Em visita a Buenos Aires, Macron quer convencer Milei a permanecer em fóruns multilaterais
O presidente francês, Emmanuel Macron, começa um giro sul-americano pela Argentina, neste sábado (16), antes de participar da cúpula de líderes do G20, na segunda e terça-feira, no Rio de Janeiro. Em Buenos Aires, segundo nota do Palácio do Eliseu, Macron tentará convencer o presidente Javier Milei a continuar a participar do "consenso internacional", sobretudo na área climática, e a se manter "conectado às prioridades do G20", num contexto de forte aproximação do libertário com Donald Trump.
Macron chega à capital argentina no fim da tarde e será recebido para um jantar com Milei, sem a presença de convidados. O argentino retorna eufórico da Flórida, depois de ser o primeiro líder estrangeiro a se encontrar com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e participar da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), considerado o maior fórum conservador do país.
Macron e Milei têm convicções em comum. Há 11 meses, o argentino aplica cortes drásticos nas despesas públicas e reduz a estrutura do Estado, o que o americano pretende fazer a partir da posse, em 20 de janeiro. Trump elogiou Milei como "uma pessoa MAGA" - acrônimo do slogan de campanha "Make America Great Again".
O magnata destacou que o presidente argentino tem adotado uma postura alinhada ao movimento conservador norte-americano. Outro ponto em comum: os dois líderes ameaçam abandonar acordos multilaterais.
Apesar do alto custo social das reformas econômicas aplicadas por Milei, a França tem elogiado os resultados, que estão "indo na direção certa", na avaliação de Paris.
Assim, em Buenos Aires, Macron espera "superar" as "diferenças" com o dirigente argentino, principalmente em relação à questão ambiental. A Argentina acaba de retirar a sua delegação das negociações climáticas da COP29 em Baku, no Azerbaijão, e poderia decidir sair do Acordo de Paris sobre o Clima. Trump declarou a intenção de fazer a mesma coisa, como já aconteceu no primeiro mandato do republicano.
Assessores de Macron dizem que "foi o próprio presidente Milei quem estendeu a mão" à França. O francês é um dos poucos líderes estrangeiros recebidos em Buenos Aires desde a eleição de Milei, que se apresenta como um "arnacocapitalista". O Palácio do Eliseu acredita que a experiência de Macron em fóruns internacionais poderá influenciar as posições do estreante Milei no G20.
Política francesa para a região
Macron explicará a Milei e aos demais países do Mercosul por que se opõe à assinatura do acordo de livre comércio entre o bloco e a União Europeia. O assunto virá à tona à margem da cúpula do G20, no Rio de Janeiro.
Além do jantar deste sábado, Macron e Milei têm uma reunião bilateral prevista no domingo (17). Paris tem interesse nas reservas argentinas de metais raros, como o lítio, um componente essencial para veículos elétricos.
A França também quer vender seus submarinos Scorpène à Argentina, como já fez para o Brasil. A Marinha de Buenos Aires pretende adquirir três submarinos, mas a assinatura dos contratos é dificultada por problemas de financiamento.
Desde o trágico desaparecimento no mar do submarino San Juan, há sete anos, e o cancelamento da modernização do Santa Cruz, a Marinha argentina está sem submarinos para patrulhar sua zona econômica exclusiva de mais de um milhão de quilômetros quadrados. Esta situação preocupa as autoridades militares do país. Dois fabricantes estão na disputa, o alemão TKMS e o francês Naval Group.
Depois da Argentina e do G20, no Rio, Macron vai ao Chile, onde fará um discurso na quinta-feira (21), diante do Congresso, em Valparaíso. A fala será centrada na política da França para a América Latina, embora o chefe de Estado francês tenha sido várias vezes criticado por seu desinteresse pela região.
Com AFP