Bolsa tem baixa e dólar oscila com suspense sobre corte de gastos
A Bolsa de Valores de São Paulo trabalha em baixa e o dólar oscila nesta terça-feira (5) assimilando o não-anúncio do pacote de cortes de gastos do Orçamento de 2026. O presidente Lula (PT) se reuniu na segunda (4) com sete ministros para discutir uma redução de despesas que investidores e especialistas em contas públicas vêm esperando há semanas, mas nenhuma medida foi divulgada ainda.
Às 11h, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, caía 0,25%, para 130.190 pontos. O dólar comercial, que subia, passou a ter leves momentos de baixa. No momento, tinha pequena desvalorização de 0,03%, vendido a R$ 5,782. O dólar turismo tinha alta de 0,17%, vendido a R$ 6,01.
A decisão da eleição presidencial nos Estados Unidos também está no centro das atenções dos investidores.
O que está acontecendo?
Na segunda (4), o dólar caiu 1,48%, para R$ 5,78. A Bolsa teve o maior avanço diário em mais de um ano e sete meses, com alta de 1,87%, aos 130.515 pontos. A cotação da moeda recuou após ter atingido, na sexta (1), o segundo maior valor nominal da história por causa do nervosismo dos investidores com a demora da administração Lula em anunciar o novo pacote de cortes de gastos.
A expectativa do mercado era que as medidas fossem divulgadas ontem, segunda. "Gerou-se essa expectativa de que o corte pudesse ser divulgado ainda ontem. Haddad procurou acalmar as expectativas dos investidores falando que quem vai fazer esse anúncio é o presidente da República, prometeu que vai ser essa semana. Então, os investidores nesse momento aguardam por maiores detalhes a respeito desse pacote", diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Lula havia se encontrado com sete ministros. Participaram Simone Tebet (Planejamento), Esther Dweck (Gestão e Inovação), Luiz Marinho (Trabalho), Camilo Santana (Educação), e Nísia Trindade (Saúde). Ninguém fez nenhum comentário depois do encontro. O ministério da Fazenda divulgou comunicado afirmando que uma nova rodada de reuniões com ministérios será realizada nesta terça (5).
A expectativa também é pela abrangência dos cortes. "A gente torce para que venha um número decente. O mercado fala em torno de R$ 50 bilhões para estancar o déficit fiscal. Se o número que sair não agradar, o mercado vai piorar ainda mais", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
Por que a expectativa sobre cortes de gastos afeta o dólar e a Bolsa?
O mercado financeiro teme o aumento desenfreado dos gastos públicos primeiro por causa dos efeitos inflacionários. Com mais dinheiro circulando na economia, os preços de produtos e serviços no país sobem, o que sempre leva a um aumento de juros pelo Banco Central. Essa elevação faz com que os investidores abandonem suas aplicações na Bolsa para colocar dinheiro na renda fixa, que passa a pagar mais e tem menos risco. Então, a Bolsa cai.
O crescimento dos gastos alimenta também a preocupação de que o governo não vai conseguir pagar suas despesas. Nesse caso, a administração pública passa a se endividar mais. Com medo de que a dívida cresça demais e fique difícil de pagar, muitos investidores saem do país e preferem aplicar em lugares mais estáveis. Para isso, compram dólares, o que faz as cotações subirem.
Os investidores tentam se antecipar a esses movimentos. Apostando que haverá mais aumentos de juros no futuro e que a dívida pública vai assustar uma parte do mercado cada vez mais, correm para vender ações na Bolsa e comprar dólares para se proteger antes mesmo que as possibilidades acima de concretizem.
Eleição presidencial nos EUA
As eleições americanas também vêm mexendo com a cotação do dólar ante o real e a Bolsa brasileira. A disputa entre Kamala Harris (Democrata) e Donald Trump (Republicano) chegou nesta terça (5) ao momento decisivo, com a abertura das urnas para o último dia de votação. A corrida entre os dois está muito acirrada e com resultado impossível de prever neste momento.
A possibilidade de uma vitória de Trump fez a moeda americana se valorizar ante outras divisas nas últimas semanas. Como Trump tem um programa econômico visto como inflacionário, um eventual novo governo do republicano poderia levar a aumentos de juros nos EUA. A hipótese de elevação dos rendimentos da renda fixa americana fez investidores correrem para deixar seus países de origem e migrar para esse tipo de ativo, movimento que requer a compra de dólares e pressiona as cotações da moeda.
A única coisa que se sabe é que o resultado oficial vai demorar dias para sair. Resultados eleitorais quase totalizados saem na Geórgia, Carolina do Norte e Michigan na noite de hoje, Parciais saem na Pensilvânia, Wisconsin e Arizona.
Até lá, os mercados emergentes devem apresentar muita oscilação. Os investidores, dizem os especialistas, devem se preparar para um atraso no resultado da eleição e para o potencial impacto disso. "À medida que alguns desses estados forem informando seus resultados, poderemos ter uma ideia sobre quem vai ganhar essa disputa. De toda forma, esse ambiente de incerteza contribui para uma postura defensiva, para uma aversão ao risco global, investidores buscando se proteger com ativos mais líquidos e seguros para esse momento, o que fortalece globalmente o dólar", diz Mattos, da StoneX.
Haveria mais dias com o dólar subindo e a Bolsa caindo, com a previsão de juros do mercado (curva de juros) aumentando. É o que diz Paulo Gala, economista chefe do Banco Master. "A demora na apuração seria um cenário parecido com o que a gente já vem vivendo com a possibilidade de Trump ganhar", diz ele.