Agricultores franceses iniciam nova mobilização contra o acordo UE-Mercosul
No mesmo dia da abertura da cúpula do G20 no Brasil, os agricultores franceses dão início a uma nova rodada de mobilizações contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. O assunto está na capa dos principais jornais da França nesta segunda-feira (18).
O jornal Libération destaca que mais de 80 atos estão previstos para esse início de semana que promete ser intenso na França. Na noite de domingo (17), um comboio de 50 tratores realizou uma primeira carreata e se instalou nos arredores da rodovia N118, em Yvelines, na periferia de Paris.
Entrevistados pelo diário, os agricultores participantes deste primeiro ato fazem coro contra o impopular acordo UE-Mercosul, visto como uma concorrência desleal pela categoria. Libé explica que o tratado prevê aliviar os impostos sobre a importação de produtos sul-americanos, principalmente a carne de gado e frango do Brasil e da Argentina.
No entanto, os pecuaristas franceses alegam que, diante das rígidas normas ambientais europeias que são obrigados a cumprir, seus produtos serão comercializados a preços superiores.
Governo francês sob pressão
A situação suscita mal-estar na França, avalia Libération, a menos de um ano da revolta da categoria que bloqueou as estradas durante semanas no país. O governo francês promete defender o setor e o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, já expressou sua oposição ao tratado à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na semana passada.
Para o jornal Le Figaro, 2024 corre o risco de terminar como começou, com protestos dos agricultores. O diário destaca as promessas de Barnier, que diz que fará tudo o que for possível para apoiar a categoria. Além das ameaças do tratado, o setor enfrenta também importantes quedas nas colheitas devido aos fenômenos climáticos extremos e epidemias sucessivas que castigam os seus rebanhos.
Macron quer impedir a assinatura do acordo
O jornal Le Parisien aborda a falta de apoio da França à oposição ao acordo dentro da União Europeia. Afinal, se a classe política francesa se posiciona em peso contra o tratado, ele tem forte apoio do resto do bloco.
Neste domingo (17), o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu com o chefe de Estado argentino, Javier Milei, em Buenos Aires, a quem afirmou que não assinará o compromisso, mas especialistas duvidam que a França consiga virar a mesa.
O principal empecilho é a determinação da Comissão Europeia encerrar uma novela que já dura mais de 20 anos. Outros defensores do acordo UE-Mercosul, a Alemanha e a Espanha prometem não baixar a guarda diante da rebelião francesa, afirma Le Parisien.
O motivo, segundo o diário, é que a maioria dos países do bloco, liderados por Von der Leyen, veem o compromisso como um vetor de crescimento e uma garantia diante das ameaças protecionistas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.