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Hospital fechado em SP foi referência para atender covid e população de rua

Hospital Municipal Bela Vista, na região central de São Paulo - Leon Rodrigues/SECOM/Prefeitura de São Paulo
Hospital Municipal Bela Vista, na região central de São Paulo Imagem: Leon Rodrigues/SECOM/Prefeitura de São Paulo
do UOL

Do UOL, em São Paulo*

15/11/2024 12h45

O hospital que fechou as portas em São Paulo em meio à investigações do Ministério Público sobre supostas irregularidades e mortes de 32 pacientes foi referência no tratamento da covid-19.

Inaugurado em 2020, o Hospital Municipal Bela Vista, na região central da cidade, recebeu casos de alta complexidade durante a pandemia, e, posteriormente, virou um espaço dedicado ao atendimento da população em situação de rua. A unidade estava interditada pela Vigilância Sanitária do estado desde o fim de outubro.

A criação do hospital

A unidade foi inaugurada em abril de 2020, ainda no início da pandemia, pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB). No mês em que abriu as portas o hospital tinha 600 profissionais de saúde e 124 leitos, 29 deles de UTI, segundo nota divulgada pela prefeitura na ocasião.

Com o avanço da covid, houve ampliação dos leitos de UTI, e o hospital virou referência no tratamento de casos de alta complexidade. Em maio, um mês após sua inauguração, a chegada de respiradores possibilitou a ampliação dos leitos de terapia intensiva para 50.

Durante a pandemia, o Hospital Municipal Bela Vista funcionou de porta fechada — os pacientes com covid-19 chegavam, exclusivamente, transferidos por ambulâncias de outras unidades. As internações eram controladas pela regulação da Secretaria Municipal da Saúde.

Investimento na estrutura foi milionário. No total, o poder público pagou cerca de R$ 6,6 milhões nas adequações físicas do prédio e R$ 8,5 milhões em móveis, equipamentos e contratação de profissionais. A ação contou com apoio do Ministério da Saúde, informou a gestão municipal à época.

A nova unidade foi criada já com um objetivo pós-covid: ajudar a população que vivia nas ruas do centro. "Passado o período de pandemia do coronavírus, esse hospital será referência no atendimento de pessoas em situação de rua na região central da cidade", afirmou Covas, em nota, na ocasião.

Ela foi instalada em um antigo prédio hospitalar desativado, que foi alugado pela prefeitura. O hospital ganhou o nome de "Santa Dulce dos Pobres", em homenagem à santa brasileira, conhecida por sua dedicação aos pobres e doentes, que foi canonizada pelo papa Francisco em outubro de 2019.

Em setembro de 2020, ela já ganhou uma parte dedicada apenas para quem estava em situação de rua. A ala, com 20 vagas, estava dividida em 10 quartos, todos com banheiro privativo.

A interdição

O hospital foi interditado pela Vigilância Sanitária no final de outubro. Isso ocorreu após uma fiscalização envolvendo o órgão, o Ministério Público e o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

A Secretaria Municipal de Saúde afirmou na época que o motivo da medida seriam problemas estruturais, mas o promotor do caso apontou outras questões. Segundo Arthur Pinto Filho, levantamento do Cremesp indicou irregularidades diversas.

Ocorrência de 17 mortes na UTI em agosto e outras 15 em setembro chamou atenção. Dessas, seis podem ter envolvido "erros grotescos", segundo a investigação. O promotor destaca que ainda é necessária uma melhor análise das mortes para compreensão dos fatos. O MP aguarda também o relatório da Vigilância Sanitária "para ter uma visão em conjunto do que exatamente aconteceu ali", completou Filho.

Fiscalização identificou problemas como falta de funcionários e falhas de higiene. Não havia profissionais em quantidade suficiente para atender a demanda e a central de esterilização de materiais cirúrgicos tinha irregularidades, com falha na separação entre os equipamentos limpos e sujos.

Além disso, pacientes com doenças contagiosas não eram isolados da forma correta. Foram identificados problemas nos quartos onde havia infectados com tuberculose. O local não teria um sistema adequado de tratamento do ar para impedir que outras pessoas fossem infectadas, diz o promotor do caso.

Ainda segundo o promotor, outra tarefa será analisar o que é de responsabilidade da prefeitura e o que compete à organização social que geria o local - a Associação Filantrópica Nova Esperança (AFNE). Só então serão feitas as devidas cobranças judiciais.

O que diz a prefeitura

A gestão Ricardo Nunes (MDB) informou que vai entregar o prédio onde funciona o hospital. A decisão seguiu um pedido do MPSP e da Vigilância Sanitária.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que a interdição do hospital foi determinada por motivos estruturais, "visando adequações técnicas às normas da Vigilância Sanitária". Diz ainda que, por ser um imóvel locado, não pode realizar melhorias estruturais diretamente.

* Com Estadão Conteúdo

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