Lula cobra mercado e Congresso e fala em debate sobre subsídios e emendas
O presidente Lula (PT) cobrou os empresários, o mercado financeiro e o Congresso Nacional neste domingo (10) e disse que todos têm responsabilidade na busca pelo corte de gastos.
O petista também abordou temas diversos, como a queda que sofreu em outubro no banheiro do Alvorada, a eleição de Donald Trump nos EUA, e reafirmou o amor que sente pela companheira, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja.
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O que aconteceu
Em entrevista à RedeTV!, o mandatário disse conhecer "muito bem o discurso" e a "gana especulativa" do mercado. "Eu, às vezes, acho que o mercado age com uma certa hipocrisia, sabe, com uma contribuição muito grande da imprensa brasileira, para tentar criar confusão na cabeça da sociedade", afirmou o petista. Lula tem resistido a qualquer corte que impacte em programas básicos e sociais, e repete várias vezes que os programas sociais não são gastos, são investimentos.
O presidente ponderou "não ter nenhum problema" que o Estado faça uma dívida para construir um novo ativo. Ele relembrou ter dito no seu primeiro mandato que o governo só pode gastar aquilo que tem capacidade de arrecadar, todavia, destacou a possibilidade de "brecha" na afirmação.
Acontece que nós não podemos mais jogar, toda vez que você tem que cortar alguma coisa, em cima do ombro das pessoas mais necessitadas.
Lula, em entrevista
O petista também questionou se os "empresários que vivem de subsídios do governo vão aceitar um pouco de subsídio para a gente equilibrar a economia brasileira". "Eu não sei se vão aceitar", respondeu na sequência, citando a aprovação no Congresso da desoneração de R$ 29 bilhões para os "empresários mais ricos desse país".
O Executivo vem sofrendo pressão do setor financeiro para que apresente corte no orçamento de 2026. Em julho, também sob pressão do mercado, a equipe econômica já anunciou o congelamento de R$ 15 bilhões em gastos para este ano e mais R$ 25,9 bilhões para 2025.
Lula também reclamou do Congresso. Desde que passou a ser cobrado para diminuir despesas, a articulação política do governo tem tentado "dividir" o ônus com o Legislativo, que também apresenta resistência em cortar suas verbas. Ele disse querer saber se o Congresso está disposto também a fazer corte de gastos. A decisão sobre aonde vai cortar é algo o mandatário não quer fazer.
Se eu fizer um corte de gasto para diminuir a capacidade de investimento do orçamento, a pergunta que eu faço é a seguinte: o Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores para contribuir com o ajuste fiscal que eu vou fazer? Porque não é só tirar do orçamento do governo.
Lula, sobre corte de gastos
Ainda falta negociar com o Congresso. A proposta de corte de gastos deverá ser apresentada pelo Executivo em forma de PEC (Proposta de Emenda à Constituição), o que ainda cobra ao governo articulação para aprovação nas duas casas com o mínimo de perda possível. Haddad já começou as conversas, que devem se intensificar na próxima semana.
Lula foi entrevistado no programa PODK Liberados, dos senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF). Foi a segunda edição do programa, que entrevistou anteriormente o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). À colunista do UOL Letícia Casado nesta semana, o parlamentar negou conflito de interesses por manter um programa de entrevistas na rede aberta e ainda declarou ser "desrespeitoso" fazer questionamentos sobre o tema.
Queda no banheiro
O presidente caiu após cortar a unha em um banquinho no banheiro do Palácio em 19 de outubro. "Eu caí de onde eu nunca deveria ter caído", contou na entrevista, que teve trechos divulgados nesta semana.
"Foi uma batida muito forte, saiu muito sangue", relembrou. "Eu achei que eu tinha rachado o cérebro, rachado o casco, sabe? Eu fui direto para o Sírio-Libanês, fui direto. Eu achei que era uma coisa muito mais grave. A batida mexeu com o cérebro."
Neste domingo (10), o Hospital Sírio-Libanês informou a melhora nos exames de Lula. O presidente tinha sido orientado a não pegar voos após a queda, mas foi liberado pelos médicos após novos exames.
Petista disse esperar 'relação civilizada' com Trump
Ainda na entrevista, Lula, que é crítico ao norte-americano, afirmou não o conhecer pessoalmente, mas esperar uma relação "que trabalhe pela paz". "Eu não vou pensar o que pode acontecer de pior com a eleição de um presidente de um outro país. Eu conheço o Trump de ouvir dizer, de ler matéria dele, de vê-lo na televisão", disse, em entrevista para a RedeTV!, que foi gravada antes da vitória de Trump. Quando o resultado foi anunciado, Lula parabenizou Trump no X.
"Eu espero que a relação com o Brasil seja uma relação civilizada", afirmou o presidente. "Quando a gente tiver assunto para conversar, se conversa por telefone, se marca. Eu espero que seja essa relação", acrescentou, relembrando que teve boas relações tanto com presidentes democratas quanto com republicanos.
Essa é a relação que eu quero estabelecer, uma relação entre dois chefes de Estado, cada um representa o seu país, cada um tem interesses próprios nacionais. E eu espero que o Trump, veja, primeiro eu respeito muito as pessoas que são eleitas com resultado democrático. Ele foi eleito presidente dos Estados Unidos, ponto. Portanto, eu respeito o fato dele ter sido eleito pelo povo americano.
Lula, sobre relação com Trump