Jair Bolsonaro manda um recado direto a Alexandre de Moraes ao citar a possibilidade de ter Michel Temer como seu vice em uma hipotética chapa para a disputa presidencial de 2026, disse o colunista Josias de Souza no UOL News desta quinta (7).
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro disse que a vitória de Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos "é um passo importante" em seu "sonho" de concorrer ao Planalto em 2026. O ex-presidente está inelegível pelo menos até 2030 e ainda está no centro de outras investigações, mas demonstrou confiança em um possível apoio do republicano.
O objetivo do Bolsonaro é muito claro. Moraes é muito amigo do Temer. Então, quando Bolsonaro diz 'se eu fosse candidato, o Temer seria uma hipótese de vice' e a admite, ele está fazendo um aceno para Moraes: 'Olha como sou bonzinho e contemporizador; posso colocar como vice um amigo seu'.
Temer é um político das antigas, daqueles tecelões que articulam nos bastidores. O estilo é a antítese de tudo o que é representado pelo Bolsonaro em termos de política. Bolsonaro é de chutar o balde; Temer, de costurar nos bastidores.
Temer não seria vice de Bolsonaro nem que ele fosse o mais favorito dos candidatos. Após Bolsonaro simular uma contemporização com Moraes e depois voltou a chutar o balde, ele mantém um distanciamento protocolar.
O objetivo de Bolsonaro é muito nítido: mostrar que, se Moraes aliviar a situação, ele pode moderar seu comportamento. Mas todos sabem, inclusive Moraes, que isso não vai acontecer. Josias de Souza, colunista do UOL
Josias destacou que Bolsonaro tenta atuar em outra frente com Moraes, desta vez para recuperar seu passaporte, o que lhe abriria as portas para ir à cerimônia de posse de Trump. Para o colunista, o ministro do STF não dá qualquer indício de recuo, sob risco de ter sua autoridade questionada.
Não tem nem 15 dias que Moraes negou o pedido de Bolsonaro para reaver o passaporte. Bolsonaro protocola ações no gabinete de Moraes mais ou menos como quem joga barro na parede: se colar, colou. Não tem colado.
A meu juízo, o ministro já errou quando se absteve de impor ao Bolsonaro o uso de uma tornozeleira naquela ocasião quando se refugiou na embaixada da Hungria com medo de ser preso. Ele não lhe impôs nenhuma sanção cautelar adicional e deixou barato.
Está em jogo uma certa autoridade. Se Moraes devolver o passaporte, a autoridade dele se reduz e terá que dormir em uma caixa de fósforos. Não há justificativa plausível para essa devolução e permitir a Bolsonaro ir aos EUA, justamente a praça que escolheu para se refugiar por alguns dias.
Bolsonaro já deu demonstrações de que não é confiável. Não faz sentido algum devolver o passaporte a ele. Isso só comprometeria a autoridade de Moraes e o obrigaria a agir da mesma maneira com inúmeros outros investigados que estão com o documento retido. Josias de Souza, colunista do UOL
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