Campos Neto sugere aumentar custo de banco sem investimento verde
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a transição verde está sendo muito mais custosa que o esperado, mas que precisa ser feita e chegou a sugerir aumentar o custo de capital para bancos que não têm investimentos verdes.
O que aconteceu
Presidente do BC falou a banqueiros na Suíça em evento neste sábado (9). Ele foi um dos palestrantes em evento organizado pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais) neste sábado. Em seu discurso ele defendeu que as questões climáticas sejam incorporadas aos mandatos dos bancos centrais.
Campos Neto disse que a pandemia de covid-19 aumentou cobrança por sustentabilidade. Em seu discurso ele disse ainda que teve que enfrentar três problemas climáticos em um ano no Brasil, sem detalhar quais, e reforçou que o tema está na agenda do dia e precisa ser enfrentado pelos bancos centrais.
Há sinais claros de que subestimamos o custo da transição. Também ficou claro que o clima é nosso mandato. Olhem para as questões de preço e estabilidade financeira no Brasil. (...) Temos os setores de seguros, as questões de produtividade. A transição verde está se mostrando muito mais custosa.
Roberto Campos Neto, presidente do BC, em discurso para banqueiros na Suíça
Política fiscal e macroprudencial
Presidente do BC sugeriu cobrar mais para financiamentos de bancos que não tem investimentos verdes. Ele não deu detalhes de como seria esse aumento de custos e reconheceu se tratar de uma medida polêmica, mas disse que quanto mais se debruça sobre o tema mais pensa nessas possibilidades.
Campos Neto explicou como políticas monetária e macroprudencial se interconectam. Ao fazer isso, ele ponderou se não seria o caso de pensar também em medidas macroprudenciais, usadas para garantir estabilidade financeira, para lidar com os desafios da transição verde.
Costumávamos trabalhar no Banco Central com o princípio da separação, que diz que, para a política monetária, usamos a taxa de juros, e, para a estabilidade financeira, usamos a política macroprudencial. Os efeitos são um sistema flutuante. Quando temos uma crise, essas coisas tendem a se cruzar em algum momento.
Se a questão verde está realmente nos levando ao mesmo lugar, em algum momento, não deveríamos estar usando um pouco de [política] macroprudencial para regular isso? (...) Se for este o caso, não deveriamos cobrar preço maior de capital de bancos que não tem investimento verde?
Roberto Campos Neto