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PF: general com plano para matar Lula orientava QG bolsonarista em Brasília

O general da reserva Mario Fernandes, que foi secretário-executivo do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) no governo de Jair Bolsonaro (PL), em foto de 2022 - Marcelo Camargo/Agência Brasil
O general da reserva Mario Fernandes, que foi secretário-executivo do ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) no governo de Jair Bolsonaro (PL), em foto de 2022 Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
do UOL

Do UOL, em e Brasília e São Paulo

19/11/2024 16h40Atualizada em 19/11/2024 16h47

A Polícia Federal afirma que o general da reserva Mario Fernandes, preso nesta terça-feira (19), orientava e apoiava os manifestantes que acamparam em frente ao QG do Exército em Brasília no final de 2022. O militar é um dos suspeitos de um plano para matar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O que aconteceu

A PF afirma que Fernandes era o "ponto focal" entre o governo Bolsonaro e os manifestantes em Brasília. O relatório que fundamentou a prisão dele e de mais três militares indica que o general dava orientações e ajuda material aos bolsonaristas acampados na capital federal. O grupo permaneceu em frente ao QG até os atos de 8 de janeiro de 2023.

Segundo a PF, o general "servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes". Em áudios enviados ao coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Fernandes afirmou que vinha "tentando orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG".

Fernandes pediu a Cid que Bolsonaro evitasse a prisão dos acampados. Em áudio no dia 8 de dezembro de 2022, o general disse ao colega "que seria importante se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF". A preocupação de Fernandes era que os manifestantes fossem presos ou tivessem seus caminhões apreendidos.

As defesas dos investigados não se manifestaram. O UOL procurou os advogados de Fernandes e de Bolsonaro, mas não teve retorno até o momento. Se houver manifestações, a reportagem será atualizada.

As mensagens evidenciam que MÁRIO FERNANDES era o ponto focal do governo de JAIR BOLSONARO com os manifestantes golpistas. Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília/DF, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 08/01/2023.
Trecho do relatório da PF

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Áudio do manifestante Rodrigo Ikezili para o general Mario Fernandes
Imagem: Reprodução / PF

Contato com lideranças do acampamento

Fernandes se comunicava com lideranças do acampamento. O relatório da PF mostra que o casal Rodrigo Ikezili e Klio Hirano, que tratavam de questões logísticas das manifestações pediram orientações ao general sobre a entrada de tendas e a realização de um churrasco no local. Hirano chegou a ser presa por atuação nos atos de vandalismo em 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação de Lula no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O general também falava com lideranças em São Paulo. Segundo a PF, o militar trocava mensagens com Lucas Rottili Durlo, um caminhoneiro que estava no acampamento bolsonarista em São Paulo. No dia 7 de dezembro, Durlo enviou a Fernandes um áudio afirmando que os manifestantes na capital paulista estavam começando a desanimar.

Já tem barraca sendo desmontada. Né? As pessoas têm trabalho, têm convívio social, o pessoal não tá mais aguentando não, cara. 35 dias nas ruas. Eu mesmo tô desmotivado pra caralho. Esses três últimos dias tomando chuva direto lá, cara, voltando pra casa, porra, fudido. Sapato encharcado, roupa encharcada. Caralho, velho, tá foda.
Áudio do manifestante Lucas Durlo, que o general Mario Fernandes encaminhou a Mauro Cid

Militar disse em áudio que Bolsonaro autorizou ação golpista

Fernandes disse ter recebido aval de Bolsonaro para adotar "qualquer ação" até 31 de dezembro de 2022. O general disse a Mauro Cid, no dia 8 de dezembro, que havia conversado com Bolsonaro e afirmado ao então presidente que alguma medida deveria ser tomada "o quanto antes" porque, segundo o militar, "a gente já perdeu tantas oportunidades".

O general tentou pressionar Bolsonaro a tomar medidas antes da troca de comando das Forças Armadas. Ele lembrou a Cid que as chefias do Exército, da Marinha e da Aeronáutica seriam entregues "para aqueles que estão sendo indicados para o eventual governo do presidiário", em referência a Lula. "E aí tudo fica mais difícil, cara, para qualquer ação", disse Fernandes a Cid.

Mario Fernandes - Reprodução - Reprodução
General Mario Fernandes se encontrou com Bolsonaro antes de pronunciamento
Imagem: Reprodução

Fernandes estava preocupado com o silêncio de Bolsonaro. No dia 8 de dezembro, quando o general enviou os áudios a Cid, o então presidente ainda não havia se manifestado após a derrota nas eleições. Em resposta, Cid afirmou que iria conversar com Bolsonaro para tentar convencê-lo de que "o tempo tá curto, não dá pra esperar muito mais passar".

Bolsonaro se manifestou no dia seguinte. Em 9 de dezembro, o ex-presidente quebrou o silêncio e falou com apoiadores no cercadinho do Palácio do Alvorada. O então presidente disse que "nada está perdido" e incentivou os manifestantes a se manterem mobilizados: "Não é 'eu autorizo', não. É 'o que eu posso fazer pela minha pátria'".

A manifestação de Bolsonaro agradou Fernandes. No dia 9, ele afirmou em um novo áudio que os militares e os manifestantes com quem tinha contado estavam "vibrando" com o discurso do então presidente no cercadinho do Alvorada. "Que bacana que ele [Bolsonaro] aceitou aí o nosso assessoramento", disse Fernandes a Cid.

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