Inundações na Espanha: moradores convocam manifestações, enquanto população sofre com mau cheiro
Mais de uma semana depois das trágicas inundações que afetaram o leste da Espanha e causaram mais de 200 vítimas, uma manifestação está prevista em Valência e outras cidades espanholas, neste sábado (9), para exigir a demissão do governo da região.
O presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, que inicialmente acusou as autoridades espanholas e o Exército de não terem reagido adequadamente e de terem demorado a chegar ao local da tragédia, é agora apontado como um dos principais responsáveis ??pela os fracassos no dia da tragédia após revelações na imprensa espanhola.
O Estado espanhol é constituído por 17 entidades territoriais autônomas, entre elas a Comunidade Valenciana formada por três províncias (Valência, Caselló e Alicante), dotadas de autonomia legislativa e de competências executivas. Seus governos têm a possibilidade de administrar catástrofes com meios próprios.
No total, cerca de 40 organizações sociais, civis e sindicais convocaram os residentes de Valência e sua região para se manifestarem para denunciar a gestão da catástrofe e exigir a demissão do presidente da comunidade autônoma.
As inundações atingiram 80 municípios somente na província de Valência e deixaram 215 vítimas, além de dezenas de desaparecidos.
As organizações que convocaram as manifestações pedem aos participantes que marchem pacificamente, em silêncio, em respeito às vítimas. Um encontro durante o qual os organizadores também pretendem exigir responsabilização, informações verdadeiras e recursos para as vítimas, segundo um dos responsáveis.
Mau cheiro preocupante
Nas cidades atingidas, o cheiro da lama e de materiais em decomposição gera preocupação com a saúde das equipes de resgate e dos moradores dessas regiões.
"Não é ideal para a saúde" respirar estes gases, diz Miguel Rodilla, biólogo da Universidade Politécnica de Valência, à AFP, embora acredite que seriam necessárias "concentrações mais elevadas" de elementos em decomposição para que fossem tóxicos.
Nas áreas alagadas, muitas pessoas voltaram a usar máscaras, como durante a pandemia de Covid-19, e reclamam de dores de cabeça e tonturas por causa do mau cheiro.
"As evidências científicas dizem que existe o risco de agentes patogênicos, especialmente em águas estagnadas, que podem desencadear distúrbios gastrointestinais ou pneumonia", explicou a ministra da Saúde, Mónica García, à rádio pública RNE, após o aparecimento de alguns casos de gastroenterites, descartando "um surto."
Além disso, as autoridades regionais de saúde relataram "dois casos prováveis ??de leptospirose" em dois voluntários que limpavam as ruas. A doença, que é contraída pelo contato com urina de animais e é comum em enchentes, pode causar febre, diarreia e vômitos.
Sobre o processo que desencadeia o mau cheiro muito presente na zona, Rodilla explicou que é causado pela decomposição de matéria orgânica em geral. "Tem aquele cheiro de podre, cheiro de coisa morta, e não é necessariamente que haja cadáveres por perto, mas simplesmente que há matéria orgânica em decomposição", continua.
O mau cheiro em algumas cidades leva os moradores ao desespero. "É carne podre", explica Toni Marco, 40, funcionário de uma empresa privada de limpeza, apontando para um supermercado destruído na cidade de Sedaví. Segundo ela, a carne "ficou para trás no dia da cheia e até agora não conseguiram retirá-la", mais de dez dias depois das cheias e dos frigoríficos terem perdido energia.
Segundo a Secretaria da Saúde da Comunidade Valenciana, "não foi detectado nenhum surto de infecções, nem qualquer situação de relevância para a saúde pública" em geral, mas a ONG Greenpeace respondeu que está realizando análises da lama.
(Com AFP)