Religião para atrair vítimas: quem é homem preso por golpe de R$ 260 mi
A PF (Polícia Federal) prendeu, nesta quinta-feira (7), o empresário Rodrigo dos Reis. Ele é suspeito de integrar uma organização criminosa que fez cerca de 10 mil vítimas, com prejuízo estimado em R$ 260 milhões.
Quem é Rodrigo
O empresário é o CEO da RR CONSULTORIA EM INVESTIMENTOS LTDA, que teria aplicado golpe em cerca de 10 mil vítimas. Ele também consta como sócio de outras empresas, como a RR HOLDING E PARTICIPACOES EM SOCIEDADES S/A.
Rodrigo começou com uma empresa de internet em Campo Grande (RJ), segundo a advogada Raquel Chaves, que representa mais de 100 vítimas do golpe. Ele captava pessoas próximas para investirem em criptomoedas por sua empresa.
Ele frequentava a Comunidade Batista Atos 29, em sua cidade natal, onde era seminarista. Nas redes sociais da igreja, Rodrigo aparece em diversas publicações cantando e pregando. O UOL entrou em contato com a Comunidade Batista Atos 29 e aguarda resposta.
De acordo com a advogada, Rodrigo teria se aproveitado da sua influência na igreja para captar investidores. "Ele acabou disseminando esse investimento dentro da igreja e levou várias pessoas a investir. Ele se utilizou da fé alheia para poder angariar clientes", contou.
Com o crescimento das suas operações, o homem migrou de Campo Grande para a cidade do Rio de Janeiro. O último endereço conhecido da empresa era na Barra da Tijuca, um bairro nobre da capital fluminense.
O homem possui um filho com Karen Maini. A mulher aparece como sócia dele na RR HOLDING E PARTICIPACOES EM SOCIEDADES S/A, empresa que possui capital social declarado de R$ 50 milhões junto à Receita Federal.
Em 2022, Rodrigo foi acusado de aplicar golpes pela primeira vez. Na descrição de sua rede social, onde tem mais de 81 mil seguidores, ele diz que está "resolvendo uma dívida milionária".
A RR CONSULTORIA EM INVESTIMENTOS LTDA pediu recuperação judicial em 2023, o que foi negado pela justiça. A empresa consta como "inapta" no sistema da Receita Federal por "Omissão De Declarações"
Rodrigo dos Reis Teixeira foi preso preventivamente nesta quinta-feira (7), durante a Operação Profeta, da PF. O nome da operação faz referência ao fato dele usar a religião para atrair suas vítimas e cultivar a confiança dos envolvidos.
Operação Profeta
Além da prisão preventiva de Rodrigo, outros 10 mandados de busca e apreensão são cumpridos pela PF no Rio de Janeiro, Barueri (SP), Guarulhos (SP), Cajamar (SP) e Salto (SP). A justiça também determinou o sequestro de bens e valores, que chega a mais de R$ 260 milhões.
Grupo teria se apropriado de valores aplicados por elas na RR Investimentos, empresa na qual Rodrigo Reis é CEO. 10 mil pessoas teriam sido lesadas pelo grupo, com um prejuízo total estimado em R$ 260 milhões.
Após captar os investimentos, o grupo criminoso teria enviado os valores para o exterior, sem o conhecimento das vítimas, por meio de corretoras de criptomoedas. Eles são investigados por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, além de exercer a atividade de administrador de carteira no mercado de valores mobiliários sem a devida autorização, organização criminosa transnacional e lavagem de dinheiro por meio de ativo virtual.
O UOL tenta localizar a defesa do empresário. O espaço segue aberto para manifestações.
Promessa de 10% de rendimento
Vítimas eram atraídas com promessas de rendimentos mensais de até 10%. A advogada Raquel Chaves explicou que os investidores eram captados pela empresa por indicação de parentes e amigos que já eram clientes.
Clientes perceberam golpe em 2022. Segundo a advogada, o esquema começou a ruir quando a captação de novos clientes ficou mais difícil. Em março daquele ano, a primeira vítima sinalizou que deixou de receber os rendimentos prometidos. Três meses depois, Raquel conta que teve o maior número de clientes a procurando contra a empresa. Ela reuniu depoimentos e documentos, e os levou à polícia.
RR Investimentos recebeu centenas de reclamações online. Na plataforma 'Reclame Aqui' foram feitas 285 publicações desde novembro de 2021 com diferentes queixas a respeito do serviço prestado.
'Especializado em enganar', diz um dos clientes. No último ano, as reclamações são relacionadas a falta de acesso aos investimentos: "faz mais de 1 ano que essa empresa não paga os rendimentos, e nem devolve o dinheiro investido", diz uma das publicações.
Cliente diz esperar pagamento há quatro anos. Na reclamação, a pessoa diz que "conhecia uma das cobras que trabalhavam nesse lugar" e pensava que receberia um "cuidado especial". "Claro que não foi assim. O mesmo segue viajando, seguindo a vida perfeita usando dinheiro de outras vítimas e não só o meu. (...) Mas uma coisa é certa, todos envolvidos nessa piramide deveriam pagar por tudo que fizeram. São 4 anos de espera", escreveu.