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Dólar fecha estável, mas sobe 0,91% na semana com Trump e pacote no radar

São Paulo, 14

14/11/2024 18h36

Em sessão morna e de oscilações contidas, o dólar fechou praticamente estável no mercado doméstico, em mais um dia marcado pela expectativa em torno do pacote de corte de gastos em gestação no governo Lula. Lá fora, a moeda americana teve comportamento misto em relação a divisas emergentes e avançou na comparação com pares, sobretudo após discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, acenando com cautela no corte de juros.

Na abertura dos negócios, o dólar superou o nível de R$ 5,80 e tocou máxima de R$ 5,8308 - o que, segundo operadores, teria disparado ordens para realização de lucros e jogado a taxa de câmbio para baixo. Além disso, os retornos dos Treasuries perderam fôlego, amenizando as pressões sobre moedas de países emergentes.

Com mínima a R$ 5,7635, o dólar fechou cotado a R$ 5,7881 (-0,02%). Na semana, a moeda americana subiu 0,91% em relação ao real, que apresentou desempenho superior a de seus pares latino-americanos no período. Em novembro, o dólar tem variação bem modesta em relação ao real (0,12%).

"Apesar de o real ter demonstrado desempenho ligeiramente melhor em comparação com outras moedas emergentes, o cenário se mantém relativamente estável, como mercado aguardando a proposta do pacote de corte de gastos", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. "Isso será determinante para a movimentação do câmbio. A atenção é não apenas ao montante total dos cortes, mas também a natureza deles, se serão permanentes ou temporários".

Ontem à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o plano traria um número "expressivo" e que todas as rubricas devem "seguir a mesma regra ou alguma coisa parecida" com o arcabouço fiscal, que limita o crescimento dos gastos a 2,5% acima da inflação. Circulam informações que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria indicado que vai harmonizar os parâmetros do reajuste anual do salário mínimo com as regras do arcabouço.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, desde meados de setembro a formação da taxa de câmbio foi mais influenciada pelo ambiente externo, como a eleição presidencial nos EUA, do que por "questões idiossincráticas". Ele ressalta que, além da eleição de Trump, houve uma rodada de dados fortes da economia da economia americana e sinais de convergência lenta da inflação à meta.

Esse quadro de dólar mais forte no mundo tende a perdurar no curto prazo e pode, segundo Lima, limitar uma recuperação do real caso o pacote de gastos seja bem recebido pelos investidores. "Sem ter uma melhora externa, não dá para imaginar um dólar a R$ 5,30 ou R$ 5,40 mesmo que tenha notícia positiva aqui", afirma o economista. "O real está muito depreciado. Se tivesse variado como a média de moedas da América Latina do fim do ano para cá, a taxa de câmbio estaria em R$ 5,60".

Lima diz que não tem "expectativa muito elevada" em relação ao pacote, mas considera que pode haver um recuo do dólar caso haja uma abordagem mais estrutural no tratamento dos gastos, que limite o crescimento das despesas e tenha efeito ao longo do tempo. Ele ressalta, contudo, que as medidas não devem conter o avanço da dívida líquida em relação ao PIB.

Em evento do Valor Capital Group, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a China e o México tendem a ser mais afetados pela perspectiva de dólar forte com Trump na presidência dos EUA. "Minha percepção é a de que é óbvio que, se você tiver um dólar forte, isso vai afetar os outros países com mercados emergentes, mas a minha visão era de que o Brasil seria menos afetado", disse Campos Neto, para quem os preços dos ativos locais parecem incorporar prêmios exagerados.

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