Gafe de Janja ao xingar Elon Musk acrescenta tensão às negociações do G20
Os líderes do G20 começaram a desembarcar no Rio de Janeiro, no sábado (16), enquanto os negociadores permaneciam trancados há mais de 12 horas tentando fechar um acordo para a redação do comunicado final da cúpula, que se realiza na segunda e terça-feira (19). Questões geopolíticas e o embate sobre o financiamento para o combate das mudanças climáticas e a transição energética tornaram-se o grande nó das negociações. A gafe da primeira-dama Janja da Silva, que xingou o bilionário Elon Musk durante um painel do G20 Social, irritou a diplomacia brasileira.
No ano passado, no G20 da Índia, quase não saiu acordo por conta da guerra na Ucrânia. Este ano, há ainda o conflito na Faixa de Gaza. Diante das divergências, a presidência indiana conseguiu divulgar um comunicado, porém com longos trechos em colchetes, que avisavam os temas em que não houve acordo de todos. Essa pode ser uma das soluções em vista para o G20 no Brasil. Ainda há outras.
O governo brasileiro sabia que não seria fácil. E apostou em destravar os consensos para as reuniões ministeriais, que produziram resultados positivos como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, a ser lançada na segunda-feira, e 41 documentos técnicos com o aval de todos com iniciativas em diversas áreas, inclusive as de clima e energia.
No sábado, em discurso a representantes da sociedade civil que participaram do G20 Social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos países ricos ajuda para financiar a proteção das florestas.
Lula disse que a mudança do clima "já não é mais uma questão da ministra [do Meio Ambiente] Marina Silva ou da USP, mas o que estamos vendo acontecer no nosso quintal, na nossa rua, no nosso bairro. O clima está mudando e, se tem um responsável, ele se chama ser humano", disse.
O presidente afirmou que "todo mundo" fala da Amazônia, mas que, durante a COP30, sob presidência brasileira e cuja sede será a capital do Pará, será a vez de a Amazônia dizer ao mundo o que quer.
Bilaterais em meio à polêmica criada por Janja
Neste domingo (17), o presidente Lula participa do Urban20, o encontro de prefeitos do grupo, que discutem soluções sustentáveis para as cidades, antes de se lançar em uma série de 12 reuniões bilaterais. A Avenida Atlântica ficará fechada até terça-feira para garantir a circulação dos carros e batedores das 55 delegações internacionais. É forte o esquema de segurança.
O final de semana prolongado começou com muita chuva e múltiplos eventos do G20 Social. Houve debate, shows e até bate-boca. A primeira-dama Janja da Silva disse durante o CRIA20 que não tem medo do bilionário Elon Musk, a quem xingou em evento sobre integridade da informação e fake news.
Janja defendeu a regulamentação das redes sociais, embora os Estados Unidos resistam a um tom mais duro sobre o tema. Em um momento de sua fala no painel, a primeira-dama se assusta com um som e se agacha. "Acho que é o Elon Musk", disse. Ao se levantar, completou: "Eu não tenho medo de você, inclusive... Fuck you, Elon Musk!". O vídeo da fala de Janja imediatamente viralizou nas redes sociais. O bilionário foi ao X responder: disse que (o partido do marido de Janja) não venceria as próximas eleições.
Diplomatas brasileiros ficaram irritados com a declaração da primeira-dama, que pode comprometer os esforços para manter um diálogo aberto com o futuro governo de Donald Trump.
Depois do incidente, o presidente Lula subiu ao palco do Festival Aliança Global e declarou, na presença de Janja: "Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém. Nós não temos que xingar ninguém. Nós devemos apenas indignar a sociedade", afirmou o petista.