Arroz, gasolina e remédios: o que deve ficar mais caro com vitória de Trump
A valorização do dólar com a vitória de Donald Trump nos EUA afeta diretamente o preço de itens essenciais no Brasil, elevando custos de produtos como alimentos, combustíveis e remédios. Entenda o impacto dessa alta no dia a dia dos brasileiros.
O que aconteceu
O dólar chegou ao seu segundo maior patamar, atingindo R$ 6,19 após a vitória do republicano. Esse valor reflete uma combinação de fatores internos e externos, com destaque para a alta global da moeda americana e o cenário de incertezas fiscais no Brasil.
Com o dólar mais caro, produtos básicos como arroz, gasolina e remédios tendem a sofrer aumento de preços. André Vasconcellos, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios, explica que a elevação da moeda americana encarece os produtos importados ou cotados em dólar. No caso dos alimentos, isso ocorre especialmente com trigo, milho e soja, impactando pães, massas, carnes e derivados.
A gasolina, por ser cotada em dólar, também deve registrar aumento. Como o petróleo é uma commodity negociada internacionalmente, qualquer alta no dólar afeta diretamente o valor dos combustíveis no Brasil. "Cada vez que o dólar se valoriza, o custo do transporte e da logística também sobe, pressionando o preço de bens e serviços", afirma Vasconcellos.
A alta do dólar afeta também medicamentos e produtos eletrônicos, encarecendo tratamentos de saúde e bens de consumo. Muitos ingredientes ativos de medicamentos e equipamentos médicos são importados, elevando os custos para o consumidor. Produtos como computadores e eletrodomésticos, por serem em sua maioria importados, também devem ficar mais caros.
Medidas protecionistas nos EUA podem impactar exportações brasileiras, encarecendo insumos importados. Vasconcellos explica que setores como aço, alumínio, soja e carnes são especialmente vulneráveis, pois tarifas adicionais sobre produtos brasileiros nos EUA reduzem a competitividade e aumentam os custos de importação.
Produção agrícola
A produção agrícola no Brasil, que também depende de insumos cotados em dólar, é impactada com a alta da moeda americana. Segundo Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset Management, a soja e o milho, por exemplo, são commodities que enfrentam aumento de custos quando o dólar está alto. "A menor competitividade no exterior e o custo dos insumos reduzem a oferta interna, pressionando os preços".
Para setores como automotivo e telecomunicações, as tarifas que devem ser aplicadas por Trump ampliam o protecionismo americano. Kawauti aponta que essa política afeta a exportação brasileira, especialmente para produtos com forte concorrência americana, como componentes automotivos. Isso gera uma pressão adicional sobre os fabricantes brasileiros que dependem da exportação para sustentar sua produção.
Alimentos básicos como arroz também sofrem com a alta do dólar, já que dependem de insumos importados. Muitos fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinários são comprados em dólar, aumentando os custos de produção para agricultores brasileiros. Kawauti destaca que, com a moeda americana valorizada, exportar se torna mais atrativo, reduzindo a oferta de produtos no mercado interno e pressionando os preços.
Se o dólar se mantiver alto, a tendência é de que esses aumentos de preço sejam duradouros. Vasconcellos aponta que, com fatores externos e internos impactando o câmbio, o cenário atual indica um período prolongado de preços elevados para produtos básicos. "O risco fiscal brasileiro e a ausência de reformas estruturais também contribuem para a manutenção do dólar alto", ele explica.
Controle fiscal
O governo pode adotar políticas para reduzir o impacto do dólar no custo de vida, mas isso exige controle fiscal. Vasconcellos sugere que ajustes nas contas públicas, com uma gestão responsável da dívida, ajudariam a fortalecer o real. Isso estabilizaria o câmbio e reduziria o impacto dos produtos dolarizados no Brasil. O governo Lula (PT) trabalha num pacote de medidas fiscais que deve ser fechado nesta quinta (7).
Subsídios temporários para itens essenciais podem aliviar o peso no bolso do consumidor. Kawauti observa que, em crises, subsídios para combustíveis e alimentos básicos podem mitigar o impacto direto do dólar alto, mas devem ser planejados para não aumentar o déficit público e alimentar a inflação.
Investimentos em infraestrutura e tecnologia agrícola são medidas de longo prazo para reduzir a dependência de insumos importados. Kawauti acrescenta que políticas econômicas consistentes e previsíveis são essenciais para estabilizar o câmbio e proteger o poder de compra da população.