O 'efeito Trump' no tabuleiro da geopolítica mundial, visto da França
As revistas francesas da fim de semana estampam em suas capas Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos da América, que assume um novo mandato em 20 de janeiro de 2025. A volta do magnata à Casa Branca deixa no ar inúmeras questões sem resposta para as democracias ocidentais.
A Le Nouvel Obs resume na primeira página: "Trump 2, um desafio para os progressistas". Segundo o veículo francês, "levará tempo para avaliar o impacto que o resultado da eleição presidencial norte-americana terá sobre o futuro de nossas democracias".
A revista afirma que "a vitória esmagadora de Donald Trump, que derrotou Kamala Harris com folga, não apenas surpreendeu os democratas nos Estados Unidos, mas também as forças progressistas ao redor do mundo". "Desta vez, o candidato republicano não venceu apenas por um acaso, como em 2016, quando sua vitória foi uma surpresa", constata Le Nouvel Obs. "Desta vez", detalha a publicação, "foi uma escolha deliberada" do povo norte-americano, reforçada pela mudança do Congresso para o campo republicano.
"A principal democracia do mundo está conscientemente se alinhando à extrema direita, com um presidente eleito mais vingativo do que nunca, determinado a impor sua marca autoritária", diz o texto. "Este é um desafio claro para os democratas em todos o mundo: o parêntese Biden se fechou, deixando os progressistas mais do que nunca diante do seu próprio destino", analisa a revista, completando que a "pax norte-americana" chegou ao fim", e que "estamos entrando na era do isolacionismo e do nacional-populismo".
Le Nouvel Obs salienta ainda, que a vitória de Trump representa um golpe no frágil equilíbrio geopolítico que emergiu após a Segunda Guerra Mundial, assim como na esperança de que os Estados Unidos continuem sendo o porta-estandarte da democracia ocidental. A revista lembra que do Brexit à reeleição de Trump, passando pela vitória de Giorgia Meloni na Itália e a crescente influência de Viktor Orbán na Europa, "as forças iliberais estão consolidando sua hegemonia no Ocidente, desafiando profundamente o pacto social e os fundamentos do Estado de Direito".
"Por enquanto, a França conseguiu evitar por pouco essa tendência nas eleições legislativas mais recentes, garantindo uma trégua ? talvez temporária ? ao custo de uma perda duradoura de influência", diz a revista. "A Alemanha também está enfraquecida, tanto econômica quanto politicamente, com o colapso da coalizão governista. Em todo o mundo, as forças democráticas estão diminuindo: se não tomarmos cuidado, os alicerces da Europa poderão ruir", analisa o veículo francês.
"Trump será melhor do que vocês imaginam"
Já a revista L'Express publica uma entrevista exclusiva com o líder conservador britânico Boris Johnson, que afirma que "Trump será melhor do que vocês imaginam".
"Depois de um longo período de silêncio, Boris Johnson está de volta", aponta L'Express. "Embora a imprensa de esquerda do Reino Unido tenha criticado sua autobiografia como 'as memórias de um palhaço', segundo The Guardian, o livro superou de longe as vendas das autobiografias de David Cameron e Liz Truss. O ex-primeiro-ministro britânico desenvolve sua filosofia política, que oscila entre o liberalismo econômico e a intervenção estatal em infraestrutura. O homem que hesitou por muito tempo antes de se posicionar sobre o Brexit ? e acabou se tornando seu principal defensor ? continua a afirmar com convicção: 'Foi a coisa certa a se fazer'", escreve L'Express.
Na entrevista, Johnson fala sobre a vitória de Donald Trump, o futuro do Ocidente, o Brexit, Vladimir Putin e o primeiro-ministro francês, Michel Barnier. Para o britânico, "Trump ganhou porque as pessoas se lembraram que a economia parecia melhor e que o mundo parecia mais estável quando ele estava no poder".
"Ele ganhou porque dezenas de milhões de norte-americanos não apreciaram a maneira antidemocrática com a qual a esquerda progressista teria utilizado os meios jurídicos para tirar Trump da corrida presidencial. Ele ganhou porque dezenas de milhões de norte-americanos se recuraram a ser considerados como lixo e estimaram que seria ridículo qualificá-lo como 'fascista' - e que isso seria um insulto à memória daqueles que realmente sofreram com o fascismo", disse o ex-primeiro-ministro britânico.
Já a revista Le Point desta semana traz em sua capa a manchete "Trump e Putin, o grande pacto". A reportagem aponta como o presidente russo tentará explorar o retorno de Donald Trump à Casa Branca para ampliar sua influência global. A revista classifica com ironia uma provável amizade circunstancial entre os dois líderes, um "surpreendente bromance da história moderna, o de dois septuagenários à frente de duas potências inimigas".