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Em meio à crise política, França enfrenta degradação econômica e mobilização de trabalhadores

21/11/2024 12h53

A imprensa francesa prevê meses de forte mobilização social na França, devido à crise que atinge setores da indústria, a agricultura e já provoca retração no comércio. O desemprego vai crescer no momento em que o país enfrenta uma crise política e um rombo nas contas públicas, que não permite ao Estado amortecer a queda da atividade econômica.

 Em entrevista ao Le Parisien, o ministro da Economia, Antoine Armand, diz que as empresas não devem ser a única variável de ajuste no orçamento, para reduzir o déficit de 6,1% do PIB.

Em sua manchete de capa, o jornal Libération diz que o primeiro-ministro de direita, Michel Barnier, terá um inverno agitado. O país enfrenta simultaneamente protestos e greves de ferroviários, agricultores, funcionários públicos e trabalhadores revoltados com os anúncios de fechamento de fábricas. 

Nesta quinta-feira, os agricultores continuam pelo quarto dia consecutivo com bloqueios a estradas. Membros do sindicato Coordenação Rural impedem  novamente o acesso ao sexto maior porto da França, em Bordeaux (oeste), para aumentar a pressão contra a assinatura do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Com pneus e tratores, eles fecharam o acesso a um depósito de petróleo, o que gerou uma longa fila de caminhões. 

Os agricultores também exigem do governo soluções estruturais para a profissão, como aumentos de salários e uma redução das normas de qualidade que são acrescentadas pela legislação francesa às diretrizes da União Europeia, o que torna os produtos franceses mais caros e menos competitivos. 

Ministro da Economia critica aumento de impostos

Em meio a essa mobilização, o governo francês tenta adotar um orçamento para 2025, que sofre ataques de todos os partidos.

Em entrevista ao Le Parisien, o ministro da Economia, Antoine Armand, do partido do presidente Emmanuel Macron, diz ser contra a proposta do primeiro-ministro de acabar com medidas de isenção fiscal concedidas às empresas, com o objetivo de recuperar € 4 bilhões aos cofres públicos. Ele considera que as empresas não devem ser a única variável de ajuste no orçamento, para reduzir o déficit.

Segundo Armand, "não é elevando os impostos das empresas e aumentando o custo do trabalho que o governo irá conseguir estimular o crescimento da economia e criar empregos". Na avaliação do ministro, não é possível aumentar a tributação de pequenas e médias empresas (TPE e PME) num país que já tem o nível de despesas públicas mais elevado da zona do euro. "Já somos o país que mais tributa a economia, que gasta em excesso e não trabalha o suficiente. A resposta deve ser trabalhar mais e não o contrário", afirma. "Tenhamos a coragem de fazer economias", diz Armand, em mensagem endereçada ao primeiro-ministro Barnier. 

Durante o último mês, as peças orçamentárias com retificações para o ano de 2024 e de 2025 foram debatidas na Assembleia de Deputados. A esquerda inseriu novos impostos e a extrema direita apresentou emendas para impedir que reajustes tributários pesem sobre as pensões de aposentadoria e os salários mais baixos. As emendas parlamentares desmantelaram o objetivo do governo de baixar o déficit público a 5% em 2025. O texto chega ao Senado na próxima segunda-feira.

De acordo com o diáro econômico Les Echos, a redução dos impostos de produção iniciada pelo governo anterior, em 2021, aproximou a França da média europeia, mas a defasagem continua significativa. Agora, essa tendência é interrompida pela necessidade de ajustes orçamentários.

A França se vê encurralada entre a necessidade de saneamento das contas públicas e a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos. O republicano promete, a partir da posse, em 20 de janeiro, diminuir a carga tributária das empresas americanas e aumentar as tarifas alfandegárias dos produtos provenientes da União Europeia. Essa política protecionista já desviou bilhões de investimentos do continente europeu para os Estados Unidos.

Reportagem do Les Echos mostra que a metade das empresas estrangeiras instaladas na França acredita que a atratividade do país se deteriorou desde o anúncio da dissolução da Assembleia Nacional, em junho passado, segundo um estudo realizado pela empresa EY. Em decorrência das incertezas no cenário político, 49% das multinacionais reduziram ou suspenderam os seus projetos de investimento na França.

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