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Qual o maior valor que o dólar já atingiu historicamente no Brasil?

Migração de investidores para o dólar é comum em momentos de grande instabilidade econômica, dizem especialistas Imagem: Alexander Grey/Unsplash

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

06/11/2024 17h00

Com a recente alta do dólar, o recorde de R$ 5,9372 registrado em 14 de maio de 2020 volta a ser referência. Quais foram as causas dessa disparada e o que se espera para o futuro?

O que aconteceu:

O pico histórico do dólar no Brasil ocorreu em 14 de maio de 2020, quando a moeda americana chegou a R$ 5,9372. Esse recorde refletiu o auge da crise causada pela pandemia da Covid-19. Incertezas sobre a gravidade da crise e as restrições no mundo todo aumentaram o temor nos mercados.

A busca por segurança fez os investidores migrarem para o dólar, em um movimento chamado "fuga para a segurança". Esse comportamento é comum em momentos de grande instabilidade econômica, explica Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Asset Management. No contexto de 2020, o dólar se valorizou frente a moedas de países emergentes, em uma procura generalizada por ativos seguros.

Hoje, o dólar comercial, que chegou a R$ 5,85 no início da manhã, estava em baixa de 1,13%, vendido a R$ 5,682. O dólar turismo tinha queda de 0,57%, cotado a R$ 5,942, depois de ter sido vendido por R$ 6,051 na primeira metade do dia. A recente vitória de Donald Trump nos EUA despertou incertezas no mercado global, gerando novas preocupações sobre o futuro da economia. A política protecionista de Trump afeta diretamente o câmbio, elevando o preço do dólar em relação ao real. "A elevação das tarifas sobre produtos chineses pode pressionar preços nos EUA, gerando inflação e alta nas taxas de juros", comenta Kawauti.

Esse cenário atual, apesar das semelhanças, é marcado por novas particularidades econômicas e políticas. Para Natale Papa Jr., economista, a busca por segurança persiste, mas é impulsionada agora por tensões geopolíticas e pelo protecionismo americano. "Essa valorização da moeda americana se torna um porto seguro para investidores em meio ao cenário de aversão ao risco", ele afirma.

A situação fiscal do Brasil adiciona mais pressão sobre o câmbio. Segundo Papa Jr., a ausência de reformas estruturantes e o atraso nas medidas fiscais afetam diretamente a estabilidade do real frente ao dólar. Ele observa que a percepção de risco no mercado eleva o receio entre investidores estrangeiros, afastando capitais.

A demora em apresentar um plano fiscal sólido reduz a confiança dos investidores. Kawauti acrescenta que "sem um ajuste fiscal eficaz, o Brasil se torna menos atrativo, e o real perde valor". Para o mercado, a incerteza sobre o controle do déficit fiscal e o futuro da dívida pública brasileira aumenta a demanda por dólar, elevando o câmbio.

O impacto do dólar alto no cotidiano brasileiro é evidente nos preços de produtos básicos e importados. Setores que dependem de insumos estrangeiros, como combustíveis, tecnologia e medicamentos, são os primeiros a sentir o efeito. Para Papa Jr., o preço do petróleo, cotado em dólar, pressiona os custos da gasolina e do diesel no Brasil, encarecendo também o transporte e a logística, gerando um efeito em cadeia sobre os produtos essenciais.

Cesta básica

Os produtos da cesta básica, como o arroz, também sofrem com a alta do dólar. O economista ressalta que muitos insumos agrícolas, como fertilizantes, são comprados em dólar, aumentando o custo de produção. "Esse aumento nos custos acaba sendo repassado ao consumidor, elevando os preços dos alimentos", explica Kawauti.

O futuro do dólar parece apontar para uma manutenção em patamares elevados. Com juros altos nos EUA e uma situação fiscal incerta no Brasil, a pressão sobre o real deve se manter no curto e médio prazo, alerta Papa Jr. Ele aponta que, "sem reformas estruturantes, é difícil imaginar uma queda expressiva do dólar".

O compromisso com um ajuste fiscal sólido é essencial para restaurar a confiança no país. "A implementação de medidas fiscais eficazes é crucial para trazer estabilidade ao câmbio", afirma o economista Ricardo Rodil, do Grupo Crowe Macro. Kawauti concorda, enfatizando que a recuperação do real depende de um plano econômico de longo prazo que proteja o poder de compra dos brasileiros.

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