Violência de gangues no Haiti leva Médicos Sem Fronteiras a suspender atividades em Porto Príncipe
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou, nesta quarta-feira (20), a suspensão de suas atividades na capital haitiana após "violência e ameaças da polícia", especialmente depois que dois pacientes foram mortos em 11 de novembro nesse país em meio ao caos. A tensão aumentou quando na terça-feira (19), 28 membros de gangues foram mortos por forças de segurança e vários moradores de Porto Príncipe, em meio a uma ofensiva de grupos criminosos contra diferentes bairros da capital do Haiti.
Após "sérias ameaças feitas contra nossas equipes por membros da força policial haitiana, MSF é forçada a suspender suas atividades em Porto Príncipe até segunda ordem", indicou o comunicado de imprensa divulgado pela ONG francesa.
Na noite de segunda para terça-feira (19), Porto Príncipe foi palco de confrontos entre a polícia, gangues armadas e civis. O saldo da violência nas ruas foi a morte de cerca de 30 indivíduos, identificados como membros do "Viv Ansanm" (Vivendo Juntos), uma aliança de gangues formada em fevereiro que conseguiu derrubar o então primeiro-ministro, Ariel Henry. Pelo menos dez dos homens foram mortos a tiros e tiveram seus corpos queimados por moradores enfurecidos. Cadáveres carbonizados ainda são vistos pelas ruas de vários distritos, a tensão continua alta e a cidade permanece paralisada por barricadas.
De acordo com um porta-voz adjunto da polícia nacional, os eventos começaram por volta das 2h da manhã, quando a polícia interceptou um caminhão e um micro-ônibus que se dirigiam a Pétion-Ville. Ambos os veículos transportavam membros de grupos armados, como relata o correspondente da RFI em Porto Príncipe, Peterson Luxama.
Nos últimos dias, esses membros de gangues teriam se envolvido em confrontos violentos com a polícia e moradores dos bairros de Solino e Nazon, bem como em outras áreas da capital haitiana. Pétion-Ville era o novo alvo, mas a gangue não contava com a reação e violência da polícia e cidadãos.
No fim da operação, a polícia recuperou armas automáticas, centenas de cartuchos de munição e um drone. Estão sendo realizadas buscas em áreas sensíveis, como Bourdon, Delmas 60 e Canapé-Vert, para encontrar criminosos que conseguiram escapar.
A situação ainda é tensa em algumas áreas, incluindo Canapé-Vert, onde a população está em alerta. Todas as estradas principais estão completamente bloqueadas, paralisando o tráfego.
Crise política no Haiti
O Haiti, o país mais pobre das Américas, há muito tempo sofre com a violência de gangues criminosas, acusadas de assassinatos, estupros, saques e sequestros.
A violência atual ocorre em meio a uma crise política após a demissão do primeiro-ministro Garry Conille pelo CPT em 10 de novembro, que foi substituído pelo empresário Alix Didier Fils-Aimé em 11 de novembro. Ele prometeu restaurar a segurança e organizar as primeiras eleições do Haiti desde 2016.
Na semana passada, tiroteios em três companhias aéreas dos EUA levaram o órgão regulador federal de aviação civil a proibir voos comerciais entre os EUA e o Haiti. O aeroporto de Porto Príncipe está fechado desde então. Mas não foi a primeira vez, em maio deste ano, o aeroporto de Porto Príncipe foi reaberto depois de dois meses e meio interditado devido às violências de gangues no Haiti.
Além da violência, a situação humanitária é catastrófica, forçando mais de 20 mil pessoas a fugirem de suas casas na semana passada, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), é a primeira vez que isso acontece em "tal escala (...) desde agosto de 2023".
No entanto, há uma missão multinacional de apoio policial no Haiti. Com o apoio da ONU e dos Estados Unidos, ela é liderada pelo Quênia, que enviou pouco mais de 400 homens.
O escritório local da ONU contabilizou 1.233 assassinatos entre julho e setembro, dos quais 45% foram atribuídos à polícia e 47% a gangues, em um país de 12 milhões de habitantes.
(RFI com agências)