Rei Felipe VI volta a visitar região afetada por chuvas e enchentes na Espanha
Há duas semanas, a Espanha sofreu o maior desastre natural do país em mais de meio século. As regiões sul e leste foram especialmente afetadas por tempestades e enchentes que causaram mais de 220 mortes, deixaram desaparecidos, além de um prejuízo material incalculável. Nesta terça-feira (12), o rei da Espanha viaja novamente à comunidade autônoma de Valência, a mais afetada pela tragédia. A ministra da defesa espanhola, Margarita Robles, acompanha o monarca nesta segunda visita de Felipe VI às áreas atingidas. A primeira viagem gerou fortes protestos por parte da população.
Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI na Espanha
O rei Felipe VI e a ministra da defesa, Margarita Robles, devem ir, na tarde desta terça-feira (12), à província de Valência. O roteiro inclui a visita a uma base militar e a um navio enviado pela defesa para ajudar as pessoas afetadas pelas chuvas e enchentes.
Por último, o chefe de Estado e a representante do governo espanhol vão até uma base logística do exército da Espanha. A intenção é supervisionar o trabalho de militares que estão atuando nos resgates, na limpeza e na recuperação das zonas afetadas pelas tormentas e inundações que castigaram o país, causando mais de 220 mortes.
Esta é a segunda visita oficial que o rei da Espanha faz à região em decorrência das chuvas e enchentes. Na primeira, voltada ao encontro com as vítimas, ele e a rainha Letícia estiveram acompanhados do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e do governante da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón. O evento ficou marcado por inúmeros protestos por parte da população.
A comitiva foi vaiada, alguns manifestantes atiraram barro nos representantes do Estado e da administração pública e Sánchez chegou a ser atingido por um golpe nas costas. A situação levou ao cancelamento do trajeto previsto inicialmente para a visita.
Na viagem de hoje a Valência, Pedro Sánchez não acompanhará o rei porque está no Azerbaijão para participar da conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas de 2024, a COP29.
Pacote de medidas
Nesta segunda-feira (11), Pedro Sánchez anunciou 110 novas medidas de emergência como resposta às consequências da catástrofe. O pacote corresponde a €3.765.000.000, cerca de R$23.296.690.500. Somando esta quantia à do primeiro conjunto de investimentos anunciado - no valor de €10.609.000.000 ou R$65.645.309.300 -, a Espanha deve investir mais de 14 bilhões de euros em medidas de recuperação.
Segundo o governo, as iniciativas aprovadas vão ajudar "100 mil famílias a cobrirem suas necessidades básicas, 400 mil trabalhadores a manterem seus rendimentos e 30 mil empresas a retomarem suas atividades".
Para citar uma das medidas que impactam diretamente os trabalhadores: serão reguladas autorizações que permitirão que funcionários se ausentem do serviço, com direito a remuneração e sem necessidade de recuperar essas horas.
Esse benefício servirá para casos específicos, como o de pessoas impossibilitadas de acessar seu local de trabalho ou que tenham familiares mortos ou desaparecidos.
Além disso, até 31 de dezembro de 2025, estão proibidos cortes de energia e gás para os consumidores dos municípios afetados pelas chuvas e enchentes.
Será concedida também uma ajuda no valor de 500 milhões de euros aos órgãos administradores dos serviços de abastecimento, saneamento e purificação, com o objetivo de reparar e adaptar as infraestruturas afetadas.
Repercussão social
A sociedade espanhola tem demonstrado insatisfação com a gestão pública desta tragédia. Há queixas sobre a demora na reação da gestão de Carlos Mazón, governante da Comunidade Valenciana.
O governo de Mazón enviou um alerta para os celulares de quem estava na comunidade valenciana depois das 20h da terça-feira, 29 de outubro, dia de chuvas e inundações mais graves.
No entanto, a essa hora, já havia municípios em situação extremamente crítica. Anteriormente, a Agência Estatal de Meteorologia da Espanha, a AEMET, tinha enviado diversos avisos dizendo que a previsão para essa região era alarmante. Os alertas, no entanto, não foram repassados pelo governo regional à população antes do colapso de muitas das áreas afetadas.
Por outro lado, há quem critique o tempo de reação e a atuação do primeiro-ministro, Pedro Sanchéz diante da tragédia, atribuindo ao governo central a culpa pela gestão lenta de um desastre de grandes proporções.
No último sábado, cerca de 130 mil pessoas, de acordo com números oficiais, participaram de uma manifestação na cidade de Valência. O ato, convocado por mais de 40 entidades da sociedade civil, tinha como foco pedir a demissão de Carlos Mazón, enquanto alguns acusavam a administração pública de assassinato.
"As suas mãos não estão manchadas de barro, mas sim de sangue" era uma das frases que podiam ser vistas nos cartazes levantados por manifestantes. Na ocasião, participantes do ato leram um manifesto no qual também criticaram o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, que, segundo eles, deveria ter exercido pressão imediata e vigorosa sobre o governo valenciano. Também houve atos em Madri, Alicante e Elche para pedir a responsabilização política pelo desastre.