Eleições EUA: Trump denuncia "fraudes massivas" antes de encerramento da votação
A poucas horas do encerramento das eleições nos Estados Unidos, o candidato republicano, Donald Trump, afirmou que "fraudes massivas" ocorreram na Filadélfia, no Estado da Pensilvânia. O magnata reforçou sua retórica de possíveis irregularidadesnos últimos dias, deixando a entender que contestará os resultados em caso de derrota para sua rival, a democrata Kamala Harris.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Boston
"Há muitas conversas sobre fraudes massivas na Filadélfia", escreveu o candidato republicano em sua rede social, a Truth Social nesta terça-feira. "Os advogados estão chegando", reiterou.
Apesar de a Pensilvânia ser um dos chamados "Estado-pêndulo", que não tem uma preferência partidária definida, a Filadélfia é um importante bastião democrata. A cidade foi escolhida por Kamala Harris para o encerramento de sua campanha na segunda-feira (4), um evento que contou com a participação de estrelas, como a cantora Lady Gaga.
A Pensilvânia, aliás, se tornou um campo de batalha entre os dois candidatos. Nas últimas semanas, Harris e Trump multiplicaram os comícios no local, que conta com 19 delegados entre os 538 do colégio eleitoral. Em 2020, o presidente Joe Biden conquistou este Estado por 50.01% dos votos.
Após a publicação, o ex-presidente não deu esclarecimentos sobre suas alegações de fraude. No entanto, a polícia da Filadélfia indicou às mídias americanas que não está a par de qualquer irregularidade nos locais de votação da cidade.
Trump aceitará "eleição justa"
Ao ser questionado nesta terça-feira se aceitaria uma derrota para Kamala Harris, o candidato republicano disse que o faria "se a eleição for justa". Trump reiterou que acreditava que esse era o caso "até o momento".
Ao longo da campanha, o comportamento do candidato foi outro. Por diversas vezes, o republicano acusou o partido adversário de estar tramando irregularidades para que ele não vença as eleições. No domingo, em um comício em Lititiz, na Pensilvânia, o magnata declarou que não deveria ter deixado a Casa Branca em 2020. O ex-presidente jamais admitiu a derrota para Joe Biden.
Na mesma ocasião, o líder conservador afirmou que os resultados têm que obrigatoriamente sair na noite desta terça-feira. No entanto, especialistas afirmam que, devido à previsão de uma diferença muito pequena entre os votos para cada campo, a contagem dos boletins pode demorar vários dias.
A campanha democrata diz esperar que Trump se declare vencedor antes do final da contabilização dos votos. A estratégia foi utilizada em 2020 e incitou um movimento de contestação que culminou com a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, para impedir que os resultados da eleição fossem ratificados.
Nenhuma perspectiva de acatar derrota
Especialistas entrevistados pela RFI são unânimes em afirmar que o candidato republicano não reconhecerá uma eventual vitória de Harris. Nas mídias americanas, representantes do Partido Republicano desviam das perguntas dos jornalistas sobre a possibilidade. A maioria dos eleitores americanos dos Estados-pêndulo também acreditam que o ex-presidente não acatará resultados que não lhe forem favoráveis, segundo pesquisa realizada pela Universidade George Mason para o jornal The Washington Post no final de outubro.
"Não tem nenhuma perspectiva de Trump aceitar o resultado em caso de derrota", afirma o economista Maurício Moura, professor da Universidade George Washington, e diretor do Instituto de Pesquisa Ideia. Segundo o especialista, o campo mais radical da campanha republicana acredita que o ex-presidente já é vencedor e qualquer outro resultado será visto como fraude.
A professora de Ciência Política da Universidade de Boston, Daniela Melo, tem a mesma leitura e diz que enxerga atualmente uma situação similar à de 2020. "Qualquer pessoa que tenha visto os comícios e as entrevistas de Trump nos últimos dias, sabe que não houve nenhum em que ele não tenha falado diretamente em fraude eleitoral e em supostas tentativas dos democratas de arranjar novos sistemas fraudulentos para roubar seus votos", diz. "Mas é importante lembrar que não há nenhuma prova de qualquer irregularidade até neste momento", ressalta Daniela Melo.