Como limpeza polêmica pode ser tiro de misericórdia em carro muito rodado
A limpeza química da parte interna de motores, conhecida como "flush", pode causar mais danos do que benefícios - especialmente em veículos bastante rodados e que não costumam ser abastecidos com combustível aditivado.
A avaliação é de Everton Lopes, mentor em tecnologia de energia a combustão da SAE Brasil.
De acordo com o engenheiro, a prática é capaz de danificar componentes internos, como bronzinas, anéis e camisa do pistão, trazendo risco até de travamento do propulsor - o que exigiria uma retífica, elevando consideravelmente os gastos com manutenção.
"Não recomendo fazer 'flush', sobretudo se o veículo apresentar alta quilometragem e maior consumo de óleo, por conta do desgaste natural dos componentes internos, com formação de borra", avalia.
Segundo o especialista, o ideal, nesse caso, é desmontar o motor e efetuar limpeza mecânica associada a um produto específico, de forma a retirar todos os resíduos antes de montá-lo novamente e colocá-lo para funcionar.
Lopes explica por que a limpeza química pode ser bastante nociva - ainda mais se não for acompanhada em seguida da troca do óleo lubrificante.
"Quando você realiza um procedimento como esse, a carbonização e outros resíduos que se desprendem das válvulas de admissão e escape e dos pistões costumam contaminar o óleo. Especialmente o carvão traz partículas sólidas que, se ingressarem no circuito de lubrificação, causam riscos, trazendo a possibilidade até de o propulsor engripar e parar de funcionar".
A técnica do "flush" utiliza produtos que podem ser adicionados diretamente no tanque ou no cárter, com o objetivo de remover a carbonização naturalmente causada pela queima do combustível e do lubrificante consumido no processo.
O carbono incrustado nas válvulas, explica Lopes, afeta sua estanqueidade e traz perda de desempenho. No caso do carbono acumulado na cabeça dos pistões, há risco de queima descontrolada, que resulta na famosa pré detonação ou batida de pino - cujo sintoma mais perceptível é um barulho metálico anormal, que pode ser prenúncio de danos no propulsor.
Como evitar a carbonização
Everton Lopes recomenda utilizar combustível aditivado para minimizar a carbonização, embora enfatize que a prática não elimine o problema totalmente.
Enquanto a performance do motor não for afetada, a lista de cuidados inclui seguir o plano de manutenção nos prazos e quilometragens indicadas no manual e abastecer em postos de confiança, para minimizar o risco de colocar no tanque um produto "batizado".
Lopes dá outra orientação: "Nunca utilize óleo do motor que não tenha a especificação recomendada pelo fabricante do veículo e evite colocar aditivos no lubrificante, que já traz os trazem em sua formulação. A mistura de produtos não recomendados pode comprometer a eficácia do óleo e formar borra".
Além disso, nada de "flush". O especialista orienta seguir rodando, sem descuidar das práticas indicadas acima, até chegar a hora de fazer a retífica e a limpeza criteriosa das peças internas após a desmontagem do motor.