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Vidas, casas e memórias levadas pelas enchentes na cidade espanhola de Sedaví

04/11/2024 13h07

A casa de Teresa Gisbert já não tem porta, nem móveis. Destruídos pela lama, estão amontoados em uma rua estreita de Sedaví, enquanto ela tenta salvar alguma recordação de sua casa e parte da província espanhola de Valência. 

"Nasci aqui e perdi tudo", explica a senhora de 62 anos com a voz embargada, entre as paredes vazias desta casa baixa, muito típica das localidades dos pomares valencianos. 

Uma linha escura com mais de um metro de altura mostra o quanto a água subiu na terça-feira nesta casa localizada no centro de Sedaví, cidade de 10.000 habitantes ao sul da capital, Valência, a terceira cidade da Espanha, que dá nome a toda a região. 

Ela e o filho refugiaram-se em um terraço elevado e depois na casa de um vizinho, surpreendidos pela magnitude de uma cheia sobre a qual não tinham sido avisados. 

"Disseram 'alarme de água', mas deveriam ter dito que era uma enchente", lamenta esta mulher sorridente, que oscila entre as lágrimas e palavras afetuosas aos vizinhos. 

"Passamos muito mal. Agradecemos por termos anjos que nos trazem comida, que nos ajudam", explica, apontando para os voluntários. 

Dois deles, vindos de Valência, ajudam a esvaziar um dos quartos onde ainda existem objetos cobertos de lama. 

Enquanto tentam recompor a vida, Teresa e o filho ficam na casa de uma amiga e recebem roupas doadas. 

"Estou lá de favor, porque não tenho nem onde dormir", afirma.

- "Muito difícil" -

Um pouco mais acima, nesta rua atravessada por uma montanha de objetos retirados das casas, Pepita Codina varre os restos da lama que inundou o piso térreo da sua casa. 

A água destruiu a cozinha, a sala de estar e muitas fotografias, mas ela conseguiu fugir com o marido para o andar de cima. "Está tudo aí para jogar fora", lamenta a aposentada de 66 anos, apontando para a geladeira com todos os alimentos que perdeu. 

Mesmo assim, sente que tem sorte porque a morte passou muito perto. A poucos metros da rua deles foi encontrado um corpo arrastado pela correnteza e um vizinho ainda está desaparecido. 

"Uma senhora morta ficou de terça-feira [na rua] até quinta-feira, quando a levaram embora. Isto é muito difícil", lembra Pepita. 

José Ferrandis, outro morador do bairro, nunca pensou que veria uma imagem como esta na cidade. 

"O problema é que veio de repente", diz este homem de 81 anos sobre a rápida subida da água. 

"Meu filho perdeu quase tudo, mas podemos contar com ele", explica resignado.

- Buscas nos estacionamentos -

Depois do choque inicial e dos resgates na superfície, os esforços dos serviços de emergência concentram-se agora nos estacionamentos subterrâneos, onde não é certo se todos conseguiram sair a tempo, considerando que a água subiu  rapidamente. 

Desde o início da manhã, a atividade tem sido constante em frente à Câmara Municipal de Sedaví, onde os bombeiros tentam há horas extrair água de um estacionamento de dois andares. 

Dentro do cordão policial estão agentes, bombeiros e um grupo de psicólogos que acolhem uma mulher que atravessa o posto de controle chorando. 

Quase uma semana após a tempestade que deixou mais de 200 mortos, ainda há muitas incertezas sobre esta tragédia de dimensões ainda não determinadas, embora as aparências atuais já deem uma ideia.

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© Agence France-Presse

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