Após derrota de Kamala, democratas furiosos culpam Joe Biden
Por Nandita Bose e Jarrett Renshaw e Gabriella Borter
WASHINGTON (Reuters) - Raiva e exames de consciência tomaram conta do Partido Democrata na manhã desta quarta-feira, após a vice-presidente Kamala Harris sofrer uma derrota eleitoral que deixou algumas autoridades do partido e eleitores atônitos.
Kamala era a autodenominada zebra contra o rival republicano, Donald Trump, tendo entrado na disputa há apenas três meses, mas a natureza de sua derrota levou alguns democratas a fazerem perguntas sobre o futuro do partido.
As críticas mais contundentes continham acusações de que o partido mentiu para seus apoiadores sobre a aptidão mental do presidente norte-americano, Joe Biden, até um debate desastroso na TV com Trump, em junho, soar o alarme e, por fim, levar o presidente a sair da disputa.
Um doador democrata perguntou: "Por que Joe Biden continuou por tanto tempo? Ele não deveria ter escondido sua (saúde) e desistido muito antes".
Biden, de 81 anos, disse em particular que achava que era o único democrata que poderia derrotar Trump e prometeu publicamente que estava apto a ser presidente por mais quatro anos. Quando desistiu da disputa em julho, ele afirmou que havia decidido que era "no melhor interesse do meu partido e do país que eu me afastasse".
O anúncio de Biden, em abril de 2023, de que concorreria à reeleição foi recebido com ceticismo por muitos democratas, mas possíveis adversários rapidamente concordaram em participar de sua campanha como conselheiros, em vez de desafiá-lo.
O partido "precisa de uma reinicialização completa", disse o gerente de hedge fund, Bill Ackman, doador democrata de longa data que endossou Trump em 2024, no X.
"O partido mentiu para o povo norte-americano sobre a saúde cognitiva e a aptidão física do presidente", disse, e depois não realizou uma primária para substituí-lo.
A campanha de Kamala preferiu não comentar e a Casa Branca não respondeu a um pedido por comentário em um primeiro momento.
MULHERES E JOVENS ELEITORES
Dois grupos com os quais Kamala contava para derrotar Trump -- jovens eleitores cada vez mais diversificados, que acreditava-se motivados por mudanças climáticas, valores liberais e seu conhecimento de redes sociais, e mulheres preocupadas com a redução dos direitos de aborto sob o comando de um republicano -- acabaram se movendo na direção dele.
A participação geral de Trump entre os eleitores com menos de 45 anos aumentou dois pontos percentuais em relação a 2020, assim como sua participação entre eleitoras do sexo feminino, segundo dados da pesquisa de boca de urna da Edison Research. Trump também aumentou seu apoio em muitas áreas suburbanas, onde os democratas pensavam ter feito incursões.
A mudança ocorreu mesmo com a campanha de Kamala insistindo que a disputa estava acirrada e que ela estava conquistando novos eleitores.
Uma autoridade do Comitê Nacional Democrata disse que estava recebendo mensagens de texto irritadas de membros do partido na noite de terça-feira.
"Eles se sentem enganados pela campanha", disse.
A retórica anti-imigração de Trump também pareceu atingir os eleitores até mesmo em redutos do Partido Democrata, como Connecticut e Massachusetts, espelhando uma tendência observada em muitas democracias liberais, onde os custos elevados de moradia e outros são atribuídos aos recém-chegados.
As propostas econômicas pouco ortodoxas de Trump, incluindo tarifas generalizadas sobre importações, custarão caro para os consumidores e empresas dos EUA, segundo economistas. Seus planos de deportar milhões de pessoas que estão no país ilegalmente afetariam indústrias e comunidades.
Ainda assim, Trump, condenado criminalmente, ganhou com os votos de eleitores latinos e teve vitórias fáceis na Geórgia e na Carolina do Norte, Estados em que os democratas se consideravam competitivos. Construída em torno de uma visão inclusiva dos Estados Unidos e de um apoio fiscal mais forte para as famílias, a campanha de Kamala enfatizou a esperança e a positividade.
O apoio de Biden e Kamala a Israel durante seu ataque a Gaza dividiu o Partido Democrata, com muitos democratas progressistas pedindo, sem sucesso, que os EUA reduzissem sua ajuda militar a Israel. Isso custou votos entre os democratas de esquerda.
(Reportagem de Nandita Bose e Jarrett Renshaw)