Bitcoin tem alta recorde com Trump; o que esperar da moeda?
A volta de Donald Trump para um novo mandato presidencial nos Estados Unidos mexeu com os mercados americanos e internacionais. O bitcoin, criptomoeda mais popular do mundo, vem alcançando nesta quarta-feira (6) suas maiores cotações.
O que aconteceu
Popular criptomoeda disparou. No momento, supera os US$ 74 mil (R$ 458 mil). A princípio, o republicano era contra as moedas digitais. Chegou a dizer que eram "uma farsa", que "não são dinheiro", que eram "baseadas no ar", além de fomentarem o comércio de drogas e outras atividades ilegais.
Trump mudou de opinião. O vice-presidente David Vance é investidor de bitcoin. E o republicano aceitou doações do bilionário Elon Musk, homem mais rico do mundo e entusiasta dos ativos digitais. A partir desse panorama, ele mudou de ideia ao tratar do assunto.
O presidente eleito esteve na conferência bitcoin em 2024. Durante a campanha eleitoral, Trump frisou aos participantes do evento que o cenário seria positivo caso ele voltasse à Casa Branca.
Dólar sobe após vitória
Assim que abriram, às 10h, as Bolsas americanas dispararam por conta da vitória de Trump. O Dow Jones tinha, por volta de 12h, alta de 3,19%. O Russel 2000, que representa ações de empresas americanas em crescimento (small caps), saltava 4,67%.
As empresas mais voltadas para o mercado doméstico americano, as small caps, se beneficiam porque ele promete uma menor regulação e um regime de mais liberdade de ação para elas. Além disso, elas são favorecidas pelas possíveis tarifas de importação que Trump quer impor.
William Castro Alves, sócio e estrategista chefe da Avenue, especializada em investimentos nos EUA
O que pode ser negativo. A alta dos "Treasuries" mostra que o mercado americano já projeta uma subida nos juros. Hoje, por volta de 15h, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), divulga sua nova taxa de juros. Em seguida, Jerome Powell, presidente do Fed, discursa e é esperado que ele comente a vitória de Trump. Analistas entendem que os planos de Trump para restringir a imigração, cortes de impostos e tarifas abrangentes, se promulgados, pressionariam a inflação.
Imigração é outra questão importante. Trump quer, não só impedir a chegada de novos imigrantes, como deportar um número recorde de estrangeiros. E isso também pode fazer a inflação subir. "Se ele cumprir isso, e há grandes chances, já que conseguiu maioria no Congresso e Senado, haverá falta de mão de obra no mercado. Isso eleva os salários e acaba pressionando os preços", explica Claudia Rodrigues economista do C6 Bank.
Sua política também aumenta o risco fiscal. "Os governos republicanos têm essa característica de cortar impostos", explica Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos. Por isso, pode ser necessário subir novamente as taxas para conter essa pressão inflacionária.
Qual o impacto disso em outras economias?
Um dos problemas mais imediatos é a alta do dólar. Nos EUA, diferentemente de outros países, quando a inflação sobe, ou seja, o dólar se valoriza. "Isso acontece com as moedas fortes e o dólar é a mais forte delas: se os preços sobem, os juros aumentam e isso fortalece a moeda", diz a economista. Juros maiores elevam a atratividade do Tesouro americano — a aplicação mais segura do mundo — o que faz o fluxo de investidores migrar do mundo todo para os EUA.
Consequentemente, ao perder investidores, mercados emergentes, como o Brasil, vêm suas moedas desvalorizarem. E não é dó isso: o Brasil também perde com a queda no preço das commodities, os produtos básicos de exportação, como minério de ferro, petróleo, soja, café, algodão, aço. "Com o dólar subindo mais, o comprador precisa de menos dinheiro para comprar a mesma quantidade de produtos de exportação. Por isso os preços desses produtos caem. O petróleo, por exemplo, já apresenta, neste horário, queda de 2,5%.
Na Europa, a moeda comum vem tendo quedas nesta quarta. O euro, em relação ao real, cai quase 2%, para R$ 6,15. Em relação ao dólar, a divisa tem a maior baixa de quatro meses, chegando a valor US$ 1,07. As Bolsas europeias também vêm registrando quedas. "Com essa alta global do dólar hoje, muitos investidores estão vendendo euro para comprar a moeda americana e isso derruba o valor da divisa europeia", explica Gustavo Bertotti, economista chefe da Messen Investimentos.
E a China?
As Bolsas chinesa caíram muito. No fechamento, o índice de Xangai teve queda de 0,09%, enquanto o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 0,5%. As ações de tecnologia da China listadas em Hong Kong tombaram amplamente, com a gigante do comércio eletrônico JD.com e a Alibaba caindo 4% cada uma. Isso porque, para impulsionar a produção americana, Trump promete adotar tarifas de 60% ou mais sobre os produtos importados da China.