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Planalto prefere Kamala, mas não prevê mudança em negócios com EUA de Trump

O presidente Lula (PT) disse torcer pela vitória da democrata Kamala Harris nos EUA - Arte/UOL
O presidente Lula (PT) disse torcer pela vitória da democrata Kamala Harris nos EUA Imagem: Arte/UOL
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Do UOL, em Brasília

06/11/2024 05h30

O Palácio do Planalto vê com bons olhos a vitória da vice-presidente Kamala Harris (Partido Democrata) nos Estados Unidos, mas integrantes da equipe econômica dizem avaliar que não haverá mudança nos negócios caso o ex-presidente Donald Trump (Partido Republicano) vença.

O que aconteceu

O receio do governo é mais político do que econômico. Há uma avaliação no entorno do presidente Lula (PT) de que uma vitória trumpista deixaria os apoiadores da extrema direita no Brasil (e no mundo) mais "inflamados".

Lula não esconde a preferência. Com boas relações com o presidente Joe Biden, de quem Kamala é vice e a quem ela substituiu na disputa, o brasileiro já disse publicamente que uma vitória dela seria melhor para a democracia.

Pesquisas prometem uma disputa acirrada. A apuração, que começou nesta terça (5), indica que o cenário será definido por uma margem pequena de delegados. Nos Estados Unidos, a eleição se dá por votos no Colégio Eleitoral e não por voto popular, como no Brasil.

Para Lula, melhor uma democrata

Membros e pessoas próximas ao governo dizem que uma aproximação de Kamala é "natural". O Partido Democrata é atualmente mais ligado a pautas progressistas, com defesa dos direitos humanos, e de economia mais globalizada do que o Partido Republicano.

A boa relação de Lula com Biden também ajuda. Lula já se encontrou algumas vezes com o norte-americano, inclusive em viagem a Washington, e lançaram uma iniciativa conjunta voltada à melhoria das condições de trabalho nos dois países.

É também uma questão de imagem e defesas em comum. Eleita, Kamala seria a primeira mulher presidente dos Estados Unidos e segunda pessoa negra, depois de Barack Obama. No Planalto, dizem que a comparação indireta com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) é "inevitável", além da proximidade de pautas de diversidade que o governo tem tentado emplacar —embora sem um orçamento tão robusto. Há quem diga que pastas como Igualdade Racial e Direitos Humanos poderiam ganhar mais destaque com uma mulher negra à frente do país.

Não é desprezível a necessidade de tentar barrar uma nova "onda global de direita", argumentam aliados. Embora uma eleição não interfira diretamente na outra, o governo brasileiro vê como relevante que um candidato alinhado à extrema direita seja derrotado por alguém que se coloque mais próximo de pautas progressivas, como ocorreu na França, com apoio público de Lula à reeleição de Emmanuel Macron.

Petistas provocam ainda que é difícil imaginar estarem felizes no mesmo momento em que Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente brasileiro é apoiador confesso de Trump, e os dois mantiveram um bom relacionamento enquanto ocuparam as chefias de Estado simultaneamente, em 2019 e 2020. Membros do governo brincam que, "se o bolsonarismo está de um lado, nós estamos de outro".

Mas, se Trump ganhar, tudo bem também, afirmam governistas. Eles usam o exemplo do ex-presidente George W. Bush, republicano, com quem Lula teve excelente relação em seu primeiro mandato, apesar do perfil conservador do texano e de o petista ser, principalmente à época, uma figura de esquerda. O Planalto também afirma que o presidente ligará para qualquer um dos dois assim que a vitória for decretada.

Acho que, [com] a Kamala Harris ganhando as eleições, é muito mais seguro de a gente fortalecer a democracia nos Estados Unidos. Nós vimos o que foi o presidente Trump no final do seu mandato, fazendo aquele ataque ao Capitólio. [...] Como eu sou amante da democracia --acho que é a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir para bem governar nosso planeta--, obviamente fico torcendo para Kamala ganhar as eleições.
Lula, em entrevista ao canal francês TF1+ nesta semana

Para economia, peso é menor

Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Brasil. De janeiro a setembro, foram US$ 29,44 bilhões em exportações, atrás apenas da China e da União Europeia, o que representa um aumento de 10% em relação ao mesmo período de 2023.

Esta relação não deve mudar com nenhum dos dois, avalia a equipe econômica. Apesar do perfil mais protecionista do republicano, membros do governo dizem que as gestões dos Estados Unidos são sempre "pragmáticas" e trabalham em um modus operandi parecido. O governo brasileiro lembra que a relação comercial se manteve estável nas últimas mudanças de presidentes dos Estados Unidos, incluindo Trump.

Pode ser um "efeito Javier Milei", dizem. A aposta é que, com uma possível vitória de Trump, o seu tom de campanha não interfira nos negócios, tal como aconteceu com o presidente argentino, que segue sem boa relação com Lula, mas também sem grande impacto comercial nas relações entre os dois países.

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