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6x1, 5x2, 4x3: conheça os tipos de escala de trabalho e seus prós e contras

Escalas de trabalho devem ser decididas após discussões multilaterais, apontam especialistas - Agência Brasília
Escalas de trabalho devem ser decididas após discussões multilaterais, apontam especialistas Imagem: Agência Brasília
do UOL

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

13/11/2024 12h00

As escalas de trabalho, como 6x1, 5x2 e 4x3, estão no centro de discussões sobre mudanças na legislação trabalhista, com propostas que visam reduzir a jornada semanal e proporcionar mais dias de descanso.

No Brasil, as escalas de trabalho variam conforme as necessidades de cada setor, sendo regulamentadas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

As mais comuns são por dias:

  • Escala 6x1: seis dias de trabalho com um de folga. É a escala mais usada em setores como comércio e alimentação. Nessa escala, é obrigatório que o trabalhador tenha ao menos um domingo de descanso a cada sete semanas.
  • Escala 5x2: cinco dias de trabalho seguidos de dois de descanso, geralmente no sábado e domingo, oferecendo um descanso semanal fixo.
  • Escala 4x3: quatro dias de trabalho seguidos por três dias consecutivos de descanso. Essa escala é menos comum, mas atrai interesse por proporcionar um maior equilíbrio entre trabalho e lazer. Países da Europa e algumas empresas no Brasil já fazem testes neste formato.

Há ainda escalas baseadas em horas:

  • 12x36: 12 horas de trabalho com 36 horas de descanso, muito comum em serviços essenciais que demandam cobertura contínua, como saúde e segurança.
  • 18x36 e 24x48: jornadas mais extensas, com 18 ou 24 horas de trabalho seguidas de 36 ou 48 horas de descanso, respectivamente, também usadas em setores que precisam de funcionamento ininterrupto.

Prós e contras

Regimes de escala de trabalho voltaram a pautar discussões políticas e também viraram assunto nas redes sociais. Uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da deputada Erika Hilton (PSOL), que sugere uma semana de trabalho de quatro dias, reanimou o debate sobre o impacto dessas escalas na qualidade de vida dos trabalhadores e nos desafios de adaptação para empresas em setores como comércio, saúde e segurança.

Para entender as peculiaridades e os desafios de cada tipo de escala de trabalho, o UOL ouviu os advogados especialistas em direito do Trabalho João Valença e Juliana Mendonça. Valença explica que cada modelo deve seguir os limites estabelecidos pela CLT e, quando necessário, por acordos coletivos, para garantir os direitos dos trabalhadores e a viabilidade operacional das empresas.

A legislação trabalhista brasileira permite diversas escalas, desde que respeitados certos limites. Segundo Mendonça, a CLT garante ao trabalhador um descanso semanal remunerado e pelo menos um domingo de folga a cada sete semanas. "Além disso, horas extras e adicional noturno são assegurados em qualquer escala".

Alguns modelos, como o 18x36 (trabalha-se 18 horas para folgar 36), precisam de acordo sindical, pois não são diretamente regulamentados pela CLT. Esses acordos visam assegurar os direitos dos empregados, especialmente em setores que demandam trabalho contínuo. Empresas que adotam essas escalas devem negociar com os sindicatos.

A escala 6x1, com uma folga semanal, comum no varejo e alimentação, tem prós e contras. O advogado aponta que essa escala facilita a operação e aumenta a produtividade das empresas. Porém, ele destaca que a limitação de folgas compromete o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos trabalhadores.

A falta de rotina nas folgas afeta o convívio familiar e o bem-estar psicológico dos empregados. Mendonça ressalta que a ausência de dias fixos de descanso causa estresse e insatisfação. Para ela, a organização dos dias de folga é essencial para a saúde dos trabalhadores.

A escala 4x3, que proporciona três dias consecutivos de descanso, visa melhorar o bem-estar. No entanto, exige negociação com sindicatos e ajustes operacionais. "Como a 4x3 não está amplamente prevista na CLT, precisa de uma negociação coletiva que respeite os direitos dos trabalhadores", explica Valença.

Sindicatos têm papel central nas adaptações de escalas de trabalho. Para Valença e Mendonça, as negociações coletivas permitem ajustes conforme as demandas de cada setor, assegurando condições de trabalho adequadas. Essas negociações estabelecem normas para horas extras e compensações justas.

As escalas impactam diretamente a saúde física e mental dos trabalhadores. Valença observa que jornadas intensivas, como a 6x1, podem gerar cansaço extremo, estresse e problemas como burnout. A falta de descanso adequado prejudica o convívio social e a saúde geral dos trabalhadores.

Por outro lado, escalas como a 4x3, com mais dias de descanso, tendem a ser mais saudáveis. Mendonça explica que essa jornada permite uma recuperação mais completa dos empregados. Modelos longos, como 12x36, exigem atenção para evitar sobrecarga, mesmo com períodos de folga.

Diálogo multilateral

A proposta de Erika Hilton sobre a redução da jornada semanal amplia o debate sobre escalas. Para Valença e Mendonça, qualquer mudança requer estudo de impactos econômicos e diálogo entre empresas, sindicatos e governo. Mendonça afirma que é essencial avaliar como essas mudanças afetam renda e mercado de trabalho.

A regularidade nas folgas é crucial para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Para a advogada, "ter uma rotina organizada e dias de descanso previsíveis facilita o planejamento familiar e pessoal". Ela considera o modelo 5x2 vantajoso nesse sentido.

Negociações coletivas são a base para qualquer mudança na jornada de trabalho. Por meio de acordos, sindicatos asseguram que escalas respeitem direitos fundamentais e atendam às necessidades de cada setor. Essas adaptações tornam os modelos de jornada flexíveis para diferentes atividades.

Mendonça destaca que mudanças devem ser testadas antes de serem aplicadas amplamente, para evitar riscos ao emprego e estabilidade econômica. "Setores com sucesso em uma escala podem servir de exemplo para o mercado", sugere.

A flexibilização das escalas oferece melhores condições aos trabalhadores e desafia empresas a se adaptarem a novas formas de organização. Segundo os especialistas, qualquer mudança precisa de diálogo amplo entre empregadores, sindicatos e governo, para equilibrar os interesses.

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