'Eles são burros': em visita ao Rio, Macron cria polêmica com comentário sobre haitianos
O presidente francês Emmanuel Macron continua a sua viagem pela América Latina à margem do encontro do G20. Ele está no Chile, depois de passar pela Argentina e pelo Brasil. O chefe de Estado tem um discurso previsto nesta quinta-feira (21) em Valparaíso, perante o Congresso chileno, mas são algumas frases curtas e espontâneas, ditas nas ruas do Rio de Janeiro, que estão criando polêmica.
Em uma visita ao Cais do Valongo, sítio arqueológico da zona portuária da cidade que guarda os vestígios da chegada de escravos na América, Emmanuel Macron foi interpelado na rua, quando estava ao lado do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Em um vídeo de 20 segundos é possível ver o presidente com as mangas da camisa arregaçadas, respondendo a uma pessoa que passava, sobre a política haitiana. O comentário de Emmanuel Macron sobre a demissão do primeiro-ministro do país causou controvérsia.
"Foram os próprios haitianos que mataram o Haiti", disse o presidente francês. Macron criticou a demissão do ex-primeiro-ministro Garry Conille, o que ele considerou como uma "decisão absurda".
Para Macron, Conille representava uma oportunidade de estabilização e realizava "um trabalho notável" até ser marginalizado. "São completamente estúpidos", chegou a dizer o chefe de Estado, referindo-se ao Conselho Presidencial de Transição, principal órgão executivo do Haiti composto por nove membros e que decidiu, há dez dias, demitir o chefe do governo.
Garry Conille havia assumido o cargo em12 de junho, nomeado pelo Conselho Presidencial de Transição, depois que o então primeiro-ministro Ariel Henry renunciou, em 11 de março, sob pressão internacional diante de uma onda sem precedentes de violência de gangues no país.
A situação no Haiti se agravou no início de 2024, quando gangues, agrupadas em uma coalizão chamada "Vivre Ensemble" (Viver junto), passaram a controlar pelo menos 80% da capital Porto Príncipe. A onda de violência deixou pelo menos 1.660 mortos desde janeiro, de acordo com a ONU.
"Vídeo fora de contexto"
Questionada sobre estes comentários pouco diplomáticos sobre um país estrangeiro por parte de Macron, a comitiva presidencial disse que se trata de um vídeo truncado feito "em um ambiente privado" e que antes do trecho divulgado, Emmanuel Macron havia sido insistentemente questionado sobre o papel da França no Haiti.
Do lado haitiano, o número um do Conselho Presidencial de Transição, Leslie Voltaire, contactado pela RFI, ainda não reagiu.
A população do Haiti, no entanto, demonstrou indignação. "Como pode um presidente estrangeiro falar assim dos líderes de outro país independente? Essa arrogância vai longe demais", atacou um morador de Porto Príncipe, em entrevista ao correspondente da RFI, Peterson Luxama. "Estou verdadeiramente revoltado, chocado e exasperado ao ouvir tais comentários vindos de um presidente estrangeiro", completou.
A tensão no Haiti aumentou nos últimos dias. Na terça-feira (19), 28 membros de gangues foram mortos por forças de segurança com apoio de moradores de Porto Príncipe, em meio a uma ofensiva de grupos criminosos contra diferentes bairros da capital.