yi Peng 3 intriga as autoridades porque seguiu com precisão a rota do cabo C-Lion1 e o navio estava muito próximo do local onde o cabo BCS foi danificado, no momento do incidente.

Na terça-feira (19), o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, se apressou em apontar um provável ato de sabotagem, sugerindo que a Rússia era o suspeito número 1. Mas ele não forneceu nenhuma prova, e esta suposição acelerada pode "parecer surpreendente porque limita seriamente o espaço de manobra para uma resposta diplomática", analisa Christian Bueger.

Na verdade, uma vez que um navio chinês aparece como suspeito real, as acusações de Boris Pistorius "equivalem potencialmente a acusar a China de sabotar a infra-estrutura alemã", diz Bueger.

Construído em 2001, o navio Yi Peng 3, foi adquirido em 2016 pela Ningbo Yipeng Shipping Co, uma empresa de navegação chinesa que possui apenas um outro navio, segundo o Financial Times. Contactado pelo jornal britânico, um gestor da empresa chinesa afirmou simplesmente que as autoridades chinesas lhe ordenaram que "cooperasse com os investigadores".

Outros incidentes

Esta não é a primeira vez que um barco chinês se vê envolvido num incidente no Mar Báltico. Em 2023, o navio de carga Newnew Polar Bear danificou o gasoduto subaquático Balticconnector, que liga a Finlândia à Estónia. Pequim admitiu a culpa, mas a investigação liderada pela China concluiu que foi um acidente.

Há, no entanto, uma diferença significativa em relação ao Yi Peng 3. O Newnew Polar Bear pode ter pertencido a um armador chinês, mas tinha a bandeira de Hong Kong e ligações com a Rússia, através de sua tripulação. Nada disso acontece com o Yi Peng 3 que parece ser 100% chinês, mesmo que ainda não se saiba a composição de sua tripulação e a nacionalidade do capitão.

O envolvimento de um navio chinês numa operação de sabotagem seria "muito surpreendente" para Christian Bueger. Os chineses estão certamente habituados a operações híbridas no mar, ou seja, que permanecem abaixo do limiar do confronto direto. Mas não nas águas europeias, como no Mar Báltico.

Desde o início da grande ofensiva russa na Ucrânia, Moscou sempre se reservou o direito de recorrer a este tipo de operação contra aqueles que, aos olhos do Kremlin, ajudam os ucranianos. Mas se a China também se envolver - em concertação com a Rússia ou não - "seria uma provocação sem precedentes", assegura Christian Bueger.

Campo de batalha híbrido

Seria também uma escalada das tensões no Mar Báltico. Esta região representa um dos principais campos de batalha para estas operações híbridas. Houve a sabotagem em 2022 dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, do cabo submarino que liga as Ilhas Faroé à Internet também danificado em 2022, ou mesmo operações de bloqueio de sinais GPS.

Os mares se prestam bem a este tipo de operação porque, por natureza, "é mais difícil monitorar e controlar as atividades ali e, portanto, identificar comportamentos suspeitos para prevenir atividades maliciosas", sublinha Basil Germond, especialista em questões de segurança internacional e marítima. na Universidade de Lancaster.

Rússia acusada de confundir mapas e GPS no Mar Báltico

Os cabos submarinos representam os alvos principais. "É barato e muito fácil de danificá-los", observa Christian Bueger. E o efeito é garantido: como a Internet é considerada infraestrutura crítica, qualquer dano causado a um cabo provoca uma grande e custosa mobilização para investigar e reparar o dano.

No entanto, atacar cabos submarinos de Internet na Europa não causa danos consideráveis. "Há muita redundância na rede europeia", explica Christian Bueger. Em outras palavras, as operadoras de telecomunicações fornecem soluções de emergência caso um cabo seja danificado.

Como tal, a "sabotagem" dos cabos C-Lion1 e BCS poderá ser um "balão de ensaio", segundo especialistas entrevistados pela France 24. Desde as explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, em setembro de 2022, as autoridades europeias procuram reforçar a cooperação para prevenir ou combater operações híbridas nesta região. Recentemente, foram tomadas medidas europeias para combater os casos de sabotagem.

A rapidez da reacção, especialmente por parte das autoridades dinamarquesas, é um bom presságio para os especialistas entrevistados. "Isto demonstra que a Europa reforçou a sua capacidade de responder rapidamente a este tipo de incidente, o que é crucial para dissuadir os mal-intencionados, tornando mais difícil que neguem sua responsabilidade", conclui Basil Germond.

(Com France24)

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